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22/10/2008 - 06:24

Os atuais instrumentos de gestão não permitem promover a sobrevivência e a sustentabilidade das empresas

Por considerar os gerentes como ‘tabula rasa’, as ferramentas gerenciais (competências, reengenharia, reestruturações a curtíssimo prazo, qualidade total e etc.) exigem um elevado custo para sua aplicabilidade, quer financeiramente, quer pela energia e tempo demandado pelos gestores envolvidos na sua aplicabilidade.

Esses instrumentos gerenciais pressupõem o que devemos ser como gestores e, portanto, consideram os gerentes como Tábula Rasa . Deve-se a Locke (1632-1704) esse enunciado, ao afirmar que o conhecimento provém da experiência e não de idéias inatas.

O behaviorismo (comportamento construído), que dominou a psicologia aplicada em administração durante os cinqüenta últimos anos de século XX, reforçou esse conceito, ao considerar que a mente é, basicamente, passível – é uma bacia na qual, na medida em que a pessoa amadurece, a cultura local é, gradualmente, desprezada, e os componentes inatos da mente entram em recesso ilimitado.

Pressupõem, ainda, que o indivíduo, ou grupos “esqueçam o que são” para absorção dos “novos” conceitos; preconizam que esse ato de resignação e conformismo pode nos levar à prática dos seus pressupostos, bem como propiciar bons resultados, oportunidades de carreira e felicidade pessoal. Preconizam, além disso, energizar nossas habilidades num ambiente propício, clima organizacional que deve ser necessariamente construído. Constituem-se modelos baseados em qualidades preestabelecidas e organizadas em princípios inquestionáveis, por assim serem requeridos para o sucesso gerencial. Sua marca é a inflexibilidade, por essa razão, tendem a afastar-se da realidade de mercado que exige exatamente o oposto: contínua flexibilidade mental para perceber e equacionar problemas que elevem a competitividade e a sustentabilidade dos negócios.

Em tese, a absorção dessas ferramentas e sua prática devem compatibilizar eficácia e gestão, redundando resultados empresariais positivos. O desenho da organização empresarial com base nos pré-requisitos por eles definidos, representa o sucesso nos resultados. Deve-se, entretanto, ressaltar que esses instrumentos têm obtido um relativo sucesso. Trata-se, portanto, neste artigo de não descaracterizá-los, mas de alertar para as suas fragilidades perante a complexidade apresentada pelo mercado.

Assim o conjunto ambiente e comportamento predeterminados e plenamente interados encerram a questão do sucesso empresarial: a gestão é eficaz, ao maximizar a prática dos seus princípios no dia- a- dia. O produto das ações delas advindas, hoje, em constante divulgação e prática, no mundo empresarial, sustentados por programas intensamente trabalhados e de elevado custo, supõe solucionar o problema mais premente da gestão de negócios: competir de forma eficiente em um mercado complexo, mutante e permanentemente receptivo a novos competidores.

Instrumentos gerenciais consagrados, aceitos e disseminados no mundo educacional e coorporativo, podem ser refutados? Se sim, quais as vantagens que disso pode advir?

Partimos da Natureza Humana e Ambiente, elementos válidos para a educação universal e cruciais para o desempenho das atividades do homem e, portanto, aplicáveis ao exercício gerencial.

A tábula rasa pressupõe que a natureza humana é “meramente o material indefinido que o fator social molda e transforma”, como afirmou Durkhein. A biologia não tem muita importância. O que afirmamos é que a nova fronteira do conhecimento, intensamente pesquisada e demonstrada por Damasio e Pinker , demonstram que o homem nasce com um software inerente à sua evolução genética. Isso se evidencia na mais comum das observações da vida em família, das relações sociais/profissionais e das amizades dentro e fora do mundo empresarial, percebe-se que indivíduos demonstram certos talentos e temperamentos absolutamente diferenciados, que teimam em contrariar os instrumentos gerenciais ora em voga.

Tábula rasa pressupõe que a mente humana não possui qualidades inatas e que a cultura, o meio social, em suma, o ambiente possa por si só moldar e direcionar-nos para objetivos previamente determinados. Dentro dessa ótica, a natureza humana não existe e, portanto, não é devidamente considerada ou tomada em conta no projeto humano do desenvolvimento individual e coletivo.

No mundo empresarial, pudemos constatar que a ascendência da tabula rasa, ou se preferirem, a predominância do meio sobre inato (talento), tem resultado desperdício de energia e dificuldades para disseminar cultura de inovação e renovação, hoje, ponto chave para o sucesso empresarial. Além disso, exigem elevados custos financeiro e de tempo, na tentativa de equacionar fórmulas de gestão competitivas baseadas em premissa de mecanismos de simples aprendizado, recompensas, soluções coletivamente construídas e experiências diferenciadas.

A idéia de que o pensar humano é socialmente construído pode impedir que gestores sejam mais eficientes, pelo simples motivo de não serem consideradas suas habilidades inatas na definição de suas funções e papéis que pode desempenhar de forma mais produtiva.

A maioria dos modelos de educação, incluindo a gerencial, têm muito das premissas que configuram o homem como tabula rasa, do behaviorismo e do construtivismo social.

O Estilo Gerencial, baseado nesses modelos, absorveram a idéia que a maleabilidade da mente, visto sua qualidade de papel em branco, continuam a ser divulgadas, adotadas e gerando expectativas de gerentes que, por meio delas, estariam aptos a lidar com a complexidade crescente do mercado.

Elas não são comprovadamente suficientes e é necessário que outros elementos que permitem a compreensão da natureza humana colaborem de forma positiva para tornar o Estilo Gerencial um instrumento decisivo capaz de proporcionar realização humana tendo em vista o equilíbrio entre dor e prazer. Como enfrentar isso, se de um lado o ambiente cultural é, sem dúvida, importante, e de outro, como não relegar o inato (talentos pessoais) ?

O caminho para elucidar essa questão baseia-se no fato de que eventos físicos, funcionamento da mente (emocional/racional) não são fatores isolados, mas interdependentes. É fundamental alertar que não existe a dualidade entre mente e corpo, e ainda que o emocional não substitua o racional no processo decisório, ele é, sem dúvida, o início do alerta para a percepção do mercado desafiante.

A lógica desse processo mental é amplamente racional, pois, de forma necessária, implica a relação emoção e ração. O nível de satisfação se reflete na massa corporal total. A sensibilidade aflora quando da integração cérebro/corpo e tendem a gerar soluções mais adequadas aos problemas de ordem empresarial, pessoal e social

Segundo DAMASIO (2003), os sentimentos de prazer, sucesso ou felicidade, ou dos diversos estados que se relacionam com uma emoção qualquer, são a mais universal das melodias, uma canção que só descansa quando chega o sono, e que se torna um verdadeiro hino quando a alegria nos ocupa, ou se desfaz em lúgubre réquiem quando a tristeza nos invade.

Nesse sentido, podemos equacionar pólos, aparentemente, irreconciliáveis ( o meio cultural e o inato), compondo uma sinfonia, onde a melodia, harmonicamente, desenvolvida, integra a equação empresarial para a obtenção, de um lado, de maior eficiência de custos, maximização do retorno financeiro na aplicabilidade de ferramentas gerenciais e, de outro, o incentivo à renovação, à inovação e à realização pessoal expressas pelos sentimentos de prazer, que prevaleçam sobre os da dor, via superação da sensação de fracasso. Aqui temos um caminho para o aprimoramento do profissional feliz e eficaz.

Se isso considerado, poderíamos ter um resultado bastante diferente do impactante cenário apresentado pela última pesquisa da Fundação Dom Cabral, realizada em mais de mil empresas, e que revelou o preocupante índice de 85% dos gestores, dos diferentes níveis gerenciais, declararam-se infelizes na sua atuação profissional, com conseqüências evidentes na sua vida pessoal.

. Por: Carlos Faccina, professor e Chanceler da BSP e Anhembi Morumbi Carlos Faccina é especialista em: educação gerencial, responsabilidade social, sustentabilidade, governança corporativa; temas sobre os quais ministra palestras e está apto a dar entrevistas. Carlos Faccina foi diretor da Nestlé, onde atuou de 1983 a 2003. De 1995 a 2007 acumulou a direção de Assuntos estratégicos, Corporativos e relações Governamentais da Nestlé. Ao longo deste período exerceu a presidência da fundação Nestlé de cultura e trabalhou na Nestlé na Suíça nos anos de 1991 a 1992. Professor Universitário das disciplinas Metodologia Científica, Pensamento Econômico e Formação Econômica do Brasil, é Mestre e Doutor em Ciências pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Tendo exercido esta função por mais de 25 anos.

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