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31/01/2009 - 10:31

Depois da tempestade

Situação Mundial.-A situação continua a se normalizar nos mercados internacionais. Normalizar em termos das cotações das commodities estarem se aproximando de preços relativos que se encontram mais em consonância com a economia real e menos dependentes do excesso de capital disponível para operações de especulação. O descolamento dos preços do milho em relação aos do petróleo, que aparentemente encontrou sua referência (ao redor de US$ 45-50 por barril), se mantém. Nesta situação, já é possível visualizar um preço de referência do milho um pouco abaixo de US$ 4 por bushel, que é um patamar semelhante ao que se verificou entre meados de novembro de 2006 e início de dezembro de 2007, quando os preços do cereal iniciaram sua escalada. Este crescimento violento do preço do milho no mercado internacional foi, em parte, provocado pelo aumento do preço do petróleo e, em parte, pelas condições que vigoraram no início da safra americana de 2008.

O aumento do preço do petróleo abriu caminho para a viabilização de uma série de empreendimentos de produção de etanol nos Estados Unidos que introduziram um desequilíbrio no consumo de milho e provocaram uma euforia de preços. A redução recente do preço do petróleo tem reduzido a viabilidade destes empreendimentos (atingindo, inclusive, o setor de produção de álcool de cana de açúcar no Brasil) e colocando um pouco de ordem na casa, sinalizando um crescimento mais racional desta atividade nos Estados Unidos. O resultado tem sido uma melhor adequação dos estoques com relação ao consumo esperado, sinalizando um ambiente um pouco mais confortável em termos de abastecimento futuro. Mesmo os preços mais elevados verificados ao longo de 2008 induziram agricultores do mundo inteiro a aumentarem a área plantada com milho, o que refletiu em um acréscimo na produção.

Por outro lado, a disponibilidade de dinheiro para apostas no futuro é algo que está em falta. Desta forma, os instrumentos de mercado futuro têm retornado à sua função original de garantia contra flutuações de preços e menos de jogatina ou de ganhos rápidos em bolsas e mercados futuros.

Por enquanto, as informações sobre o futuro se encontram a alguns meses adiante, quando começarem a circular as informações sobre a disposição dos agricultores americanos com relação ao plantio da próxima safra (que não se mostra muito animadora com relação ao milho, face aos ainda elevados custos dos insumos). Uma sinalização a respeito desta disposição é a situação na Argentina, onde verificou-se uma forte redução na área plantada (cerca de 15%), o que está sendo agravado por uma das maiores secas que ocorreram no país vizinho. Como as lavouras ainda estão no campo, muito das projeções de rendimento são opiniões que necessitam ainda ser verificadas. Caso estas projeções negativas se confirmem, a produção argentina poderia ser reduzida em mais de 6 milhões de toneladas de um total de 22,3 milhões na safra passada (segundo estimativas da Bolsa de Cereais de Rosário, Argentina - www.bcr.com.ar). A consequência seria uma redução de um quantitativo semelhante nas exportações em função da política de privilegiar o mercado interno implantada pelo atual governo argentino.

Nos Estados Unidos, a principal novidade é a continuação da redução das estimativas sobre o uso do milho para produção de etanol, embora a quantidade a ser utilizada neste ano ainda seja cerca de 19% superior à utilizada no ano passado. Isto é decorrência da paralisação de algumas fábricas em função de problemas de rentabilidade e de compromissos assumidos quando o preço do milho estava em nível elevado.

Situação Interna - No Brasil, as exportações necessárias para escoar o excesso de produção apresentaram mais uma reação no mês de dezembro (e existem sinais de que continuaram em janeiro). Apesar disto, o total exportado no ano de 2008 (cerca de 6,37 milhões de toneladas) foi insuficiente para retirar o excesso de produto do mercado. A reação nas exportações nos dois últimos meses de 2008 (e, caso se confirme, em janeiro de 2009) foi resultado do excesso de milho existente no mercado interno (que deprimiu o preço do milho no Brasil) e a subida na cotação do dólar em decorrência da crise externa do segundo semestre de 2008.

Mesmo assim, o país chegará ao início da colheita da safra de verão com um estoque que será o maior dos últimos oito anos. O estoque de passagem (segundo estimativas da Conab) é suficiente para afetar o mercado de milho durante todo o ano de 2009 e, dependendo do desdobramento da safra de verão e da safrinha, ainda exercer influência sobre o início de 2010.

O fator que poderá modificar esta situação é o efeito da situação climática desfavorável que está afetando a produção de milho na região Sul do Brasil. As informações disponíveis indicam reduções de até 30% na produção no Rio Grande do Sul. Entretanto estas informações dever ser consideradas ainda com cautela, tendo em vista o largo período de plantio de milho neste estado. Os plantios realizados no início do período recomendado escaparam da seca, porém parte dos plantios que foram realizados mais tarde se encontram em fases mais sensíveis à deficiência hídrica. Já estão ocorrendo chuvas esparsas em algumas regiões do Rio Grande do Sul que podem contribuir para redução dos prejuízos. Como o resultado final é a soma de todos os plantios em diferentes épocas, é o caso de esperar para ver.

O problema de uma quebra na produção nos estados da região Sul (e, de forma mais dramática, no Rio Grande do Sul) está na sua posição de principal produtora na época da safra e também maior consumidora de milho no Brasil. No caso do Rio Grande do Sul, esta situação se complica em decorrência da distância dos polos de produção do Centro-Oeste. Em decorrência da situação climática na Argentina, as condições de abastecimento neste estado podem apresentar dificuldades caso o quadro se mostre definitivo.

Em decorrência destes fatos, verificou-se uma reação nos preços internos. A reação teve início nos preços de milho nos portos e começa a se transmitir para as regiões produtoras na medida em que as notícias de problemas climáticos no Sul do Brasil se tornam mais frequentes (um acompanhamento semanal do preço do milho pode ser encontrado no site do CIMilho - www.cnpms.embrapa.br/cimilho).

Os preços têm reagido, mesmo nas regiões de safrinha, interrompendo o ciclo de queda. Como a maior parte da produção nesta região se verifica na safrinha e a definição desta ocorrerá somente a partir de janeiro, com o preço mais favorável, parte considerável do milho que se encontrava armazenado na região foi escoado e de certa forma o problema potencial que poderia ser causado com o início da colheita da soja foi reduzido.

Do lado da demanda por milho, a produção de carne de aves começa a dar sinais de ajuste nos últimos meses, segundo dados divulgados pelo portal Avisite. A produção tem se mantido em níveis semelhantes aos primeiros meses de 2008 e a oferta interna também. Tudo passa a depender da normalização do mercado externo de carnes que irá ocorrer de forma gradual.

A próxima definição com relação ao milho está nos valores da safrinha. Os preços mais altos, em relação aos verificados em dezembro, podem fornecer algum incentivo para o plantio. Os problema climáticos afetaram também a produção de soja; caso estes tenham sido realmente significantes, pode ocorrer um incentivo para os agricultores tentarem recuperar o prejuízo com o plantio do milho na safrinha. Mas isto é uma definição que se delineará com maior firmeza no próximo mês.

. Por: João Carlos Garcia e Jason de Oliveira Duarte, Pesquisadores da área de economia agrícola da Embrapa Milho e Sorgo.

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