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27/11/2008 - 09:00

Continuidade do problema energético nos EUA

Embora seja comum dizer que os Estados Unidos continuarão a ter grande problema energético sob a presidência do democrata Barack Obama, ainda é licito voltar ao assunto. Em linhas gerais, é conveniente analisar em rápidas passagens qual a situação energética do país, que consome em média 25% de toda a produção mundial de energia, conforme dados apresentados pela Agência Internacional de Energia para 2008.

Como maior consumidor mundial de energia, os EUA não se preocupam somente com a aquisição do maior número possível de barris de petróleo. Há ainda outros fatores ligados à questão. O país é o maior consumidor de petróleo do mundo, mas é também um os três maiores produtores da matéria-prima, perdendo somente, de acordo com o método de cálculo e ano, para a Arábia Saudita e Rússia.

O problema é que a superpotência consome toda sua produção interna e necessita cada dia mais das importações. Atualmente, Washington tem de importar de 25 a 30% de seu consumo. E isso coloca os Estados Unidos em situação geopolítica delicada. Seus governantes, o que vale para republicanos e democratas, entendem não ser bom negócio depender de insumos energéticos estrangeiros, mesmo que não haja nada de conflituoso à vista. E não há dúvida de que a relativa calma americana com relação ao trânsito internacional do petróleo se dá em razão de parte de sua armada estar estacionada em pontos estratégicos, como nos Emirados Árabes.

Aliás, pensar no Estado e na grande estratégia é também imaginar possíveis cenários negativos que venham a atrapalhar a desenvoltura do país na política internacional. Esse exercício se torna importante não somente para a grande potência, mas para todos os países que desejam uma inserção de qualidade, justamente para evitar “surpresas” e danos em sua política e, por conseguinte, atrapalhar a boa desenvoltura econômica para a criação de riquezas e bem-estar.

Em certa medida foi o que o antigo governo republicano de Reagan fez para diminuir sua dependência do óleo importado dos árabes – os esforços eram justamente aumentar a produção petrolífera dos aliados e do próprio território norte-americano, com resultados louváveis na descoberta de superpoços no Mar do Norte e no Alaska. Em outra instância, era também urgente fazer com que os produtores da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) pagassem pela ousadia, não mais permitindo lá a construção de refinarias, de núcleos de negociações comerciais, nem de logística. Todos esses itens deveriam ser feitos e transferidos para os Estados Unidos e aliados.

Por outro lado, nos últimos oito anos, os Estados Unidos deram sinais de que negligenciaram lições importantes da política mundial, desagradando francamente seus tradicionais aliados da Europa Ocidental e da Ásia, que nem sempre gostam de embates e crises com o grande líder. A Casa Branca preferiu trilhar um caminho unitário que levava a um raciocínio automático. Preferiu caminhar com poucos amigos para comandar as maiores reservas mundiais de petróleo do Oriente Médio.

O poder americano trabalhou com a premissa de que exercendo o controle de modo unitário nas grandes regiões produtoras do ouro negro, com poucos aliados, poderia adquirir maiores vantagens políticas e ganhos econômicos, já que as outras potências teriam de barganhar o petróleo norte-americano se quisessem energia. Se a Europa quisesse promover políticas autônomas, que pagasse então o preço exigido. É fato que alguns países, como Alemanha, França e Japão, procuram suficiência energética caminhando no fio da navalha: ora comungam com os Estados Unidos, ora procuram criar meios alternativos para sublinhar sua procura de autonomia política.

O que o governo de Obama tenciona fazer em energia é rever o perfil dos Estados Unidos. Tarefa muito difícil, visto que o país não se vê divorciado dos altos gastos de hidrocarbonetos. Aqui há até um traço de fundo sociológico pelo fato de o estilo de vida e ritmo econômico de parte significativa da população norte-americana só é possível por causa do forte consumo de energia, não só petróleo, mas também hidroeletricidade e térmica por óleo combustível e nuclear. De fato, a matriz energética estadunidense é muito perto de um mix em que todos os insumos energéticos participam de sua formação em alto grau.

Grande tem sido o emprego da energia nuclear, assim como da hidroeletricidade e da biomassa. Esta sendo fruto de grande dilema e impasse por causa de sua origem ser à base de álcool de milho, contribuindo para grandes elevações no preço das comodities alimentares com efeitos em todo o mundo. Além disso, o próprio modelo de produção de etanol norte-americano acaba atrapalhando o desenvolvimento de outros países que produzem etanol via cana-de-açúcar, como, por exemplo, o Brasil, que acaba recebendo o ônus por sua relação com o governo Bush.

No curto prazo não há muito que se alterar no padrão energético dos Estados Unidos, mesmo sob uma administração que fora eleita para ser alternativa – o que pode ser frustrante se os resultados não aparecerem na velocidade esperada pelo eleitorado e pela expectativa internacional, utilizando a máxima para saber se efetivamente existe interdependência que liga os destinos dos Estados Unidos do jovem Obama a todo o sistema internacional.

De início, o país teria de alterar a razão de consumo de petróleo e demais insumos. Neste particular o governo teria de exercer seu poder sobre as companhias automobilísticas para que diminuíssem a produção de carros especiais, altamente consumidores de gasolina. Vale dizer, contrariar condutas sociais e econômicas que foram privilegiadas e incentivadas há mais de dez anos para que refletissem um novo estilo de vida baseado no instantâneo e no desperdício. Talvez essa tarefa possa ser feita em virtude da crise financeira mundial que tem seu epicentro nos Estados Unidos, situação que o governo Obama não pode ser negligente. A própria OPEP já declara que terá de diminuir a produção de óleo para 2009 por causa da crise e a queda de consumo que ela provoca, fato que pode ser conveniente para o governo democrata.

. Por: José Alexandre Altahyde Hage é consultor do núcleo de Negócios Internacionais da Trevisan Consultoria, professor da Trevisan Escola de Negócios e organizador do livro “A Energia, a Política Internacional e o Brasil – Conflitos e Propostas no Século XXI”, que será lançado dia 10 de dezembro. | E-mail: [email protected]

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