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22/10/2008 - 06:26

Os tristes pensamentos de um corretor de câmbio sobre a crise

Estamos no epicentro da eventualmente maior crise mundial financeira. Um ciclone. Estamos acompanhando desde o fim de setembro de 2008 as declarações da Sadia, Aracruz e Votorantim abrindo seus dolorosos números de perdas causados pela elevação da taxa de câmbio. Exportadores chorando o dólar alto em vez de soltarem fogos com a imprevista fraqueza do real, que deveria compensar a queda dos preços das commodities. O sonho da Fiesp e de todos as empresas exportadoras virou pesadelo.

Riscos de desregulamentação, precariedade dos derivativos e os perigos do envolvimento governamental no socorro às instituições financeiras são três falsos brilhantes exacerbando a cobiça dos incompetentes. Vamos ao Delfim Netto e vemos a “fértil” criação de inovações dos bancos de investimentos, a crença ingênua dos executivos financeiros das empresas e o imenso descuido da famosa “governança corporativa”, que não via a necessidade de ter responsável, competente e “on time” auditoria externa para fiscalizar a qualidade das operações de sua tesouraria.

Nós iríamos mais longe. Pergunte-se, não aos crédulos executivos financeiros, mas ao Conselho Fiscal e Consultivo dessas empresas, aqui nominadas, e muitas outras que ainda não abriram a caixa das surpresas; se, ao lado das muitas organizações jurídicas e empresas de assessoria financeira de renome contratadas, alguma vez consideraram a remota possibilidade de consultar um corretor de câmbio, não um corretor de valores e câmbio. Um simples corretor de câmbio.

Será que o conceito ainda reside no “fechador de câmbio”, no “passador de fichas”? Algum dia tiveram a oportunidade de verificar a ficha corrida exigida pelo Banco Central dos sócios diretores? Tiveram acesso ao número de pretendentes a constituir uma simples Corretora de Câmbio preteridos pelo Banco Central como incapazes financeira, moral e tecnicamente? Sabem que se trata de uma instituição financeira, com diretores responsáveis aprovados, auditoria externa, ouvidoria nomeada, diretoria responsável pela governança corporativa, gestores e compliance officer, todos sujeitos às regras imediatas do Banco Central, e mais longe às orientações do “Basiléia II”? Quantos diretores, hoje administradores de sua própria empresa financeira, passaram pelos departamentos de Câmbio de Bancos de toda qualidade, como funcionários, gerentes e Ddiretores de Câmbio, tecnicamente preparados para hoje dar consultoria a seus clientes, dar orientação e evitar que se envolvam em riscos cambiais de toda a espécie.

Mesmo que todos sejam economistas ou administradores como curriculum, o que é muito comum, não é necessário tamanho pedágio para entender de riscos. No meu primeiro ano de filosofia, fui beber na lógica da escola aristotélica-tomista os primeiros conceitos do significado das palavras (logos), e me deparei com a diferença entre “possibilidade” e “probabilidade”, e duvido que alguém hoje desconheça seu significado, tipo eu posso ganhar na Mega, mas qual é a probabilidade? E me aventuro hoje a afirmar que as organizações tem dado a “oportunidade” para seus executivos errarem nessa lógica, encontrarem-se com os riscos cambiais.

Riscos cambiais de toda a espécie não se restringem ao controle obrigatório de autorizações de operações de câmbio, de importação ou exportação, etc. Riscos cambiais também são as operações controladas por ninguém, por nenhum órgão governamental e empresarial, infelizmente muitas vezes inovações dos chamados investment bankers que não passam de bancas de loteria, onde o perdedor final raramente é o banqueiro do cassino. Como declarou Dov Seidman, consultor para culturas éticas corporativas, “alguns dos principais executivos mais espertos ignoravam o que algumas de suas pessoas mais espertas estavam fazendo”. E aí acontece o que Charles Mackay já escrevia em 1841: “Os homens segundo o sábio ditado, pensam em bando, e só recobram o bom senso aos poucos, e um a um”.

Toda empresa tem seu consultor técnico, economista ou contador, sua banca de advocacia para garantir a legalidade de seus atos. Porque não tem também seu corretor de câmbio, que não precisa ser necessariamente usado exclusivamente para intermediar uma operação de câmbio? É questão de custo? E pensamos nós que a primeira aproximação de uma empresa e uma corretora é tão importante que deveria ser realizada entre a alta direção das duas. Porque no inferior estágio de comunicação a primeira pergunta que ninguém deveria responder é sempre quanto, nunca como.

E Thomas Friedman em seu comentário no New York Times: “Precisamos voltar para o antiquado sistema de colaboração. Quer dizer, as pessoas tomando decisões baseadas em julgamentos de negócio, experiência, clareza de comunicação, e pensando no COMO – não apenas em QUANTO”.

. Por: Pedro Trabbold Jr é compliance officer da B&T Associados Corretora de Câmbio Ltda e atua desde 1950 no mercado de câmbio. Foi Diretor do BCN São Paulo e New York.

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