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19/12/2008 - 09:00

Pesquisa de algas marinhas para ração ajudará a recuperar o meio ambiente


Universidade gaúcha e empresa paranaense desenvolvem alternativa auto-sustentável para a indústria de peixes criados em cativeiro.

Um produto de origem vegetal que vai alimentar peixes nobres em cativeiro e, ao mesmo tempo, diminuir a toxicidade dos dejetos animais, reduzir a pesca predatória de várias espécies, não usar água doce na produção e ainda absorver gás carbônico, cujo excesso ameaça o meio ambiente. Esse produto, com tantos atributos, é o óleo derivado de algas marinhas que está sendo desenvolvido pela Imcopa, maior produtora e exportadora de derivados de soja não-transgênica do mundo, com a ajuda da Furg (Fundação Universidade Federal do Rio Grande), de Rio Grande - RS. A indústria, sediada em Araucária, Região Metropolitana de Curitiba, prefere apostar em um nicho de mercado rentável e que não prejudique a natureza: um óleo elaborado a partir de microalgas marinhas, que vai enriquecer com ácidos graxos a alimentação de peixes nobres criados em cativeiro, como o salmão, a truta e o bacalhau. Segundo uma proposta de resolução aprovada pelo Parlamento Europeu em 2005, a produção mundial de óleo de peixe, quase toda destinada para esse fim, é da ordem de 1,5 milhão de toneladas por ano.

"A Imcopa pretende contribuir de maneira sustentável com o processo de produção de óleo de algas", afirma o diretor de operações da empresa, José Enrique Traver. Há várias questões ambientais envolvendo a produção da farinha e do óleo de peixe usados no enriquecimento da ração para alimentar animais criados em cativeiro, mas a principal delas é a pesca predatória. São espécies retiradas dos oceanos em grande escala, mas de baixo valor comercial. Em vez de irem à mesa de quem mais precisa de comida, acabam quase que totalmente destinadas à produção de ração. São anchovetas, manjubas, sardinhas e várias outras espécies. É necessário dispor de dez quilos desse tipo de peixe, rico em nutrientes, para alimentar um único quilo de salmão, por exemplo. Mas a própria indústria da ração sequer conseguirá sustentar-se dentro de poucos anos. "Com o crescimento acelerado da aqüicultura a produção de farinha e óleo ficam limitadas e isso acaba prejudicando o desenvolvimento da indústria de peixes nobres", explica Traver. No período entre 1970 e 2002, a produção da aqüicultura aumentou 15 vezes, passando de 3,6 milhões de toneladas para 51 milhões de toneladas, diz o Parlamento Europeu. Com a taxa de crescimento anual mundial de 6%, a atividade deverá ultrapassar a pesca de captura na produção de peixes, crustáceos comestíveis e moluscos em 2015, uma vez que o nível das capturas de peixe permanece estável.

Agora, o desafio de encontrar um substituto da farinha e do óleo de peixe com os mesmos níveis de ácidos graxos ômega-3 e ômega-6, está a um passo de ser vencido.

Com US$ 10 milhões investidos em pesquisas com as algas, incluindo R$ 9 milhões liberados pela Finep (Financiadora de Estudos e Projetos, vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia), a Imcopa levará 36 meses para concluir a pesquisa, que foi iniciada em maio último. "Nesta primeira fase estamos aprendendo a criar condições para desenvolver a alimentação das algas, a ambientação e o manuseio", diz Osires de Melo, gerente de desenvolvimento de mercado da Imcopa e responsável pelo projeto. "Quando a pesquisa estiver concluída, poderemos retirar os ácidos graxos das algas e adicioná-los ao farelo e ao óleo de soja. Hoje 50% do óleo que vai para a ração vêm de peixes. A outra metade é óleo vegetal", esclarece Melo. Com a pesquisa, afirma o gerente, também será possível enriquecer com ácidos graxos o óleo de soja para consumo humano.

Saldo ambiental positivo - Cinco espécies diferentes de algas estão sendo pesquisadas nos laboratórios da Imcopa, em Araucária - PR, e também na Furg, sob a supervisão do engenheiro de alimentos, Dr. Jorge Alberto Costa, em Rio Grande. De acordo com o pesquisador, a capacidade de dos peixes em digerir as algas é de 90% e nenhum outro alimento chega a esse percentual. Costa afirma que "isso reduz a quantidade e a toxicidade das fezes do animal que são lançadas ao meio ambiente". Mas a utilização das algas traz ainda mais vantagens do que se imagina: enquanto um hectare de soja rende 600 litros de óleo por ano, um hectare com tanques de alga (com profundidade entre 30 e 40 cm) pode fornecer até 120 mil litros, dependendo da espécie utilizada. Quer dizer, as algas exigem uma área duzentas vezes menor para produzirem uma quantidade igual. Ainda há economia com a irrigação de água doce, já que é preciso apenas água salgada ou salobra para ambientar as algas. Enquanto esses microorganismos fazem a fotossíntese, capturam o famigerado gás carbônico da atmosfera e liberam oxigênio puro. Uma das algas pesquisadas usa o melaço que sobra da produção do farelo de soja como fonte de carbono. Sem contar que a Imcopa pretende usar o carbono que sai pelas chaminés da indústria no processo de alimentação dos microorganismos, em um ciclo auto-sustentável e limpo.

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