A real crise começa após o Carnaval

Para especialista, qualquer tipo de ‘ajuste’ que possa ser feito na nossa economia, pode ser uma tentativa forçada de conter a inflação e ‘maquiar’ uma possível recessão do Brasil.

Apesar das declarações do presidente Luiz Ignácio Lula da Silva de que a crise não atingirá o Brasil, a conclusão a que se chega, pela fase que passa o mercado mundial, é a de que tempos “negros” chegarão ao nosso País após o carnaval.

De acordo com o advogado tributarista Antonio Gonçalves*, do Antonio Gonçalves Advogados Associados, o Brasil, por ser um País vendedor, terá problemas já que as nações compradoras fecharam seus mercados. “E a ‘bomba’ só vai estourar após o Carnaval pelo fato de que no Brasil tem-se a idéia de que o ano começa após o feriado. Além disso, até agora o governo tem transmitido uma mensagem otimista para não desaquecer a economia, tanto a de final de ano, resultando em um Natal com aumento nas vendas, quanto à do feriado brasileiro ‘mais tradicional’, que é o Carnaval”. Entretanto, algumas ações, como a redução de juros e de tributos já estão em andamento, o que significa que estamos em crise.

Para ele, a maioria dos grandes países se adequou à crise, enquanto os EUA esperam por ‘tempos negros’. “A grande questão é que não somos um mercado comprador, mas sim vendedor. Se os países da Europa e os EUA, que são compradores, estão com problemas financeiros, nós, que vendemos, não podemos dizer que não temos crise, já que não daremos ‘vazão’ aos nossos produtos. Vivemos em função do dólar, que está desvalorizado. A taxa cambial, apesar de seguidas intervenções do Banco Central, não pára de aumentar. Como serão pagos os empréstimos que foram contraídos quando a matéria-prima estava mais barata e havia demanda? É por isso que a maioria das empresas está com problemas financeiros. Se o Brasil é um país vendedor, precisa produzir. Para produzir, precisa ter dinheiro. É diferente de quem compra, pois o comprador não precisa investir, apenas fecha o mercado”, pondera.

O advogado explica que a solução é se preparar para tempos difíceis. “Após o Carnaval o presidente Lula provavelmente dirá que o Brasil terá de fazer pequenos ajustes na economia, o que caracterizaria uma recessão ‘maquiada’, na tentativa forçada de conter uma inflação que pode vir e ainda não veio”. A partir daí, além dos problemas da recessão, começarão os crimes tributários, demissões, falências, litígios no Judiciário, e todos os demais obstáculos decorrentes da falta de crédito às empresas.

Antonio Gonçalves, advogado, é pós-graduado em Direito Tributário (FGV), Direito Penal Empresarial (FGV) e Direito Penal - Teoria dos Delitos (Universidade de Salamanca - Espanha). Mestre em Filosofia do Direito e Doutorando pela PUC-SP. É especialista em Direito Penal Empresarial Europeu pela Universidade de Coimbra (Portugal); em Criminologia Internacional: ênfase em Novas armas contra o terrorismo pelo Istituto Superiore Internazionale di Scienze Criminali, Siracusa (Itália); e em Direito Ambiental Constitucional pela Escola Superior de Direito Constitucional. Fundador da banca Antonio Gonçalves Advogados Associados, é autor, co-autor e coordenador de diversas obras, entre elas, "Quando os avanços parecem retrocessos -Um estudo comparativo do Código Civil de 2002 e do Código Penal com os grandes Códigos da História" (Manole, 2007) e "A História do Direito São Paulo" (Academia Brasileira de História, Cultura, Genealogia e Heráldica, 2008).