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18/11/2008 - 10:33

Tempo de espera

Situação Mundial

Ainda vai levar algum tempo para que os indicadores de mercado se recuperem dos efeitos da crise mundial. Se alguns meses atrás o preço do petróleo no patamar dos US$ 140 era claramente incoerente, o nível atual de cerca de US$ 55 seria um boa referência? Quanto tempo levará para que seja recuperada a confiança nos preços como sinalizadores para as atividades econômicas?

No curto prazo, esta indefinição funciona ao inverso da especulação, reduzindo o desejo de realização de negócios e empurrando os preços para baixo. Afinal somos, em grande maioria, avessos ao risco. A economia real necessita de sinais de orientação e isto está em falta. No setor agrícola, sobram produtos que têm que ser comercializados para uso quase imediato, da mão para a boca, e aí os preços sofrem, pois a quantidade disponível é geralmente muito maior do que a que pode ser consumida no curto prazo.

Pouco importa que, no caso do milho, a previsão dos estoques mundiais ao fim deste ano agrícola esteja em níveis extremamente baixos em relação ao consumo. Nem que não se vejam sinais de redução da produção de etanol a partir do milho nos EUA, nem que existam sinais de que os chineses vão reduzir a sua demanda por alimentos. Os preços não encontram o piso e este ponto de equilíbrio ainda vai demorar algum tempo para ser encontrado novamente.

Não existem grandes novidades nas informações sobre a produção mundial de milho. No hemisfério Norte a safra já está definida e, por conta dos incentivos de preços que existiam no primeiro semestre, atendem às necessidades. Muitos países, com receio dos efeitos sobre a população mais pobre decorrentes dos preços mais elevados dos alimentos, implantaram medidas de incentivo à produção interna. Nos países mais desenvolvidos, os agricultores responderam de forma positiva aos estímulos de preços.

O ponto a assinalar é a redução dos estoques nos Estados Unidos (uma redução de cerca de 30% com os estoques previstos, que serão equivalentes a apenas 9% do consumo americano ao fim do ano civil) mas, como assinalamos, isto será motivo de preocupação apenas no próximo ano. No hemisfério Sul, os plantios estão em andamento e, estes sim, sofrem influência da crise internacional, com crescimento do preços de insumos e sinalizações de preços em baixa. O resultado são previsões de redução de área plantada com milho, tanto na Argentina como no Brasil, os maiores produtores deste lado do planeta.

Nesta situação de definição de safra no Norte e informações apenas sobre a redução da área plantada, que pode ser compensada por condições favoráveis de clima, no Sul questões locais passam a ter maior importância na condução dos negócios com milho.

Situação Interna

No Brasil, uma vez colhida a maior safra de milho de sua história, as preocupações passaram para o lado da comercialização, visto que as exportações necessárias para escoar o excesso de produção aparentemente não se viabilizarão na quantidade adequada e o país chegará ao início da colheita da safra de verão com o maior estoque dos últimos sete anos. O estoque de passagem é suficiente para afetar o mercado de milho durante todo o próximo ano e, caso não se verifiquem fatores que afetem drasticamente a produção no próximo verão e na safrinha, poderá estender seus efeitos até o ano de 2010.

Nesta situação de incerteza, mercado externo fraco e produção recorde, os preços continuam em baixa ou se estabilizaram em níveis baixos nas principais praças do país (um acompanhamento semanal do preço do milho pode ser encontrado no site do CIMilho – www.cnpms.embrapa.br/cimilho). Os preços em regiões de safrinha ainda sofrem a pressão negativa da colheita superior à capacidade de absorção pelo mercado no curto prazo, agravada no Mato Grosso pela dimensão do mercado local e pela distância dos principais centros de consumo de milho. Como a produção de aves e suínos para atender às festas de Natal está se aproximando do seu pico - a sustentação do consumo -, a demanda por milho para alimentação animal dependerá das atividades de produção para exportação destes tipos de carne.

Com relação às exportações de milho, a quantidade exportada em outubro foi equivalente a cerca de 20% do mesmo mês no ano passado e o total exportado em 2008 é apenas a metade do exportado até outubro em 2007, a maior parte enviada no primeiro semestre, quando existia uma forte demanda dos países da Europa. Vai ser difícil atingir os 6 milhões de toneladas exportadas no fim do ano, quando o esperado era algo ao redor de 10 milhões de toneladas. Compradores antigos, como o Irã e a Coréia do Sul, reduziram muito as compras do Brasil neste ano, tendo ocorrido embarques de maior monta para novos destinos como Peru, Chile, Colômbia, Arábia Saudita e Tunísia, que não compensam a redução dos grandes compradores. Não é, realmente, um cenário animador.

Do lado da demanda por milho, o crescimento da produção de aves segue firme. Segundo o portal Avisite, as exportações de carne de aves nos dez primeiros meses do ano cresceram 14% em relação ao mesmo período de 2007 (o crescimento em valor foi de 49%). Já as exportações de carne de suínos decresceram 6%, porém a receita cresceu 37%. Começaram a aparecer opiniões no sentido de que as atividades de criação animal deveriam refrear o seu crescimento, como forma de se adequar a uma possível redução de consumo decorrente da crise econômica internacional.

Com relação à nova safra que começa a ser plantada, a grande modificação em relação à safra passada são os custos de produção. Os preços dos fertilizantes, insumo fundamental para a produção do milho, praticamente dobraram; e isto certamente irá afetar a quantidade utilizada nas lavouras de milho. Mais recentemente, com a posição dos agricultores de reduzir a área plantada e a quantidade de fertilizantes nas lavouras, um movimento de decréscimo de preços dos fertilizantes está se verificando. Porém os níveis continuam elevados, frente ao cenário de dificuldades de preços na próxima safra e também a redução na disponibilidade de financiamento das lavouras.

O último levantamento de intenção de plantio liberado pela Conab indica uma redução na área plantada com milho no Centro-Sul, no verão, no intervalo entre 4,7% e 2,2% . Outras consultorias prevêem uma redução maior (Céleres 4,6%; e Safras e Mercados 8%). Por enquanto, as condições climáticas têm se mostrado favoráveis, beneficiando as lavouras plantadas em épocas recomendadas nestes estados. Por problemas climáticos, o plantio está um pouco atrasado no Sudeste e no Centro-Oeste. Nesta safra, o clima desempenhará um papel fundamental, visto que, com a redução na quantidade utilizada de fertilizantes, condições climáticas favoráveis serão decisivas para que não ocorra redução nos rendimentos agrícolas. Por isto, considerações mais firmes sobre a safra 2008/2009 somente poderão ser feitas nos próximos meses.

. Por: João Carlos Garcia e Jason de Oliveira Duarte, pesquisadores da área de economia agrícola da Embrapa Milho e Sorgo.| CIMilho

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