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08/10/2008 - 11:39

O Inferno antes da morte

Uma das coisas que mais me incomoda é o descaso brasileiro com a questão da velhice. Nossos asilos viraram depósitos de idosos, sem conforto nem assistência adequada, onde uma grande parcela de moradores só está ali à espera da morte. Já aqueles que continuam junto às suas famílias — a maioria ranzinza, como praticamente todas as pessoas de idade —, continuam infernizando a vida dos seus próximos, com necessidades afetivas, físicas e tudo aquilo que a velhice demanda.

A vida moderna exige que todos trabalhem. No entanto, se a maior parte das famílias teve poucos filhos, quem agora irá cuidar dos seus velhos? Outro grande problema, a meu ver o maior, é a questão financeira desta população. A maior parte trabalhou e trabalhou muito acreditando que o seu último período de existência seria prazeroso e profícuo, sem a preocupação com o vil metal, pois este estaria garantido pela merecida aposentadoria.

Foram todos enganados e “tungados” pelo governo que, a seu bel prazer, roubou o que era de direito desses trabalhadores, implantando cálculos “atuariais” levando em conta a expectativa de vida dos beneficiários e apoderando-se, ano a ano, de seus minguados proveitos, a partir da década de 80. Se este mesmo governo providenciasse, pelo menos, a garantia da saúde, o que todos sabemos que não ocorre, já estaria ajudando e muito, pois só com planos de saúde e remédios, esses idosos já comprometem praticamente todos os seus recebimentos. Muitos deles, principalmente das classes menos favorecidas, ainda tem de contribuir com o sustento da família, em razão do alto grau de desemprego do País e da falta de qualificação de seus descendentes.

O Brasil conta hoje com oito milhões de aposentados e, há quase duas décadas, esta imensa parcela da população vê seus ganhos diminuírem e suas despesas aumentarem, pois desde então, a correção dos salários dos aposentados foi desvinculada do salário mínimo e, portanto, eles deixaram de ter correção pela inflação. Cálculos da Federação das Associações de Aposentados e Pensionistas do Estado de São Paulo (FAPESP) estimam que a perda destes aposentados entre 1991 e 2008 foi de 60%.

E qual seria a solução desta grande questão que, mais cedo ou mais tarde, atingirá todos nós? A meu ver, algumas medidas emergenciais deveriam ser implantadas. A primeira seria o governo honrar o que foi pactuado no passado equiparando o reajuste das aposentarias aos cálculos da inflação, repondo as perdas desde 1991. Em segundo lugar, criar mecanismos legais, que incentivassem doações a entidades de apoio a idosos, doações estas que pudessem vir a ser abatidas dos inúmeros impostos que temos. E, por fim, começar a criar campanhas para conscientizar a população de que a velhice pode e deve ser independente, criando-se programas de convívio para a terceira idade como cursos, viagens e, principalmente, hospedagem em casas e instituições dignas e confortáveis, bem diferente da maioria dos asilos que conhecemos hoje.

Tenho certeza que se algo não for feito rapidamente, o problema da velhice só tende a aumentar e, em breve, teremos um grande contingente de velhos mendigos, abandonados, dependentes e infelizes, encontrando no fim de suas vidas, cada um a seu modo, o inferno antes da morte.

. Por: Sylvia Romano é advogada trabalhista, responsável pelo Sylvia Romano Consultores Associados, em São Paulo. E-mail: [email protected] .

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