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22/11/2008 - 08:42

G 20

Anos atrás, o humorista americano Fred Allen definia uma reunião digna de menção como sendo o agrupamento de pessoas importantes, que separadamente nada podem, mas em conjunto decidem que nada pode ser feito. Talvez haja algum exagero em querer aplicar essa definição à recente reunião do G 20. Talvez não.

De qualquer maneira, o entusiasmo, na base do "Agora vai!", das nossas autoridades parece conter a costumeira dose de exagero toda vez que se trata de um assunto polêmico.

De acordo: o ministro Mantega ensinou a todos que o mundo clamava por soluções sérias. Lembrete oportuno. Mais uma vez de acordo: Nossopresidente, encantado com o teor genérico das boas intenções contidas no documento final – 47 ao todo, o que dá uma média superior a 2 recomendações por delegação – talvez considere que o tal consenso alcançado seja uma verdadeira e extraordinária maravilha. Mas o fato de listar boas intenções num texto diplomaticamente redigido, no máximo responde à pergunta "o que fazer". A tal implementação ficará a cargo de escalões inferiores, que terão um pouco mais de trabalho para chegar a ações coordenadas. Vamos derrubar as barreiras do protecionismo – dos outros naturalmente; vamos supervisionar os bancos – já é fácil imaginar um comitê de russos verificando se a alavancagem do Citi está nos conformes; vamos acabar com a farra da desregulamentação – e de pronto nascerá um Basiléia 3; Vamos reformular o FMI – de repente todos passamos a morrer de amores pela instituição; e last but not least, vamos encontrar-nos novamente dentro de uns três meses! Considerando que o tratado de Bretton Woods levou uns três anos para ser parido, um certo ceticismo parece razoável.

Afirmar que cada país padece de uma forma diferenciada da moléstia, nada mais é que uma constatação banal. Enfim, poderia ter sido pior. Vamos ministrar penicilina para todos e azar de quem estiver com glaucoma!

Por aqui saudamos efusivamente o G 20 – que inclui o Brasil, tanto é que Nossopresidente já decretou o rebaixamento do G 8 à categoria de clube de amigos. As coisas nunca são tão simples, infelizmente. Se por um lado 20 países, aos quais se somam mais dois convidados, representam em conjunto uma percentagem acachapante do PIB planetário, a diversidade de opiniões segue o velho ditado "Cada cabeça, uma sentença". Concordar placidamente e acatar as decisões do time da primeira divisão fere nossos brios – é melhor levar nosso charme tropical à mesa de negociações – mas como evitar a pergunta "E agora?"

Não se deve esquecer que os EUA, mesmo capengas, possuem um peso considerável nas decisões de âmbito mundial. Quem representou os EUA? George W. Bush no papel de "lame duck" – tradução: pato manco, designação genérica para uma autoridade cumprindo aviso prévio. É difícil imaginar que o presidente Obama não terá alguma ou várias objeções, que a partir do dia 20 de janeiro do ano próximo poderão contrariar a orientação adotada por vários grupos de trabalho, cuja função será de transformar as grandes linhas de conduta em poderosos calhamaços.(digitalizáveis, é verdade).

Daí a pensar como Clemenceau – aquele que achava que a guerra era assunto sério demais para ser confiado a generais – quando afirmou que para se tomar uma decisão é preciso de um número ímpar de protagonistas, sendo que três já é um número exagerado, vai uma grande distância. Mesmo assim, reuniões com um número impressionante de participantes correm o sério risco de serem estéreis, ou desempenhar o papel de montanha paridora de ratinhos.

E a Bolsa?

O veneno sempre na cauda, senhores.

O mundo não acabou, o IBOVESPA não cairá a zero, resta saber o quanto se aproximará desse nível. Não vale muito a pena confiar em projeções: os mesmos oráculos que falavam em Bovespa a 90.000 pontos em dezembro já mudaram o discurso; os heróis que falavam em barril de petróleo a 200 dólares, já reduziram um pouco a estimativa, ou adiaram a data do evento, ou redimensionaram o barril. Analogamente, falar em cotação das verdinhas a 1,70 R$ em dezembro parece arriscado. Não deixa de ser uma boa nova para os exportadores, desde que possuam linhas de crédito e encontrem importador. Permanece em pé o discurso ufanista do nosso vigoroso crescimento em 2009. Ainda bem. Cresceremos 4%. E por que não?

Emplumados arúspices perderam IBOPE, mas isso não é novidade. Pior quando ale da credibilidade perderam o emprego.

É importante trabalhar em cima de cenários para tomar decisões, e isso ninguém discute. Depois, ensinam os mestres, é preciso adaptar-se às mudanças. Haja mudanças, ou esse transformismo todo não passa de uma degringolada incontrolável?

De prático, ficaremos com a pergunta irrespondível: Tarde demais para vender ou cedo demais para comprar?

Relaxem. Não podemos esquecer que a ALBA irá se debruçar sobre o assunto. Junte-se a isso o desabrochar do nosso fundo soberano e, adeus preocupações".

. Por: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, é autor de ´Almanaque Anacrônico`, ´Versos Anacrônicos`, ´Apetite Famélico`, ´Mãos Outonais`, ´Sessão da Tarde`, ´Desespero Provisório` , ´Não basta sonhar` e o recente livro/peça ´Um Triângulo de Bermudas`. (Ed. Totalidade). Confira nas livrarias Cultura (www.livrariacultura.com.br), Saraiva (www.livrariasaraiva.com.br), Laselva (www.laselva.com.br) e Siciliano (www.siciliano.com.br).| E-mail do autor: [email protected]

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