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27/01/2009 - 10:27

É hora de acreditar na produçã

A crise financeira global, numa antítese irônica ao liberalismo exacerbado que pautou as três últimas décadas, está sendo domada justamente pela intervenção do Estado, via injeção de dinheiro público em instituições privadas. É um preço alto pago pelos contribuintes dos Estados Unidos, Europa e Ásia, que estão arcando com os imensos prejuízos causados por aqueles que substituíram manufatura, serviços e produtos agropecuários por papéis podres.

A paulatina retomada dos fluxos financeiros já se reflete na reação das bolsas de valores, mas ainda é muito tímido o impacto positivo no crédito, este crucial motor da economia. Mais uma demonstração de que o capital é sempre covarde, mesmo quando favorecido por decisões como a do governo brasileiro, de flexibilizar os depósitos compulsórios para que os bancos passem a realimentar os financiamentos. Aliás, a ineficácia da medida em termos práticos mostra que, às vezes, não basta ao poder público fazer proposições e viabilizar os meios; quando pertinente, é necessário o exercício legítimo da autoridade conferida pelo voto livre dos cidadãos para concretizar medidas que atendam aos interesses maiores de uma nação.

Passividade federal à parte é premente restabelecer o crédito, vencendo o ceticismo das instituições financeiras, para atenuar a recessão já presente nos mercados dos Estados Unidos e da Europa. Nesse sentido, o Estado tem missão exponencial, pois cabe a ele oferecer alternativas, mecanismos seguros e confiabilidade, pois o capital privado não se expõe a riscos em momentos de quebra de confiança. Não se pode prolongar essa situação de baixa oferta de financiamentos e de spreads exagerados, em especial no Brasil, onde já se registram os juros reais mais elevados do Planeta.

Tanto em termos emergenciais quanto a médio e longo prazos, a nova ordem econômica que emerge dessa crise irá ser muito mais focada na produção, nos ativos tangíveis, no chão de fábrica, na semente que fertiliza a terra. As prestidigitações financeiras, as swaps mágicas e ardilosas, os truques de tesouraria tendem a perder espaço. Já se observam declarações públicas de empresas que se aventuraram por esses caminhos incertos, anunciando a retomada de seu foco exclusivo na atividade-fim, no cerne de seu negócio.

Contudo, o caminho rumo a essa nova economia de mercado, na qual se vislumbra um reequilíbrio do capitalismo, exige ações pontuais e com resultados de curtíssimo prazo centrados na produção. Nesse sentido, é preponderante o papel do setor público, abrindo caminhos, resgatando a confiança e mostrando que não se pode ficar de braços cruzados esperando a crise ceifar empresas e empregos. Um bom exemplo da missão do Estado nesse processo de retomada do nível de atividade é o novíssimo Pró Trator — Agricultura Moderna para Todos, pelo qual os agricultores e pecuaristas paulistas poderão financiar aquele bem de capital sem pagar juros.

Para a execução do programa, a Nossa Caixa disponibilizou linha de crédito de R$ 100 milhões. A esta altura, o leitor deve estar assustado, pois juro zero no país dos juros altos parece obra dos “gênios” norte-americanos do subprime. Calma, pois não se trata de nada semelhante. A diferença entre os encargos financeiros aplicados pelo banco e os fixados para os beneficiários dos empréstimos será subvencionada pelo Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista — O Banco do Agronegócio Familiar (FEAP/BANAGRO), com total garantia do Governo de São Paulo. A medida foi estabelecida por decreto do governador José Serra (nº 53.653, de 4 de novembro de 2008). Sua operação é objeto de convênio entre a Secretaria de Agricultura e Abastecimento e a Nossa Caixa.

O enfrentamento da presente crise mundial somente será vitorioso no campo da produção. O socorro às instituições financeiras é indispensável, mas a solução efetiva está na esperança, na coragem, na fé e, principalmente, no trabalho nas fábricas, nas fazendas e dos prestadores de serviços, com o suporte financeiro de instituições sérias deste setor. No entanto, num cenário ainda agudo e permeado de incertezas, o Estado não pode abrir mão de ser o fiador da retomada econômica. Para isso, precisa de competência, criatividade e toda a ousadia que a correta gestão orçamentária e a responsabilidade fiscal permitirem a cada governo.

. Por: João Sampaio, economista, é o secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo e presidente do Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável (CONSEA).

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