Mulheres ganham espaço na Voith Paper

A companhia alemã, que há 15 anos possuía poucas mulheres em seu quadro de funcionários, hoje já conta com 119, das quais quatro estão em cargos gerenciais.

No dia 8 de março o mundo comemora o Dia Internacional da Mulher, uma data que representa todas as conquistas femininas no último século. Hoje, médicas, advogadas, enfermeiras, publicitárias, jornalistas, veterinárias, engenheiras e outras profissionais atuantes nas mais diversas carreiras conquistam seu espaço.

A competência profissional das mulheres comprova-se agora até mesmo em áreas de atuação que eram exclusivamente masculinas. Um grande exemplo disso é o setor de metalurgia, que há 15 anos nem sequer cogitava a presença de mulheres em seus quadros de funcionários, principalmente por ser um tipo de trabalho braçal e que exigiria força.

Hoje, não só essa barreira foi quebrada, como elas já ocupam, inclusive, cargos gerenciais e se destacam pela competência e agilidade na arte de liderar equipes.

A Voith Paper, empresa do Grupo Voith especializada na fabricação de máquinas para produção de papel, ilustra bem a revolução causada pelas mulheres no setor metalúrgico. Há 15 anos, a empresa contava com 3.663 funcionários, porém o número de mulheres era limitadíssimo. Hoje, elas já somam 119 do quadro atual, que conta com 1030 colaboradores.

As mulheres não só ganharam espaço na empresa como um todo, como também já ocupam cargos de chefia. Esse é o caso de Silvia de B. Barroso, que atualmente é Gerente de Administração de Contratos Internacionais da Voith Paper.

A executiva, que está na empresa desde 1992, conta que quando chegou para ocupar o cargo de Supervisora de Administração de Contratos Internacionais a equipe era composta por oito pessoas e somente ela era mulher. “O início foi muito difícil. Existia uma desconfiança grande e um bloqueio natural, pois a empresa possuía a cultura de só contratar homens”, explica Silvia.

A executiva utilizou uma fórmula simples, porém extremamente eficaz, para passar por cima deste obstáculo. “Optei pelo contato pessoal. Ao invés de falar com as pessoas por telefone, mostrei a minha cara, o que foi fundamental, pois quebrou o gelo e fez com que os profissionais passassem a confiar em mim”, observa.

Confiança e competência que ficam comprovadas ao longo dos 15 anos de carreira que Silvia construiu na Voith Paper passando pelo cargo de chefe de departamento antes de ocupar um posto gerencial em meados de 2000.

Agora, como gerente, ela coordena uma equipe de oito funcionários contratados e mais alguns terceirizados. “Tenho cinco mulheres no time e todas trabalham em igualdade de condições com os homens. Creio que ajudei a mudar a situação das mulheres na empresa”, comenta Silvia, lembrando ainda que mesmo contando com a confiança de todos na companhia, ainda precisa matar um leão por dia para manter sua posição. “Preciso provar minha competência sempre. Por isso, quem quiser chegar a uma posição de destaque em uma empresa precisa mostrar suas habilidades femininas, que hoje são fortemente demandadas pelo mercado, e manter-se sempre atualizada nas questões de gestão empresarial", conclui. Silvia, além de formada em economia e administração pela Universidade Mackenzie também é pós-graduada em relações internacionais pela USP, estudou MBA na Fundação Dom Cabral, e fez um treinamento de quase dois anos em empresas na Alemanha.

Outra funcionária que também alcançou o sucesso na Voith Paper foi Ligia Aparecida Palma, Gerente de Suprimentos. Contratada pela companhia em 2000 para ser Gerenciadora de Suprimentos, a executiva não só provou suas qualidades para a função, como foi nomeada Gerente por Osvaldo San Martin, que ocupava o cargo de Diretor de Operações da Voith Paper na época e que hoje é o presidente da Voith Siemens-Hydro, uma das empresas do grupo. “Sem dúvida é muito gratificante saber que tive competência e credibilidade para ocupar esta função de chefia, principalmente sabendo das barreiras que existiram à indicação de uma mulher para o cargo”, observa Ligia.

A resposta à atitude inovadora do antigo diretor veio com muito trabalho e dedicação. Tanto é verdade que ao longo dos anos o departamento de Ligia cresceu. “Antes só tratávamos de processos de compras. Hoje também somos responsáveis por estoques, recebimentos e administração de contratos de infra-estrutura da planta”, explica a executiva.

A ampliação do departamento também resultou na ampliação do quadro de colaboradores. “Hoje lidero uma equipe de mais de 30 pessoas, das quais seis são mulheres. Sem dúvida é uma grande responsabilidade”, observa.

Mas ao contrário do que parece, a vida de Lígia ao longo de quase sete anos de Voith Paper não foi fácil. Até para entrar na empresa ela encontrou dificuldades, mesmo possuindo um currículo com 21 anos de experiência no setor de papel e celulose. “Na época, eu trabalhava em uma das concorrentes e a empresa fechou mundialmente. Procurei a Voith e o processo de escolha levou quase um ano. Mas é normal, pois não era costume contratar mulheres”, explica a profissional.

Depois de ser contratada, Ligia conta ainda que precisou de quase um ano para se adaptar e ganhar a confiança dos homens com quem trabalhava. “Flexibilidade, paciência e diálogo foram fundamentais para que chegasse a esse nível e ganhasse a confiança da minha equipe”, conclui a executiva.

Formada em Letras (Português e Alemão) pela PUC de Campinas, com especialização em estratégia e gestão de empresas na Unicamp e MBA em gestão empresarial pela Fundação Dom Cabral, Ligia também acredita que estudar é um fator decisivo para as mulheres que querem chegar a cargos de chefia. “Estudar sempre, pois a mulher precisa provar sua competência todos os dias e estar cada vez mais informada sobre as novidades do mercado. Um ponto positivo é que as mulheres possuem uma característica natural que é a percepção aguçada no trato com pessoas e isso é um grande diferencial para se tornar uma líder”, completa.