Reciclagem automotiva

Assim como ocorre nos demais setores produtivos do País, também na indústria automotiva há uma tendência em desenvolver projetos de reciclagem. A partir de uma definição sobre o ciclo de vida dos veículos o foco é: de que maneira partes e peças podem ser reaproveitadas na produção de novos carros.

Em um cenário de acirrada competitividade global, conciliar aumento de produtividade e excelência na qualidade com redução de custos passou a dominar as discussões e projetos no universo da indústria automotiva. Aliado a isso há, ainda, a preocupação ambiental, introduzindo propostas de desenvolvimento sustentável.

Nesse contexto, despontam estudos sobre o ciclo de vida dos veículos e de que maneira partes e peças podem ser reaproveitadas no processo produtivo. Nos Estados Unidos e na Europa as pesquisas sobre a viabilidade de desmontagem e remanufatura dos carros já é uma realidade, mas também no Brasil o tema começa a gerar interesse.

O tema tem despertado o interesse de engenheiros que voltaram para a academia a fim de aprofundar conhecimentos e abrir horizontes. Alguns Trabalhos de Conclusão do Curso de Mestrado Profissional em Engenharia Automotiva, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (POLI/USP), já abordam a questão, como "Engenharia Simultânea - Estudo da Influência dos Requisitos de Processo e Ciclo de Vida no Desenvolvimento de Peças Estampadas Automotivas", de César Takao Matayoshi, e "Engenharia Simultânea e Projeto Orientado para a Manufaturabilidade e Montagem de Portas Automotivas, de Fábio Zuchetto Krumenauer. Ambos os alunos tiveram como orientador, o Professor Doutor Gilmar Ferreira Batalha, da POLI/USP.

Nestes trabalhos os autores demonstram que já é consenso, entre os acadêmicos e especialistas nos meios industriais, que para tornar a remanufatura - tanto reaproveitando peças como lataria - uma prática viável, operacional e economicamente, é necessário que esse conceito já esteja contemplado no desenvolvimento do projeto de um novo veículo. Para isso começam a ser difundidas ferramentas como as que se enquadram no Design for X (DFX) - Design for Manufacturability, Design for Assembly, Design for Environment, Design for Disassembly, Desing for Recycleability - capazes de reduzir custos durante o ciclo de vida do produto no início do desenvolvimento do projeto.

Ciclo contínuo - Conceitualmente o ciclo de vida de um produto compreende todas as fases de sua existência: concepção, produção, entrega ao consumidor, manutenção, até a sua retirada do mercado. É nessa etapa final de um veículo que a remanufatura se constitui em uma estratégia para reduzir o uso de matérias-primas e de energia na produção de novos.

"Dessa maneira podemos alçar os dois objetivos que hoje dão a tônica do mercado: o econômico e o ambiental", observa o prof. Dr. Gilmar Batalha. Segundo ele, sob o enfoque da economia a remanufatura preserva total ou parcialmente o valor agregado ao produto durante seu design e fabricação. Já sob o aspecto ambiental - dar uma "segunda vida" às peças e partes da lataria - há uma redução no consumo de energia e materiais em diversos pontos da cadeia produtiva de um novo veículo.

Contudo, a implementação efetiva da remanufatura no setor depende, entre outros, da regulamentação dessas atividades por meio de leis e normas, de um sistema de logística reversa, além de uma conscientização e participação ativa dos consumidores para a adequada destinação dos produtos em "fim de vida", garantindo que retornem ao fabricante. "Nesse processo a pesquisa científica/acadêmica tem um papel fundamental para orientar os caminhos que poderão viabilizar projetos na direção da reciclagem automotiva", vislumbra o docente.