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14/03/2007 - 07:45

Entre a estética do mundo globalizado e a da Grécia antiga

Individual do artista Vlad da Hora, nos Correios, trava diálogo entre o esporte, a pintura e o corpo contemporâneo

O pintor pernambucano Vlad da Hora apresentará sua primeira individual Atlético Rio, no Centro Cultural Correios. São 15 pinturas em acrílica sobre tela (algumas em grande escala, atingindo seis metros de comprimento), complementadas com colagens, piche, papel laminado, guache e fita adesiva. A referência ao Rio, onde o interesse pelas questões do culto ao corpo e ao esporte é explícito, esteve presente em cada momento da execução no exercício do artista em seu ateliê e segue como uma homenagem à cidade e aos corpos que circulam nas praias cariocas.

O objetivo do projeto Atlético Rio não é criar uma síntese apaziguadora entre a estética carioca e a pintura, mas um olhar que embora fascinado, se desloca com certa desconfiança transformando-se em ponto de partida para novas questões no exercício da pintura e suscitando alternativas para “o corpo contemporâneo anamorfoseado”. De um lado, o esporte, que existe como um fazer perene desde os primórdios da cultura ocidental na Grécia. Do outro, a pintura, uma prática ainda mais antiga que, transformada em arte, passou por sucessivas transformações e questionamentos ao longo da história. Pintura como meio de ver o esporte e o corpo, sendo por eles instigada. Como pode a arte contemporânea interrogar, analisar, absorver o fenômeno esportivo? Pode o esporte, por sua vez, ser um bom motivador para o exercício da pintura? É uma substância densa de conteúdo sócio-cultural, que poderá ajudar a construir o tecido da obra de arte, valorizando-a, impregnando-a com seus valores históricos e simbólicos? Não há respostas definitivas. Não há certezas. Pensamento e ação, visíveis pontos de convergência que podem ser desvelados e divididos: gestualidade, noção de performance, espaço semântico, plasticidade, ludicidade, além da existência de observadores.

Alguns trabalhos não têm referência direta ao esporte e refletem a preocupação do carioca com as questões do corpo e seu desempenho. A estética corporal das academias, que se aproxima do perfil atlético olímpico, exige que a construção de um modelo físico seja calculada com altas doses de racionalidade, sem espaço para movimentos espontâneos. Essas obras estabelecem pontes entre a estética do mundo globalizado e a dos gregos dos tempos antigos. Da Hora propõe uma discussão sobre os efeitos e sentidos da ação dos indivíduos sobre o próprio corpo. Interessa, aqui, questionar o que a ação do homem sobre a sua materialidade e o modo pelo qual ele justifica ou descreve essa ação, podem ensinar sobre o modo como cada um de nós experimenta o próprio corpo. É diante da construção de um novo corpo oferecido ao olhar do outro, que se aprende algo de muito significativo sobre a experiência de se ter um corpo. Em sua pintura, Vlad “recorta” algumas dessas construções, selecionadas por sua banalização no mundo contemporâneo, ou - inversamente – pela estranheza que ainda podem causar, que permitem levantar pontos críticos na relação entre as subjetividades e os corpos.

Esta mostra é o resultado do olhar pós-moderno do pintor que apresenta paradoxos entre duas potências atuantes: a vontade de representação e a vontade de expressão através da gestualidade abstrata. O maior obstáculo encontrado foi cruzar os dois universos, a princípio divergentes, e fazer com que dialogassem através das cores, das formas, de seus antagonismos e convergências. A pintura de Vlad discute com ironia a própria pintura e sua história.

Auto-retrato: A pintura abstrata - “Acho que minha pintura abstrata tem a ver com a investigação sobre a vida (ou a sua degeneração). Algo como uma dissecação, ou um tipo de arqueologia, onde no seu processo de procurar coisas desgastadas pelo tempo, a vida ainda aparecesse. Simbolicamente, refiro-me, nesses trabalhos, a um tempo muito adiante do nosso, como se a época em que vivemos fosse recuperada por arqueólogos do futuro. Os vestígios de nossa civilização consumista e violenta são descobertos pela elevação de placas de outdoors remanescentes, que foram tombados pelo vento há centenas de anos.” (VH)

A pintura figurativa -“No trabalho que faço com figuras também entram todos os elementos com os quais me preocupo, ou que simplesmente capturam o meu olhar. Casais em situações que envolvem certo mistério. Estariam brigando? Ou interagindo em paz, tratando de coisas banais? Ou se amando? Crio todo um repertório de seres, talvez réplicas do espaço de vida psicológico, da memória de todas as coisas que aconteceram na minha vida. Podem ser pessoas com as quais tenho vínculo afetivo, ou ainda seres produzidos pela interação entre o acaso e a intuição.” (VH)

Vlad da Hora apresenta: Atlético Rio, no Centro Cultural Correios, R. Visconde de Itaboraí, 20 – Centro.Telefones: (21) 2253-1580. Até 15 de abril, de terça a domingo, das 12h às 19h. Entrada franca.

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