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04/09/2008 - 11:46

O ser e o nada na inovação

Mais do que nunca, a humanidade precisa, de modo responsável na saga da sobrevivência, subverter os conceitos do processo produtivo. Do mesmo modo que se revolucionaram, ao longo de décadas, as visões sobre meio ambiente, relações trabalhistas, qualidade e tecnologia, a presente civilização depara-se com o desafio de adequar os arquétipos produtivos às duras realidades da escassez de recursos naturais, das assimetrias de renda e desenvolvimento, dos ecossistemas ameaçados e também das oportunidades abertas no âmbito da economia globalizada.

Ah, sim, e não se pode esquecer que, independentemente dos novos padrões de consumo e competitividade, o Hommo sapiens continua buscando a sua essência, que transcende a simplesmente fazer parte da roda-viva em que se pode transformar o dia-a-dia. Tais objetivos tornam absolutamente atual “O ser e o nada” (1943), com o qual Jean-Paul Sartre praticamente estabeleceu o marco inicial do existencialismo francês. Como se sabe, a idéia essencial da antológica obra é que o ser humano deve estar sempre consciente, a começar de si próprio. O homem que se recusa a tomar consciência de seu próprio ser perde-se naquilo que Sartre chamou de “má-fé”, que seria abdicar da própria liberdade de existir, criar, ousar, viver...

Aplicado ao contexto da sociedade contemporânea — ou do inconsciente coletivo, como definiria o suíço Carl Gustav Jung —, o alerta filosófico de Sartre é uma expressiva referência sobre as opções e riscos existentes entre a mesmice e a coragem de exercitar a consciência num novo paradigma para a produção. Uma nova revolução industrial! Nesta, o design tem o mesmo peso e valor da tecnologia, não se restringindo a um conjunto de conceitos e normas para a qualidade e muitas vezes para a própria gestão. Vale lembrar o desabafo de Bill Gates, ao dizer que inveja o seu concorrente Steve Jobs – representação perfeita desse atual momento em que se questiona o real caráter da “inovação”.

Entender todo esse processo de transformação é essencial para que a indústria, em todos os segmentos, e os designers brasileiros possam capitalizar com mais êxito as claras oportunidades que se abrem à sua capacidade criativa e às alternativas de produtos, serviços e tecnologia que nossa inteligência possa prover. Basta olhar, por exemplo, para as sensíveis mudanças que ocorrem nos tradicionais fornecedores italianos de design para a indústria automobilística e os deslocamentos nos eixos, inclusive geográficos, dessa grande cadeia produtiva. É importante compreender os movimentos do mercado, como a compra da Jaguar e da Land Rover pela montadora indiana Tata e o assédio desta à Pininfaria, a antológica empresa italiana de design, responsável por alimentar o caráter lúdico das expectativas de consumo de indivíduos de todo o mundo.

Participar como protagonista desse novo momento da economia mundial exige incessante busca de conhecimento. Somente assim é possível dar um profundo mergulho na inovação. A contribuição das empresas deve extrapolar a industrialização, abrangendo, além das solicitações especificas dos clientes e consumidores, propostas mais eficazes para se relacionar com eles e os seus desejos, muitos deles até desconhecidos. Um verdadeiro processo de inovação só acontece se conduzido com paixão e incansável determinação. Deve ser uma ruptura capaz de conseguir tocar no cerne das organizações, nos seus valores e na sua postura frente aos obstáculos e desafios.

O Brasil, a despeito do câmbio sobrevalorizado, tem conseguido manter boa performance na balança comercial. Sabemos, contudo, que boa parte desses resultados advém das commodities e de indústrias nas quais temos vantagens competitivas já consolidadas, como a de aviões. Já passou da hora, contudo, de assumir uma postura mais ousada, acrescentando à nossa pauta de exportações uma gama mais ampla de produtos e, sobretudo, serviços, soluções e conhecimento.

A consciência disso seria um grande passo. Sem rupturas, sem ousadia e irreverência, a inovação nada é, pois ficaria limitada à releitura e repaginação de modelos preconcebidos. "Isto não é um cachimbo", como, sabiamente, Magritte escreveu em uma de suas telas.

. Por: Esther Faingold, CEO da Mueller - fabricante de conjuntos de material plástico para indústria automotiva e de informática

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