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30/09/2008 - 11:35

A crise chegou

O mercado financeiro norte-americano vinha apresentando sinais problemáticos há mais de um ano, quando surgiram as primeiras indicações de problemas de inadimplência no ramo dos empréstimos hipotecários de alto de risco. Mas agora, estamos no olho do furacão da crise, uma crise de gravidade severa. Algumas semanas atrás, o grande divisor de águas entre “turbulência” e “crise sistêmica”: a quebra do Lehman B e a mega-operação de salvamento da seguradora AIG. Agora, o governo se apressa para impedir o agravamento da situação, mas a dificuldade de aprovar um plano de salvamento envolvendo cerca de 700 bilhões de dólares é patente. No Brasil, o crédito secou até mesmo para operações de altíssima segurança, como as linhas de comércio (trade credit).

Maus augúrios.

Falta de regulação prudente e juros reais muito baixos na era Greenspan explicam a catástrofe. Mas isto já é história. As duas perguntas relevantes agora são: o que fazer? e como o Brasil se sairá diante deste “admirável mundo novo”?

Está muito claro que: primeiro, é urgente começar o redesenho dos mecanismos de regulamentação dos mercados financeiros (como diria o saudoso Carlos Diaz-Alejandro, “precisamos de mais repressão financeira”); segundo, é preciso aprovar urgentemente um pacote que evite o desmoronamento do mercado de crédito sem onerar demais o bolso do contribuinte.

Uma opção à recompra com dinheiro público dos ativos podres, proposta pela administração Bush, é transformar a dívida das instituições que estão em dificuldades em ações para seus credores, que passariam a ter grande interesse em ver as instituições se soerguerem do lamaçal onde se encontram, e desistiriam da opção, para eles mais fácil, do salvamento generalizado via governo. Deste modo, o custo da operação de salvamento recairia pesadamente sobre quem brincou de roleta russa, e não sobre o contribuinte. Resta saber se será possível resistir ao forte lobby dos banqueiros. Como disse o proponente da medida que prevê a troca de dívida por ações (o economista Luigi Zingales), é preciso neste momento “salvar o capitalismo dos capitalistas”.

E como a crise nos afeta? Com uma quase certa recessão nos EUA e uma desaceleração do crescimento mundial, cairão nossas exportações ao mundo e o preço das nossas exportações. Esta queda, contudo, não deve ser catastrófica, dado que é provável que economias emergentes como a China sofram pouco com a desaceleração americana devido à sua capacidade de financiar investimentos com poupança doméstica.

O principal canal de transmissão da crise para a economia brasileira deve se dar via contração do crédito externo, que nos forçará a uma redução do déficit em conta corrente que vem financiando nosso boom de investimento. Sem este financiamento, apenas um grande ajuste fiscal casado com uma nova reforma da previdência evitariam uma retração dos investimentos ao aumentar a poupança doméstica. Como não vejo nada neste sentido na pauta do atual governo, minha previsão é de crescimento bem mais baixo em 2009, algo na casa dos 3 a 3,5%. Como conseqüência direta da esperada retração da atividade mais à frente, não vejo necessidade de o BC continuar apertando a política monetária daqui em diante. Mais um aperto de 50 pontos na próxima reunião seguido de uma estratégia de parar para ver os efeitos da crise seria o ideal.

. Por: Carlos Eduardo Gonçalves, professor do Departamento de Economia da FEA-USP e economista do Grupo de Conjuntura da Fipe | (E-mail: [email protected]). / FIPE

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