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Sujeitos Ocultos

"E não esquecer que a estrutura do átomo não é vista, mas sabe-se dela.Sei de muita coisa que não vi.E vós também.Não se pode dar uma prova de existência do que é mais verdadeiro,o jeito é acreditar.Acreditar chorando." Clarice Lispector. Começar um escrito tomando o escrito de alguem para início de conversa é quase um roubo declarado,mas aqui faz todo sentido a frase da Clarice e ainda, ela mesma faz todo sentido: O que escreveria/sentiria Clariece num Rio de Janeiro,em janeiro de 2007?

Retornava de uma cidade Serrana nos primeiros dias de janeiro e o caminho pela Linha Amarela trouxe a cena de soldados e soldados armados pela rua. O Exército na rua: A cidade presa dentro de casa...E os relatos da violência e do medo num crescendo que beira o comum.Comum?! É comum tantos soldados na rua? É comum não saber ao certo quem é o bandido,se a polícia ou o criminoso? É comum tantas medidas de segurança que não dão cabo da segurança?? É comum seguidas manchetes estampando a violência com atrocidades cada vez maiores,sitiando nossa vida e coração?? É comum arrastar até morte uma criança de seis anos? É possivel crer que a cena urbana que se vive hoje vai mudar?

Em outro momento,próximo ao natal (sim,no natal,aquele momento de confraternização e humanidade que celebra o amor entre todos...) num final de tarde chuvoso ( e estranho frio para o clima tropical que arde na região metropolitana do Rio,em São Gonçalo) me dei conta dos tantos sujeitos ocultos que somos: uma menina-jovem de 16 anos estava na calçada, deitada, passando mal.Seguia meu destino de carro quando me indaguei " Caramba, ninguém ajuda aquela menina na calçada " e numa fração de segundos voltei: "alguém" pode ser eu. Eu sou o sujeito oculto. E a ré do veículo me trouxe um turbilhão de emoções que me falavam da estrutura do átomo.A menina em questão estava grávida, vendendo mais um artigo inusitado no sinal de trânsito, nesta selva que ainda chamamos de cidades.

Mais do que acreditar que a mudança vem, hoje precisamos tambem de tomadas de atitudes,ou então,seremos todos sujeitos ocultos: ocultos para vida e para as possibilidades de se viver,de fato e realmente.Assim crendo,é localizar o que pode ser feito na dimensão de cada um de nós.Não existe Governador bem intencionado e cheio de energia,não existe tratados institucionais entre as esferas de poder , não existe toda inteligência científica a serviço das polícias e nem todo armamento que possa reunir no paiol:embora sejam medidas necessárias,não bastam. É preciso que nós, sujeitos ocultos assumamos nosso papel e localizemos na estrutura do átomo o que pode de fato ser feito.O que fazer?? Esta deve ser a indagação de cada um e a resposta é o início de um tempo que dará cabimento na história, a morte dolorosa do João Hélio. Uma sociedade que chora a fatalidade deste fato como estamos chorando,é a mesma sociedade poderosa que pode deixar de ser sujeito oculto e provocar uma mudança: pela Educação, pela Cultura.

Por uma Cultura da Paz que envolva ações orquestradas em todos os Centros de Educação e Cultura que temos:As ESCOLAS. É na Escola que está a primeira resposta. Toda cidade brasileira, todas as cidades do Estado Fluminense tem uma escola.Todos os bons e maus,passam por uma escola.Todos. Se o Secretário de Segurança não sentar com o Secretário de Educação e a equipe da Cultura,não será acertado seu eficiente plano para "atacar" a violência. E hoje,pelas tantas falências que assistimos, a transversalidade das ações é que trará os resultados necessários (e urgentes) que precisamos. Cultura de Paz.Cultura da Paz. Educação transformadora. Reunir Educação e Cultura (com agendas contínuas e atraentes de arte-educação em todas as escolas e nas comunidades) é a grande primeira arma de forte calibre para dar conta desta guerra e todos podem ter acesso ao porte desta arma sem burocracia.

É uma medida antiga?Antiga de quando? Já foi de FATO utilizada?? Educação e Cultura já foram prioridade am algum governo? Os bandidos de hoje,viveram o que nas escolas décadas antes?O que estamos fazendo hoje para mudanças reais,décadas a frente? Deixar de ser sujeito oculto e registrar seu nome na História:ou isso,ou não teremos história para contar. Nós somos a memória que vivemos e a responsabilidade que temos.O que faria Clarice?

. Por: Cleise Campos Historiadora / Atriz Bonequeira São Gonçalo, em15 de Fevereiro Em 2007

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