Página Inicial
PORTAL MÍDIA KIT BOLETIM TV FATOR BRASIL PageRank
Busca: OK
CANAIS

30/09/2008 - 11:35

Manter camada do pré-sal como reserva estratégica


Que destino dar ao petróleo e gás, descobertos pela Petrobras e outras companhias, enquanto furavam poços no campo, hoje demarcado pela estatal brasileira, e conhecido como Tupi, localizado na Bacia de Santos, na plataforma marítima brasileira? Este tem sido o tema preferido, em discursos recentes, feitos quase sempre de improviso, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O tema, no entanto, não é exclusividade do presidente Lula. Cada vez mais, a mídia tem cedido espaço a analistas, especializados ou não, em petróleo e em energia, para abordá-lo. De tal sorte que ele fez parte, embora indiretamente, até mesmo do desfile militar do Dia da Independência, durante o qual a Petrobras foi atração principal.

A todo o instante, a opinião pública brasileira recebe as mais diversas sugestões sobre o que fazer com o petróleo e o gás contidos na camada do pré-sal do Campo de Tupi.

Alguns acham que tal descoberta é, no linguajar de gerações mais antigas, a “salvação da lavoura”. Outros aconselham que os recursos, a serem obtidos com a venda futura das reservas de óleo e gás, sejam integralmente destinados à educação e à redução da pobreza no País.

Em outras palavras, o raciocínio – totalmente simplista – contido em tais propostas é o seguinte: se Petrobras e outras companhias procuravam petróleo e gás, em determinada região da plataforma marítima, e conseguiram achá-los em dobro (em camadas convencionais e antes dela, ou seja, no pré-sal) o que vier a ser tirado de lá, que exceder o planejado, é lucro. E como tal pode e deve ser aplicado nas áreas mais carentes de investimentos sociais.

Colocada dessa forma, quem, em sã consciência, pode ser contra tal proposta? Acontece que boas intenções e discursos ufanistas não bastam para mudar a realidade. Se bastassem, as nações mais desenvolvidas do mundo seriam aquelas detentoras de maiores jazidas de riquezas minerais em seus subsolos.

O que, em geral, a realidade nua e crua nos mostra é exatamente o contrário. Os países mais avançados são aqueles que, independentemente de terem ou não reservas minerais, investem seletivamente em educação e saúde, em distribuição de renda, em geração de emprego e em tecnologia.

Além disso, para transformar óleo e gás, contidos na camada do pré-sal e no restante do Campo de Tupi, em recursos disponíveis, serão necessários, no mínimo dez anos, podendo chegar a 20 anos; e a aplicação de nada menos do que US$ 600 bilhões, ou seja, pouco menos da metade do PIB brasileiro, estimado pelo Banco Central, em US$ 1,3 trilhão, em fins de 2007.

A boa notícia é que o Brasil tem tecnologia para extrair óleo e gás contidos em jazidas que estão em profundidades (lâminas d’água, no jargão técnico) de mil, dois mil, três mil metros e até mais. Sim, nós temos essa tecnologia, desenvolvida graças à capacitação técnica dos profissionais da Petrobras.

Apesar disso, levando-se em conta as perspectivas de crescimento de fontes mais limpas de energia, em razão da necessidade de reduzir as emissões de gases poluentes, como etanol, biocombustíveis, energia eólica, solar, geotérmica e até mesmo das marés, o mais aconselhável e prudente é manter essa riqueza (óleo e gás) como reserva estratégica.

Pouca gente sabe que os Estados Unidos, por exemplo, têm reservas de carvão, não usadas, capazes de suprir as suas atuais necessidades de energia primária durante cinco séculos. Mais do que isso: enquanto outros países desenvolvidos mantêm estoques estratégicos de derivados de petróleo (gasolina, diesel, nafta e óleo combustível) por três meses, os americanos os mantêm pelo dobro do tempo.

Outro exemplo: na década de 80, após o segundo choque do petróleo, ocorrido em 1979, todos os países desenvolvidos investiram na melhoria dos seus processos industriais, adaptando-os para usar bem menos petróleo e derivados, com sucesso.

O Brasil negou-se a fazer isso. Resolveu investir na produção de mais álcool, para misturá-lo à gasolina, o que foi correto, mas insuficiente.

Querer antecipar a exploração das reservas do Campo de Tupi, como foi feito, no período 1979-89, com o petróleo e o gás da Bacia de Campos (RJ), é, de certa forma, repetir o erro, necessário naquela época, em que o País produzia aproximadamente 250 mil barris de petróleo por dia, para um consumo diário de um milhão de barris; mas não hoje, quando a Petrobras importa apenas esporadicamente e pouco óleo bruto.

. Por: Miguel Ignatios é presidente da Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB).

Enviar Imprimir


© Copyright 2006 - 2024 Fator Brasil. Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Tribeira