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24/09/2008 - 11:18

A política industrial e a (des)construção do futuro

O Brasil é o pródigo em perder oportunidades. A formulação de “nova” política industrial é um exemplo claro. De maneira totalmente inconsciente, o Presidente Lula demonstrou o porquê disso ao discursar sobre a política industrial. Elogiou longamente o governo de Juscelino Kubitschek e até os militares. Por quê? Como geraram políticas públicas de crescimento? Um elemento fundamental: o Presidente Kubitschek e mesmo os governos militares tinham uma clara visão de futuro.

Ter um projeto claro para o futuro é essencial para inspirar seguidores, coordenar e integrar esforços, reduzir incertezas, exigir sacrifícios e mobilizar talentos e recursos. Não precisamos concordar com os objetivos dos governos militares para reconhecer que naquele período o País cresceu de maneira rápida e eficaz. Mas foi, sim, a visão integrada de um projeto de país no futuro, um elemento fundamental, que ajudou este crescimento a se concretizar.

Quando olhamos para o desempenho recente, vê-se que o Brasil cresceu menos que todos seus vizinhos latino-americanos e que cresceu muito menos do que os organizados e objetivos países asiáticos. O país, claramente, não tem um mapa estratégico de aonde quer chegar.

A “política” industrial atual é imediatista e não traz efeitos estruturais permanentes. Estimula essencialmente setores que, como o automobilístico, já estão bastante aquecidos, e terá como efeito apenas acelerar momentaneamente seu crescimento, sem resultados mais duradouros. Exacerbando o risco de inflação, vai requerer em médio prazo outra medida contrária, de “resfriamento” do consumo.

Nem tudo está errado, pois a política geral do governo, acertadamente privilegiando a distribuição de renda, aumentou o poder aquisitivo e a qualidade de vida da população mais carente. Infelizmente isto se fez por mecanismos inadequados, pois aumentar a carga tributária para distribuir dinheiro via aposentadorias também é medida assistencialista, demagógica e improdutiva. Gerou apenas um boom de consumismo e uma bolha de crédito que vai nos prejudicar no futuro.

Aumentar o número de empregos públicos é outra política que claramente prejudica a produtividade global do País. O investimento fundamental, com resultados duradouros de longo prazo, não está sendo feito. Devem-se criar empregos com investimento em infra-estrutura de transporte, energia, saúde e educação.

É indispensável investir pesadamente na educação, atingindo, em curto prazo, 100% de jovens matriculados no nível médio ou no ensino técnico, ao invés de despejá-los despreparados num mercado de subemprego, funcionalmente analfabetos após cinco ou seis anos de “estudo”. É necessário melhorar drasticamente a qualidade do ensino fundamental (não devemos pagar mais aos professores ruins, mas sim qualificá-los e premiar o bom desempenho) e investir nas universidades, exigindo maior empenho destas em efetivamente repassar o conhecimento gerado para o setor produtivo.

O Programa de Estudos do Futuro tem realizado desde 1980, inúmeros trabalhos articulando necessidades, objetivos e propostas para o País nestas áreas, aplicando técnicas específicas de construção do futuro mediante projeção de cenários, estudos de tendências e impactos sócio-econômicos de novas tecnologias.

Sabemos que é possível criar um consenso mínimo acerca de reais e concretos objetivos nacionais, que se não contém formulas mágicas, criam um norte para o desenvolvimento sustentado e crescente. Acreditamos que é um grande erro conceber iniciativas políticas sem a aplicação de técnicas apropriadas de previsão dos seus objetivos e impactos de longo prazo, pois para chegar a um destino desejável, precisamos construir com qualidade um projeto do futuro para nosso País.

. Por: James Wright - brasileiro, professor da USP e coordenador do Programa de Estudos do Futuro da FIA – Fundação Instituto de Administração.

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