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02/03/2007 - 08:47

Guia analisa o papel das escritoras brasileiras desde século XIX


Desde O ramalhete; ou flores escolhidas no jardim da imaginação, publicado em 1845 pela pioneira gaúcha Ana Eurídice Eufrosina de Barandas - considerada a primeira cronista brasileira no século XIX - até o sucesso da sua conterrânea Lya Luft, campeã das listas de best sellers do século XXI, há uma história que renderia um romance: a saga das brasileiras que escrevem. O Guia de escritoras da literatura brasileira, de Luiza Lobo, publicado com apoio da FAPERJ pela edUerj, é um passeio por essa trajetória, uma obra de referência para pesquisadores e uma leitura marcante para a semana em que se comemora o Dia Internacional da Mulher.

Além de referência na área dos estudos literários, os verbetes que delineiam a biografia e a obra de 36 escritoras também são uma forma de conhecer a vida e os livros das criadoras de grandes personagens. São mulheres que também se tornaram sólidos personagens nacionais. A ensaísta e professora de Literatura Comparada e Teoria Literária do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Letras da UFRJ, Luiza Lobo, cita entre elas: Patrícia Galvão, a Pagu, companheira de Oswald de Andrade, que ajudou a fundar o movimento antropofágico; a tragédia e o brilhantismo da poeta Ana Cristina César; a singularidade provocativa de Hilda Hilst, a mestria de transformar a vida doméstica em verso de Adélia Prado; o engajamento social de Rachel de Queiroz; a densidade psicológica de Clarice Lispector ou a combinação visionária de metáforas e opiniões políticas firmes de Carolina Maria de Jesus, que em 1960 publicou Quarto de despejo: diário de uma favelada.

As escritoras antigas, modernas e pós-modernas - "A publicação de Guia de escritoras brasileiras é uma iniciativa que vai marcar não apenas a área dos estudos de gênero, mas sobretudo o exame das formas de construção da história da literatura brasileira, cujo cânone só recentemente começa a absorver obras de autoras mulheres", explicou Luisa Campuzano, do Programa de Estudos da Mulher, da Casa das Américas, e docente da Faculdade de Artes e Letras da Universidade de Havana.

O escritor Luiz Ruffato, prêmio da Associação de Críticos de São Paulo (APCA) e organizador das coletâneas 25 mulheres que fazem a literatura brasileira e + 30 mulheres que estão fazendo a literatura brasileira, analisa preconceitos correntes quando o tema é literatura com assinatura feminina: "Organizei duas antologias sobre a produção literária recente das mulheres e tomei o cuidado de, em lugar algum do livro, caracterizar essa produção como "literatura feminina" ou "feminista". Sempre achei que qualquer rótulo já é uma redução. Não há, em contrapartida, literatura masculina. Para mim, há um lugar, a literatura, que homens e mulheres freqüentam, com igual competência. Interessante que não se fala em cinema feminino, artes plásticas femininas, música feminina... Mas em "literatura feminina"... Por que será?", indaga o escritor.

Ele frisa que muito se avançou desde a pioneira gaúcha Ana Eurídice Eufrosina de Barandas - que teria antecipado em vinte anos Iracema, de José de Alencar, e grande parte da obra de Joaquim Manuel de Macedo, conforme Luiza Lobo destaca. Além de as mulheres passarem a ter acesso à educação um outro dado pouco citado foi fundamental: "Elas passaram a ocupar cargos dentro de jornais e editoras - em dois pontos importantes para o mercado editorial, a produção e a divulgação - e passaram também a enfrentar temas antes vetados a elas. Agora, ainda há uma certa resistência à literatura feita por mulheres porque os velhos preconceitos, como a de que mulher escreve só sobre mulheres e só conseguem ser intimistas, seja lá o que for isso, persistem", denuncia Luiz Ruffato.

Na apresentação de seu guia Luiza Lobo investiga os obstáculos históricos e sociais impostos às autoras. "O fato é que as mulheres, principalmente na nossa sociedade, sempre foram impedidas de estudar, ou, estudando, impedidas de pensar, ou, pensando, impedidas de expor suas idéias. Ocorre que, à medida em que foram conquistando espaço na sociedade, foram ocupando também o espaço da literatura e colocando-se de igual para igual com os homens. Hoje, não tenho dúvida, em termos de qualidade, as mulheres vêm superando os homens. Talvez não ainda em termos de quantidade, porque ainda há muitas barreiras. Por isso, não vejo essa história eivada de equívocos ou acertos, mas de conquistas", analisa o escritor. | Por: Mônica Maia/Faperj

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