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03/09/2008 - 12:00

A morte do agiota

Ele foi um grande homem, tanto no porte como no sucesso empresarial. Constituiu uma grande família, para a qual deixou como herança uma fortuna incalculável. Partiu na idade que deveria, nem tão jovem nem tão velho, principalmente nos dias de hoje.

Teve o respeito e as glórias devidas em vida, mas foi embora como todos irão um dia. Foi muito homenageado na morte, porém pouco pranteado, afinal, um rico quando morre sempre deixa muita gente feliz, principalmente os que lucrarão com a sua partida. O enterro foi de primeira com milhares de coroas de flores, caixão luxuoso, velório chique e tudo mais que o dinheiro pode comprar para suas última despesas na terra.

Neste momento, o grande homem deve estar prestando contas a alguém sobre o imenso pecado que cometeu. A igreja do século XIII estabeleceu que a cobrança de juros seria o maior de todos os pecados, pois o que se está vendendo é o tempo em que o dinheiro fica sobre a guarda de outro e isto é algo que pertence somente a Deus. Inventado pelos fenícios, no começo o dinheiro não tinha a menor importância, o que existia era o escambo, as permutas. A partir do século XIII, com o início das viagens, das Cruzadas, a moeda começou a se tornar uma necessidade para os viajantes. Logo, virou mercadoria e muita gente — os chamados “agiotas” — começou a negociar dinheiro e tempo, vendendo, assim, o que anteriormente pertencia somente ao Supremo.

Novos tempos, novos deuses, o atual chama-se dinheiro. Antigamente todo povoado iniciava-se com uma capela. Já, Brasília a primeira grande cidade do pós-guerra, teve como seu primeiro prédio o Banco do Brasil, o que talvez venha a explicar os juros praticados hoje em nossa terra.

Não vou falar do homem, não vou falar do empresário, não vou falar do seu sucesso. Só vou falar que se existisse o purgatório, criado pela Igreja para abrigar aqueles que cometeram alguma coisa errada durante a vida — principalmente a usura —, este lugar, com certeza, estaria recebendo hoje mais um hóspede que comercializou aquilo que só a Deus pertence. Infelizmente para este comerciante, no local onde ele está agora, o dinheiro nada mais poderá comprar. Nesse momento, só resta a ele esperar... Esperar para pagar o tempo que vendeu a muitos.

. Por: Sylvia Romano, advogada trabalhista, responsável pelo Sylvia Romano Consultores Associados, em São Paulo. E-mail: [email protected] .

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