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15/11/2008 - 15:42

Crise, fim de ano e depressão

Ao avaliar a pesquisa recente divulgada pelo Ibope a pedido da Abrata (Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos) é preciso ir além dos números. Já é preocupante a conclusão do estudo ao colocar 22% dos paulistanos como depressivos. Porém, a pesquisa foi divulgada no final de outubro e não foi afetada por cenários mais atuais que podem fazer esse número inflacionar: reflexos da crise financeira nas economias pessoais, perda de empreso e as reflexões de cada um comum no fim do ano.

O medo de perder a colocação profissional, dinheiro escasso e futuro familiar ameaçado deixam a sociedade preocupada e boa parte a um passo da depressão. Situações de fim de ano ajudam são catalisadoras naturais de quadros depressivos. Ou seja, o momento é de não baixar a guarda e ficar atento aos sintomas. Mais que isso: tirar o rótulo de preconceito da doença para que não se torne um problema ainda maior no futuro. A palavra de ordem é se cuidar para não cair nas armadilhas que podem aparecer no futuro próximo.

Assim como na pesquisa do Ibope é sempre bom fazer uma auto-avaliação com duas questões básicas para diagnosticar quadros depressivos. Nas duas últimas semanas, sentiu-se triste, desanimado, deprimido, durante a maior parte do dia, quase todos os dias? Nas duas últimas semanas, teve, quase todo o tempo, o sentimento de não ter mais gosto por nada, de ter perdido o interesse e o prazer pelas coisas que lhe agradam habitualmente? Um sim duplo é sinal de que não há mais motivos para adiar a procura por avaliação médica.

Do começo de outubro para início de novembro, o cenário mudou. A chance das respostas serem positivas nas duas questões aumenta. Somado a isso, deve se ter em mente que a partir de agora estamos na porta situações que podem ser indesejadas. Comemorações seguidas e encontro com familiares, que podem ter desavenças, levam a atitudes que vão desde ostentação e gasto excessivo até o consumo elevado de álcool. Válvulas de escape em busca da alegria superficial deixam rastros perigosos rumo à depressão.

Outro dado a ser ressaltado é a incidência da doença entre jovens. Entre os entrevistados com idade entre 18 e 29 anos, 25% disseram ter o sintoma. Nas pessoas entre 30 e 39 anos, o percentual cai para 23%. Isto também pela carga excessiva alocada nos mais novos que são alvos de cobrança demasia, principalmente quando o assunto é profissional.

A conclusão é que os números estão aí e são sinalizadores de cenário que não pode ser ignorado. Cabe a cada um o olhar mais atento aos sintomas e àquelas ações que podem ser a ponte com a doença. A depressão é silenciosa e pode ser confundida com problemas menores. Afinal, pouca gente sabe que dores no corpo, dificuldade para dormir e compulsão por compras, comida e consumo de álcool podem indicar a presença da doença.

. Por: Beatriz Araújo de Castro Rangel, médica psiquiatra e psicoterapeuta com residência médica no Departamento de Neuropsiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Cursou psicologia aplicada na Universidade de Montreal, Canadá, e tem formação em Análise Transacional pela ITAA. Também é psicanalista formada pelo Instituto Sedes Sapientiae e foi membro do corpo de redatores da "Revista de Psiquiatria Clínica" da FMUSP.

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