Pequim enfrenta desafio para "civilizar" a população até as Olimpíadas

Pequim - Cuspes, poluição, banheiros sujos, propagandas de armas por celular e uma imprensa esportiva nacionalista -- as autoridades de Pequim admitiram nesta quarta-feira que têm muitos problemas a resolver a 500 dias do início da Olimpíada.

A franqueza incomum dos comentários aconteceu durante reunião de representantes da cidade em uma sessão anual do Parlamento. A imprensa estrangeira foi convidada a participar, mas os repórteres não puderam fazer perguntas.

"Todos têm responsabilidade de mostrar ao mundo como é o povo chinês", disse Deng Yaping, ex-campeã olímpica de tênis de mesa, antes de decorrer uma série de reclamações sobre banheiros, taxis e a imprensa.

"Todo mundo conhece nossa famosa comida, mas os toaletes em vários lugares, incluindo nas instalações esportivas, não correspondem às expectativas. Algumas vezes você não consegue nem entrar", disse ela a outras 27 pessoas que estavam na reunião, realizada na sede olímpica de Pequim. "Isso é inaceitável."

Zi Huayun, representante de Pequim no principal órgão consultivo do governo chinês, disse que as pessoas tem quatro hábitos principais: "Um, cuspir. Dois, não respeitar fila. Três, fumar em qualquer lugar -- às vezes até autoridades fazem isso. Quatro, xingar no dialeto de Pequim", disse ela.

"Para ser honesto, já vi até alguns dos nossos membros cuspindo. O que podemos fazer quando autoridades agem tão incivilizadamente?".

Xu Zhihong, presidente da prestigiada Universidade de Pequim, disse que mensagens de texto por telefones celulares oferecendo armas e facas para venda era outro ponto de embaraço para Pequim.

A imprensa chinesa também tem adotado uma postura errada, de acordo com Zhao Qizheng, ex-chefe da agência de informação do Conselho Estatal.

"A mídia algumas vezes exagera nas emoções nacionalistas... usando palavras de guerra para descrever jogos esportivos, o que pode iludir pessoas jovens", disse ele.

Ouvindo a todas as reclamações, o chefe do Partido Comunista de Pequim, Liu Qi, disse que compreendia a seriedade do desafio exposto diante da cidade.

"Todos nós sentimos o mesmo", disse ele, antes de acrescentar que estava confiante no bom comportamento da cidade e do país como um todo quando os Jogos acontecerem.

"Estou totalmente convencido que teremos uma Olimpíada civilizada." | Por: Ben Blanchard e Liu Zhen/Reuters