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08/11/2008 - 13:13

Pesquisa de cursos de licenciatura revela deficiência na formação de professores no Brasil

Conclusão é baseada na análise de currículos de 94 licenciaturas em letras, matemática e ciências biológicas praticadas por instituições de ensino públicas e privadas de todo o País.

São Paulo – Os currículos dos cursos de licenciatura em letras, matemática e ciências biológicas não atendem às necessidades de formação de professores do sexto ao nono ano do ensino fundamental no Brasil. No conteúdo, prevalecem matérias relacionadas a conhecimentos específicos – como matemática, lingüística e biologia – e faltam disciplinas mais voltadas às didáticas específicas de ensino – que preparam o docente para o ofício de ensinar em sala de aula. Essa é uma das principais conclusões de uma pesquisa realizada pela Fundação Carlos Chagas (FCC), a pedido da Fundação Victor Civita (FVC), baseada na avaliação de currículos de 94 licenciaturas em letras, matemática e ciências biológicas praticadas por instituições de ensino públicas e privadas de todo o País.

Um dos objetivos do estudo foi mapear as cadeiras ministradas nesses cursos para quantificar e qualificar a capacitação, principalmente no que tange as premissas para os futuros docentes da área. Os resultados comprovam a inadequação e a deficiência dos cursos, que incluem de forma insatisfatória as disciplinas de didática e ensino especial. Com dados de ensino superior dos anos de 2001, 2004 e 2006, disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP) e no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE), a pesquisa contemplou licenciaturas de 971 cursos de Letras, 631 de Matemática e 842 de Ciências Biológicas.

Na área de licenciatura em Letras, houve um aumento de 82,9% de oferta de cursos e 28,8% de alunos na rede particular de ensino, enquanto nos estabelecimentos estaduais o crescimento foi de 88,4% de cursos e 24,7% de alunos. É nessa modalidade em que as discrepâncias chamam mais a atenção. De acordo com a pesquisa, a maioria das disciplinas obrigatórias feitas pelas Instituições de Ensino Superior está relacionada aos conhecimentos específicos da área, como lingüística, correspondendo a 51,6% do total. Apenas 8,5% dizem respeito a práticas de ensino dentro de sala de aula, enquanto 1,2% das disciplinas trata sobre ensino especial. Segundo a Professora Regina Scarpa, coordenadora pedagógica da Fundação Victor Civita, esses números mostram a discrepância entre a formação que o futuro docente tem, com o que deveria ser o intuito de seu curso: “Não há preparação de professores, que seria a principal finalidade de uma licenciatura, então os cursos mais se assemelham a bacharelados”, conclui.

A baixa porcentagem de cadeiras voltadas à didática de ensino, mostrada na licenciatura em Letras, fica ligeiramente abaixo da apresentada pelo curso de Ciências Biológicas, em que 10,4% referem-se a conhecimentos sobre o objeto de ensino. “Nesse caso, o foco é muito maior no conteúdo, comprovado pelo índice de matérias de conhecimentos específicos em Biologia, que são 65% do total”, aponta Regina.

Os dados levantados para a licenciatura de Matemática mostram um aumento de 45,7% no número de cursos entre os anos de 2001 a 2006, mas considerando de 2004 e 2006, o crescimento foi de apenas 10,3%. A análise dos dados das grades curriculares revela que matérias relacionadas à didática de ensino, nesse caso, somam 30% do total, o maior índice entre os três cursos.

Além disso, outro ponto preocupante abordado pela pesquisa foi o de estágios. “Há muita falta de clareza na importância e estímulo aos estágios. Não há definição nos cursos que aponte a validade da tutoria oferecida na formação de professores, que é muito valorizada em outros países”, ressalta Regina. O estudo indica que são raras as instituições que especificam em quê consistem os estágios e sob que forma de orientação eles são realizados – se há, por exemplo, convênio com escolas das redes, entre outros aspectos.

A professora alerta também que os concursos públicos para professores no ensino médio e básico não incluem bibliografia, essencial como definição de saber o que é esperado do conhecimento. Também pecam no que se refere aos fundamentos da educação, ao não exigir dos concursados conhecimentos sobre a prática docente. “As questões são na sua maioria relativas a conteúdos teóricos e se limitam a uma verificação formal de um dado conteúdo previamente solicitado. Não há articulação efetiva com aspectos relevantes para a educação, a escola ou a sala de aula, que ocupam lugar secundário no modelo de universidade brasileira para formação de professores”, conclui Regina.

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