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12/09/2008 - 09:43

Adivinhar é o nome do jogo


É sempre muito difícil fazer previsões, especialmente sobre o futuro, sentenciava Mark Twain. Dito de outra maneira, é sempre difícil fazer prognósticos sem saber o que irá acontecer daqui para a frente, complementaria o sábio conselheiro Acácio.

Em maio deste ano, com a crise do subprime já com boa quilometragem, os magos da bola de cristal falavam num índice Bovespa de 80-90.000 pontos para o final do ano. Pode ser que não tenham se enganado, mas apostar hoje no erro deles não parece ser um ato de ousadia intelectual.

Outros arúspices falavam na cotação do petróleo entre 150 e 200 dólares o barril já no final deste ano. Pode se tratar de uma verdade mas tudo indica que seja uma verdade com a data errada. Não se trata de ridicularizar as previsões, basta reconhecer que a realidade é infinitamente mais complexa do que os modelos elaborados pelos 'achólogos', na tentativa de descrever o comportamento de determinadas variáveis.

Muito se falou também sobre o dólar. Derrubado pela ação de “maldosos especuladores” ele iria cair até 1,55 ou 1,50 e só não passaria disso por milagre. De repente, todo o mundo, incluindo os “maldosos especuladores”, deu-se conta que o mundo está em crise, que a solidez do Brasil talvez não seja tão ‘sólida’ e que o fluxo internacional de divisas de torrente irresistível estaria se tornando um inocente riacho, prestes a inverter sua tendência – querem os mais afoitos. O crescimento chinês ficaria limitado a um dígito e o apetite do mundo por commodities estaria passando pelos rigores de uma dieta severa. Pronto. Eis que o dólar se encaminha para níveis mais altos, num ritmo ditado pelo frenesi das posições desfeitas às pressas. Qualquer afirmativa quanto à trajetória futura do dólar não merece mais do que um olhar distraído. Nem por isso os palpites irão rarear. O Copom isso, o Copom aquilo.

Para complementar o quadro de insegurança, Nossopresidente traz sua preciosa contribuição. Com as mãos sujas do óleo do campo de Jubarte, após tecer elogios à gloriosa Petrobrás, acena com modificações que ninguém – nem ele, possivelmente – sabe quais serão. A Petrobrás deveria, doravante, raciocinar não como empresa e sim como agência de fomento. Se comprar mais caro no mercado local, isso não terá importância, dado o salto para a frente da indústria. Já ouvimos coisas assim quando da gloriosa Lei de Informática.

Incomodado pelo fato de 60% dos dividendos da Petrobrás serem pagos a acionistas em Nova Iorque – sabe-se lá de onde tirou esse dado – Nossopresidente acalenta sonhos noruegueses. Vale a pena lembrar que as ações da Petrobrás negociadas na forma de ADR resultaram de chamadas de capital, no passado, e em decorrência de inúmeras trocas de mãos foram parar lá fora. Detalhe: as tais chamadas de capital possibilitaram a realização de investimentos, ou não? A presumida fortuna, cujo valor oscila ao sabor dos comícios, também deve seu descobrimento aos aportes de capital de terceiros. Dar um chapéu, preservando as regras do jogo, parece uma tarefa cuja consecução é de difícil prognóstico.

Nossa inflação merece um acompanhamento rigoroso e as pesquisas Focus é um precioso indicador de coisa alguma. Serve quando muito para um treinamento na conta de somar palpites e dividir o valor obtido pelo número de palpiteiros. Chamem a isso o método de Delphi se preferirem.

Enquanto isso, afugentados pela perspectiva de uma crise mundial, os “malditos gringos” batem em retirada, os fluxos monetários desestabilizam o Real, e por algum tempo, deixaremos de ser uma ilha de tranqüilidade no mar proceloso dos mercados de capitais globalizados. Trichet disse, Bernanke afirma, o FMI questiona e entre apelos a calma e raivosos “bem que avisei”, algumas embarcações fazem água. Há quem vaticine uma crise nos padrões de 1929; para outros trata-se de ajustes técnicos. Ambas as explicações de pouco adiantam aos que descobrem sua condição de ex-ricos. A busca por projeções confiáveis continua. Catastrofistas e otimistas concordam num ponto: O mundo (ainda) não acabou.

Em suma, prognósticos infalíveis tem de ser procurados em outro guichê; resta-nos acreditar nas previsões, arcando com o custo da credulidade. Até lá, uma ou outra bola de cristal passará por manutenção corretiva. A verdade, como sempre mudará de dono, até alinhar-se com a realidade, após diversos undershoots e overshoots.

. Por: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de ´Almanaque Anacrônico`, ´Versos Anacrônicos`, ´Apetite Famélico`, ´Mãos Outonais`, ´Sessão da Tarde`, ´Desespero Provisório` , ´Não basta sonhar` e o livro/peça ´Um Triângulo de Bermudas`. (Ed. Totalidade). Confira nas livrarias Cultura (www.livrariacultura.com.br), Saraiva (www.livrariasaraiva.com.br), Laselva (www.laselva.com.br) e Siciliano (www.siciliano.com.br).| E-mail do autor: [email protected]

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