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07/10/2008 - 09:22

A trajetória de uma recuperação

Um dos maiores problemas sociais do século, a drogadição atinge a todos os setores da sociedade.

“Eu não tinha mais ninguém na vida, estava sem emprego, me sentia perdido e abandonado. Perdi tudo”. Este depoimento reflete a história de ascensão e queda de um dependente químico. O autor das palavras é o ex-usuário de entorpecente Flávio Lemos, que utilizou a sua experiência de vida como combustível para ajudar outras pessoas que passam pelas mesmas dificuldades enfrentadas por ele durante anos de sua vida: o consumo desenfreado de drogas. O fruto da sua experiência é a Casa de Recuperação Água da Vida (Cravi) que há 11 anos promove o restabelecimento social de dependentes químicos através de um programa na modalidade de Comunidade Terapêutica, que prioriza num processo sócio-educacional o desenvolvimento, a conscientização e responsabilização, o resgate da cidadania com a reinserção social da pessoa.

A proposta da Cravi para o seu residente é de uma vivência comunitária, num ambiente seguro e democrático e com uma abordagem psicosócio-espiritual, “Muitas vezes o dependente químico não se sente inserido no ambiente social em que vive devido a sua relação com a droga. Por isso, aos poucos, ele exclui e se exclui, é marginalizado. O que fazemos é reproduzir uma sociedade para que ele possa resgatar as suas potencialidades e habilidades”, explica Lemos, coordenador da Cravi. Através da interatividade da pessoa com os pares é desenvolvida a sua consciência de realidade, passando a assumir responsabilidades, desenvolver capacidades sociais e interpessoais positivas, e construir novas maneiras de pensar, sentir e agir, integrando-se na comunidade como cidadão ativo. Assim, ele pode transformar a sua realidade, sair do lugar de “drogado” para um viver autônomo.

Política nacional Antidrogas - Inserido num contexto maior, a proposta de Comunidade Terapêutica, apesar de reconhecida pelo Ministério da Saúde, não compõe as diretrizes da política nacional Antidrogas, ou no máximo em alguns estados do Brasil está alocada numa rede de apoio complementar a assistência ao dependente químico. O programa proposto pelo Governo Federal e amparado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) é o Centro de Atenção Psicossocial (Caps), que reconhece a estratégia de redução de danos como medida de intervenção preventiva, assistencial, de promoção de saúde e direitos humanos. Em outras palavras, a política pública de tratamento ao usuário é atendê-lo sem internações. “Ao determinar o Caps como modalidade única de tratamento pelo SUS, não há outras opções na rede pública que sejam efetivas na atenção ao dependente químico, o que contradiz o próprio discurso da Política Nacional Antidrogas do Ministério de Saúde, quando comenta sobre atendimentos de vidas humanas e a obrigação de atentar para as singularidades”, diz Lemos, que complementa, “tal situação é uma política que se configura fora da realidade, descolada do cotidiano dos brasileiros que sofrem por não terem escolhas tendo que viver o desamparo por parte do Estado”.

E numa realidade em que as drogas estão cada vez mais próximas das casas das pessoas de todas as faixas sociais, é preciso normatizar os tratamentos e as medidas de prevenção para que se obtenham resultados. Principalmente neste momento, em que o consumo do crack cresce e devasta as pessoas em tempo recorde. “O crack potencializou a obsessão e a dificuldade de um dependente químico”, afirma Lemos. Segundo dados divulgados pela Secretaria Nacional Antidrogas (Senad), a região Sul possui 4,4% de sua população como usuária da pedra, o equivalente, somente no Paraná, a 500 mil pessoas. Em Curitiba, das 1.140 vagas disponíveis nos Caps AD, 35%, em média, são ocupadas por quem usa crack.

Cravi: uma comunidade aberta a todos - Como modalidade de Comunidade Terapêutica que presta serviço de atenção às pessoas com transtornos decorrentes do uso ou abuso de álcool e outras drogas, a Cravi proporciona aos seus residentes um espaço de mútua ajuda, atendendo a dependentes químicos de todas as faixas etárias e condições sociais. O objetivo da Cravi é a criação de um espaço favorável ao desenvolvimento de uma consciência crítica pessoal e social que leve à mudança do estilo de vida dos internos, resgatando a sua cidadania e promovendo a reinserção social.

A Cravi possui três unidades de atendimento, em Curitiba (PR), Almirante Tamandaré (PR) e Curitibanos (SC), com a capacidade total de até 90 internamentos; em 11 anos de existência já atendeu mais de 2 mil pessoas. Preocupada em colaborar ativamente no na construção de uma sociedade melhor, a Cravi participa do Conselho Municipal de Assistência Social, do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, da Secretaria de Justiça e da Secretaria Estadual Antidrogas. | Site: www.cravi.org.br.

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