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24/09/2008 - 11:09

Financiamentos politicamente corretos

A ONG holandesa Bank Track divulgou, recentemente, um relatório sobre as políticas dos bancos brasileiros no universo do Terceiro Setor, enfocando as iniciativas de caráter socioambiental. Objetivo do estudo é definir se essas instituições adotam procedimentos adequados nas relações com sete áreas sensíveis e estratégicas para a sustentabilidade: agricultura, mineração, petróleo e gás, florestas, pesca, barragens e indústria militar. O trabalho é importante, considerando a elevada capacidade de influência do mercado financeiro nos rumos, posturas e tendências da economia globalizada.

Na primeira edição da pesquisa, realizada em 2005, a entidade analisou 39 organizações. Agora, o número foi aumentado para 45, possibilitando uma visão mais ampla da questão. Segundo o novo relatório da Bank Track, os bancos brasileiros têm avançado na área da sustentabilidade, o que é significativo, considerando ser fundamental que as empresas de todos os setores engajem-se em projetos voltados à preservação e à melhoria do ambiente e da qualidade da vida.

Embora a conclusão do relatório aponte a necessidade de avanços mais consistentes do setor bancário nacional na área ambiental, são positivos os indicadores referentes à adesão a regras internacionais e políticas coletivas, em especial no tocante aos Princípios do Equador. Como se sabe, estes foram criados, em junho de 2003, pela International Finance Corporation (IFC), organismo vinculado ao Banco Mundial que concede financiamentos a projetos da iniciativa privada. Seu conteúdo é um conjunto de diretrizes socioambientais a ser adotado pelas instituições financeiras em operações de financiamentos a empresas, superiores a US$ 50 milhões. Também se notam alguns avanços no apoio a ong´s e projetos de inclusão social, cultura, esportes e profissionalização, além de questões como a declaração de que financiamentos não serão concedidos a empresas e pessoas ligadas a denúncias de trabalho escravo.

O posicionamento dos bancos no contexto da responsabilidade socioambiental chamou-me particular atenção recentemente, quando assisti, no Palácio de Versailles, em Paris, à Conferência de Desenvolvimento Sustentável e Filantropia, à qual estavam presentes numerosas personalidades, dentre elas Wangari Maathai, ecologista queniana vencedora do Prêmio Nobel da Paz 2004, e Kofi Annan, de Gana, ex-secretário-geral das Nações Unidas. O evento foi promovido pelo francês banco BNP Paribas, que anunciava dois prêmios: um para filantropista na área de desenvolvimento sustentável e menção honrosa para voluntário ligado a projeto social. Também instituiu a Orangerie Foundation for Individual Philantropy, destinada a selecionar projetos do Terceiro Setor dos quais seus clientes possam participar, e o Philanthropists' Club, para a troca de informações e experiências nessa área.

Percebi, no evento, a preocupação dos voluntários e do Terceiro Setor europeus quanto à África, cujos problemas, na maioria das nações em maior proporção, são análogos aos latino-americanos: fome, precariedade do ensino e da saúde, higiene, corrupção e violência. No combate a esses sintomas do subdesenvolvimento, as ong´s européias que atuam na África buscam modelos como o microcrédito para criar pequenos empreendedores, prêmios institucionais para governantes que não praticarem a corrupção e até mesmo programas didáticos sobre gestão estatal e governabilidade.

Não apenas nas exposições brilhantes de Kofi Annan e Wangari Maathai, que abordaram a necessidade de resgate da dívida social da África e do mundo, mas toda a programação do evento de Paris culminou em instigante síntese: empresas de todos os setores têm papel cada vez mais decisivo na causa da preservação ambiental e da erradicação da miséria.

No caso dos bancos, além de sua participação direta em projetos, como os que vi em Paris, ocorre-me a possibilidade de uma notável contribuição: à medida que empresas inescrupulosas e irresponsáveis quanto à sustentabilidade, aos compromissos com a sociedade e ao marco legal não tiverem acesso ao crédito, haverá proporcional saneamento do mercado. Assim, paralelamente às análises de risco de inadimplência e segurança nos empréstimos, as instituições financeiras podem incluir critérios de responsabilidade socioambiental nos processos decisórios relativos à concessão de financiamentos.

. Por: João Guilherme Sabino Ometto, engenheiro (EESC/USP), é vice-presidente da Fiesp, presidente do Grupo São Martinho e membro do Conselho Universitário da Universidade de São Paulo.

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