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29/01/2009 - 09:33

Inserção da Espanha na Economia Moderna

Estive em Barcelona nas últimas duas semanas participando de um curso ministrado por uma renomada escola de administração espanhola, no âmbito de um MBA que estou cursando no Brasil em prestigiosa escola de propaganda e marketing.

Como parte do trabalho de conclusão desse programa de intercâmbio, fui encarregado de refletir sobre o comércio bilateral entra Espanha e América Latina, em particular Brasil, e sobre como poderiam ser maximizadas as relações entre Europa e América Latina, entre Espanha e Brasil.

Poderia iniciar essa reflexão salientando que a Espanha, apesar dos grandes investimentos realizados no Brasil nos setores financeiro e de telecomunicações, é apenas o vigésimo principal país exportador para o Brasil. Além disso, entre os produtos espanhóis adquiridos pelo Brasil, são poucos os de elevado valor agregado, em particular máquinas e equipamentos, que estão entre os principais itens adquiridos pelo Brasil no exterior. Também poderia discorrer sobre as oportunidades de investimento no setor turístico e hoteleiro no nordeste brasileiro, que, aliás, já vive a forte presença de investidores espanhóis.

Entretanto, acredito que uma maior aproximação entre Espanha e o resto do mundo, inclusa a América Latina, na qual o Brasil desempenha um importante papel, vai muito além das relações comerciais. De fato, é nas relações pessoais que reside a maior fraqueza dos espanhóis.

A imprensa brasileira vem ultimamente falando sobre os maus tratos a brasileiros ao tentarem ingressar na Espanha, atitude essa justificada pela necessidade de evitar o acesso ao velho mundo de prostitutas, traficantes e de todo o tipo de imigrante ilegal.

Concordo com o princípio, mas rechaço o excesso. É bem verdade que as ensolaradas praias brasileiras, aliadas às disparidades sociais existentes nesse país, herança do regime escravocrata instaurado pelos ibéricos e que aqui reinou por séculos, ajudam a passar no exterior a imagem de um Brasil candidato a uma república decadente, exportador de todo tipo de mal-caráter. Para ajudar, a televisão mundial não cansa de divulgar cenas do carnaval brasileiro, que mostram homens e mulheres em estado nem um pouco puritano. Entretanto, assim como a África não começa nos Pirineus, conforme afirmam alguns, assim como nem todos os portugueses possuem um raciocínio lento, conforme reza a lenda, e assim como nem todos os espanhóis são arrogantes, conforme a percepção mundial, nem todas as brasileiras são prostitutas e nem todos os brasileiros são traficantes. Ademais, ainda que isso fosse verdade, se existe a oferta é porque existe a demanda e, nesse caso, se desejam evitar o tráfico de drogas e de sexo, deveriam investir na elevação moral do mais famoso reino católico da história universal (ou será que católicos eram apenas os reis à época do descobrimento das Américas?).

Mudança de princípios, porém, é algo mais difícil de operar do que algumas bofetadas nos brasileiros que tentam ingressar na Espanha, ainda que apenas por um breve período de tempo, para visitar locais turísticos ou alguns familiares. Humilhar é mais fácil do que reconhecer os próprios erros, do que aceitar que a podridão está na mente de uma sociedade decadente, que enche o peito para dizer que faz parte da Comunidade Européia, ainda que essa mesma comunidade veja com certo desdém a presença dos “irmãos” ibéricos em seu seio, não é mesmo?

Há a necessidade premente, portanto, de melhor tratar os brasileiros que desembarcam na Espanha em busca de proximidade cultural, de descanso, de um mergulho no passado e das melhores idéias para o futuro. Brasileiros que trabalham, que estudam, que possuem seu valor e que, portanto, devem ser respeitados, bem tratados e num ou outro caso, reverenciados pela excelência que atingiram em seus campos de atuação.

Ademais, que direito têm as autoridades espanholas (ou de qualquer outro país) para agredir moral e fisicamente os turistas, empresários, artistas e estudantes brasileiros que desembarcam na Espanha. Há alguns dias atrás chegaram a quebrar os dentes de um músico e ontem mesmo repatriaram mais de 20 brasileiros que tentaram ingressar na Espanha, sem qualquer justificativa e após horas de humilhação. Em 2008, 2.500 brasileiros tiveram seu ingresso na Espanha barrado. Não se trata, portanto, de casos isolados, mas de uma afronta à nação brasileira. Seria menos doloroso romper as relações com o Brasil!

Ah, mas os problemas não terminam aí, pois o rigoroso controle fronteiriço espanhol barra brasileiros honestos, mas deixa entrar todo tipo de mal-caráter, já que a criminalidade no país, que certamente não provém dos seus nativos (não posso acreditar que tenham chegado a esse ponto), é algo tão certo quanto dois mais dois igual a quatro. Eu, por exemplo, dentro de uma locadora de carros (Europcar da Gran Via de Barcelona), a portas fechadas, tive minha mala, com computador, calculadora, algumas roupas, documento de identidade e todos os meus cartões de crédito surrupiados num breve instante que a deixei de vista. Mais de 2.000 euros de prejuízo, que poderia ter deixado no país na forma de compras e/ou aquisição de serviços. Um prejuízo, entretanto, que nem de sombra afeta-me como a humilhação de ter entrado em Montecarlo, destino para o qual me dirigia ao alugar o carro, com uma sacola de roupas, no lugar de uma pequena mala de mão, que havia sido roubada horas antes. Para piorar, uma colega de curso teve seu passaporte roubado nesse mesmo dia no metrô e um amigo teve sua bolsa completamente revirada durante a permanência em uma loja de luxo do Paseig de Grácia! Quando contei na sala o que havia ocorrido comigo, o professor me disse: Então você já foi roubado aqui em Barcelona. Bem vindo ao clube. Eu já fui roubada duas vezes!

País de ladrões, cheguei a bradar, quando um amigo lembrou-me que a criminalidade no Brasil também anda à solta. Entretanto, nós brasileiros não saímos por aí vangloriando-nos pelo fato de sermos um país de primeiro mundo. Na verdade, somos bem conscientes do fato de sermos um a sociedade em desenvolvimento, com todos os problemas que as diversidades sociais podem causar, incluso a criminalidade. Qual a desculpa da Espanha, porém, para os achaques aos seus turistas que, certamente, serão cada vez menos numerosos, pois além de roubados, são vergonhosamente mal-tratados em restaurantes e bares (eu mesmo fui testemunha, em três ocasiões, de mal tratos a turistas, ainda que realizados de maneira inconsciente, já que os espanhóis não são grosseiros apenas com os turistas, mas entre eles também).

Espanta-me que sendo a família do Rei proveniente de Barcelona, nem mesmo essa cidade seja estimulada a melhorar, ainda mais que é uma das mais visitadas da Espanha. É claro que a infra-estrutura da cidade melhorou bastante por ocasião das Olimpíadas, como costumam dizer, mas isso já é passado, já ocorreu há quase vinte anos! É necessário continuar inovando e mais, que tudo, investir na formação das pessoas para que sempre atendam seus visitantes, aqueles que sustentam boa parte da população, com o devido respeito e atenção.

Portanto, para melhorar as relações comerciais com a América Latina e, em particular, com o Brasil, os espanhóis devem antes de mais nada rever seu comportamento, melhorar o policiamento e, sobretudo, seus critérios de seleção, de modo a barrar o ingresso apenas de quem pode realmente representar um perigo à sociedade. De outra forma, corre-se o risco de cada vez mais pessoas assumirem o comportamento da infanta Carlota Joaquina ao deixar o Brasil, a qual teria dito por essa ocasião: Desse país, não quero levar nem a poeira de meus sapatos!

. Por: Ronaldo Padovani, estudante de MBA, São Paulo [ [email protected] ].

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