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03/09/2008 - 11:59

O pão nosso de cada dia e o meio ambiente de todos nós


Escolhi a área ambiental como minha especialização. Sempre que digo isto para alguém, normalmente percebo um ar de admiração em meu interlocutor, acompanhado da expressão “Que bom!”, como a imaginar que a advocacia ambiental esteja necessariamente associada à preservação do macaco guariba-de-mãos-ruivas, do veado-bororó-do-sul ou do Besouro-rola-bosta. Aliás, diga-se de passagem, essas espécies estão na lista daquelas ameaçadas de extinção.

Embora existam pessoas que, de fato, se dedicam a essas causas, tenho a impressão de que impera certo romantismo coletivo quando o assunto é o meio ambiente. Os educadores ambientais admitem isso e até consideram que essa atitude seja necessária no processo de formação da consciência ecológica. Afinal, as ações ambientais efetivas devem nascer no coração antes de serem implementadas pela razão.

Por outras vezes parece que esse romantismo serve apenas para criar a máscara que esconde nossas atitudes em relação ao meio ambiente. Funciona, portanto, como um escudo que impede uma postura autocrítica.

No plano pessoal, a aparência é uma atitude de defesa, de preservação. Afinal, ninguém é a favor da extinção da Jararaca Ulhoa, ou de qualquer espécie da fauna ou da flora. Ninguém é louco de aderir aos “malucos” que estão transformando a Floresta Amazônica em móvel com design Italiano. Até mesmo algumas questões polêmicas, não totalmente esclarecidas, como a transposição do Rio São Francisco, defendida pelo Governo Federal e rechaçada pelos ambientalistas, acabam por ganhar a adesão preservacionista da população em geral, pois, na dúvida e por precaução, é preferível ser contra.

Ocorre que o romantismo pode não deixar que atitudes mais simples, diárias e mais próximas de nossa realidade sejam consideradas. Assim, o consumo incentivado como estilo de vida, a ampliação desmedida e não questionada de tecnologias degradadoras e outras várias posturas, são meros anestesiantes da percepção dos caminhos que estamos trilhando.

Sem pretender censurar, vamos examinar algumas atitudes: . Aceitamos a convocação coletiva do não uso das sacolas plásticas nos supermercados, mas continuamos comprando as embalagens para acondicionamento do lixo. Aliás, levantamos a “bandeira” da reciclagem, mas sequer separamos o lixo orgânico e não orgânico em nossa cozinha.

· Somos levados a consumir produtos da agricultura orgânica, que não usam agrotóxicos, mas somos excluídos desse consumo pelos preços proibitivos.

· Aceitamos a emissão de gases dos escapamentos dos veículos como um dos principais fatores da poluição do ar, mas sequer consideramos a possibilidade de, pelo menos uma vez por semana, usar o transporte coletivo (afinal, nosso transporte coletivo é o caos).

· Temos pavor dos resíduos perigosos, mas nem nos lembramos disso quando se trata de descartar as baterias dos aparelhos celulares que trocamos duas vezes por ano. Também não sabemos o destino das lâmpadas fluorescentes queimadas em nossas casas, que são mais econômicas, mas podem liberar mercúrio se quebradas.

Por isso, sempre que a visão romântica contribuir para a desatenção coletiva com as questões ambientais, defendo que ela deva ser destruída. O Brasil precisa gerar riquezas e estar atento aos problemas tais como o efeito estufa, a camada de ozônio, ao lixo tecnológico e outras questões mais. Fatores como a pobreza, exclusão social, desemprego, fome, saúde e educação, também estão ligados ao meio ambiente.

Não devemos, contudo, acreditar que as soluções estejam tão somente fora de cada um de nós. Pois a análise dos nossos valores pessoais e, principalmente, a revisão de nossos comportamentos e atitudes individuais são tão relevantes e fundamentais como todas as demais questões.

. Por: Cláudio de Castro, Advogado Cláudio Castro

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