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16/01/2009 - 07:21

Minha fuga sem fim

Obra da Martins, Minha fuga sem fim, é autobiografia do ex-ativista político Cesare Battisti, que acaba de ser considerado refugiado político no Brasil.

Culpado ou inocente? Curiosamente, “Minha fuga sem fim”, o livro de Cesare Battisti, ex-militante italiano do grupo subversivo Pac – Proletários Armados para o Comunismo–, conta como ele conseguiu ser ambas as coisas, ao mesmo tempo.

Segundo ele, é “culpado de conspiração, mas jamais de crimes de sangue”, além de vítima de uma série de erros e abusos judiciários, tanto da Itália quanto da França, onde primeiramente se exilou. Battisti foi transformado em bode expiatório, segundo o prefaciador do livro, Bernard-Henri Lévy.

Foi condenado na Itália à prisão perpétua e, em 2007, preso no Rio de Janeiro, em uma ação conjunta dos governos brasileiro, francês e italiano. Hoje (13/01/2009), passa a ser refugiado político no Brasil, após decisão do ministro da Justiça, Tarso Genro.

Cesare Battisti é uma figura típica dos “anos de chumbo” da Itália, um reflexo prolongado e ampliado do Movimento de 1968 francês, mas com envolvimento além da classe estudantil. Nele acabou se infiltrando uma série de organizações criminosas como, entre outras, a máfia, grupos terroristas da Europa e do Oriente Médio, saudosistas do Fascio e agentes mais ou menos secretos.

Nascido em 1954 num subúrbio de Roma, de uma família de condições modestas, de filiação comunista de um lado e católica do outro, envolveu-se, na primeira juventude, com pequenos furtos e assaltos à mão armada, o que lhe rendeu dois anos de prisão, em meados da década de 1970.

Ao ser solto, foi morar num prédio ocupado por jovens do Movimento, no qual passou a atuar a partir de 1977. Aí começou seu envolvimento com o pac. Conheceu Pietro Mutti, um de seus fundadores. Battisti e Mutti ficaram mais do que amigos e participaram juntos de pequenos crimes que tinham a finalidade de levantar dinheiro para os militantes clandestinos. Militantes por quê? Minha fuga sem fim explica bem o panorama pós-1968 na Itália: vagas de migrantes que vêm do sul para o norte em busca de trabalho; desemprego; a industrialização tardia; economia claudicante; ranço fascista.

Nesse meio ocorrem quatro homicídios pelos quais, numa operação antiterrorista realizada em 1979, Battisti é considerado responsável e é preso no cárcere de Frosinone. De lá é retirado em 1981 pelo amigo Mutti e seu grupo, foge para Paris, onde permanece um ano como clandestino, e de lá vai para o México, em que fica oito anos e começa a escrever (hoje ele já tem quinze livros publicados, inclusive por editoras francesas de primeira plana).

Em 1990, sempre como clandestino, volta para Paris, onde já estavam a mulher e a filha. Continua a escrever e a traduzir romances do gênero noir. Apesar de a Itália pedir sua extradição (o amigo Mutti, “arrependido”, o havia delatado à polícia italiana, atribuindo-lhe a execução dos quatro assassinatos), a “Doutrina Mitterrand” o protege como ex-terrorista que havia renunciado à violência. Ele se torna livre. Entretanto, em 2004, no governo Chirac, a extradição é concedida. Cesare Battisti tem de fugir novamente.

Por que o Brasil? Em que circunstâncias? Tudo isso está em Minha fuga sem fim.

Minha fuga sem fim, de Cesare Battisti, tradução: Dorothée de Bruchard, prefácio: Berbard-Henri Lévy, posfácio: Fred Vargas. Editora: Martins | ISBN 978-85-7707-005-3/ 288 páginas, por R$ 47,30.

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