Transgênicos: é a hora!

Embora não pareça, e não se demonstre tanto assim, o que um brasileiro menos gosta é de criticar seu País, que em termos físicos é o melhor do mundo. No entanto, saindo da questão física, que sabemos ser excepcional, os cidadãos devem e têm a obrigação de criticar os erros cometidos pelo governo federal, que tolhem a vocação do Brasil para a grandeza. Um dos aspectos a ser criticado é o uso da terra em si, com tudo o que ela nos dá e pode dar.

Todos sabem que a hora da realização das mudanças que o Brasil merece já passou, em especial as grandes reformas muito discutidas e desejadas, que permanecem eternamente na gaveta. Contudo, entendemos que sempre é hora de ajudar o País e, por isso, - (mesmo o criticando) -, conclamamos a sociedade brasileira a se "movimentar" (sic), como já pediu o presidente há algum tempo.

Precisamos fazer melhor uso da terra, principalmente hoje, quando começa a faltar alimentos, não só no Brasil, mas em todo o mundo, e o fantasma da inflação já ronda as cercanias. Está mais do que hora de colocarmos os dois pés na terra e assumirmos a liderança da produção mundial de alimentos, conforme nossa posição no artigo "Brasil: país naturalmente agrícola".

Isso exige tomar de vez um posicionamento claro na produção de alimentos transgênicos, que são apenas uma evolução, uma seleção do que há de melhor, e não uma criação de satã para destruir a humanidade (sic). A destruição da humanidade ocorrerá com a falta de alimentos, com as guerras pelas migalhas e tudo de ruim que pode acompanhar uma situação de desespero, e não com um novo tipo de subsídio. Sabemos que o pânico é capaz de tudo!

Precisamos acabar com a história, no Brasil, de as minorias subjugarem insistentemente e quase permanentemente as maiorias, apenas por serem mais barulhentas, saírem às ruas, tomarem posições, etc. Todos sabem que, infelizmente, é assim que funciona, e quanto mais passividade mais atraso. Os pacatos são sempre vencidos pelos gritos dos "SAC - Sem Alguma Coisa". É hora da maioria pacata e silenciosa se mostrar e agir.

Precisamos nos conscientizar da importância da produção de alimentos cada vez mais elevada e, sobretudo, do papel que os produtos transgênicos podem desempenhar. O Brasil tem vocação para celeiro do mundo, como se diz desde sempre, mas nunca a concretiza. Agora pode ser a hora.

Os transgênicos são a evolução da espécie, assim como ocorre com o ser humano. Se procuramos melhorar em todos os aspectos, por que não na agropecuária? Há alguns anos rejeitamos testes já feitos pelos EUA sobre o assunto, os quais concluíram que os transgênicos não representam qualquer ameaça. Ao contrário, a ameaça é a falta de alimentos. É possível que tudo faça parte da guerra ideológica que vimos travando, por baixo dos panos, contra o grande satã do norte. Nossas exportações àquele País, que representavam cerca de 25% das nossas vendas antes do atual governo, e que hoje mal passam de 15%, para gáudio dos teóricos da latinização (sic).

Não podemos continuar como São Tomé, acreditando somente no que vemos ou fazemos, pois dessa forma não aceitaríamos as teorias de Newton, Leonardo da Vinci e Mozart (como acreditar se não os vimos?!). Nem em Colombo, nosso descobridor. E grande parte nem em Marylin Monroe.

Não podemos continuar aceitando os argumentos da minoria destruidora que não acredita em evolução. Principalmente, quando o homo sapiens é o melhor exemplo da evolução. Se não tivesse mudado, será que estaria no estágio de desenvolvimento que está agora?

O que a Embrapa - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária faz há muitos anos é justamente melhorar as espécies. Quem é que não conhece e não gosta daquela maravilhosa uvinha verde sem sementes? Alguém ainda acha que ela é natural? E quem nunca comeu e adorou a maravilhosa Temóia, uma fruta resultante do cruzamento em laboratório da pinha com a graviola?

Nem temos conta de quanta variedade de plantas e flores existe e que foi criada artificialmente, e que apreciamos por ser linda. E a enorme rosa vermelha venezuelana, equivalente a várias das nossas normais?

Será que devemos deixar alguém morrer só para não fazer um transplante de coração, já que o homem não deve modificar nada? Vamos execrar o dr. Christian Barnard que fez o primeiro transplante de coração em Capetown na década de 60 e enforcá-lo, mesmo já morto? Vamos deixar uma pessoa cega eternamente cega, porque não devemos fazer um transplante de córnea?

O homo sapiens já se tornou um transgênico há muito tempo e todos aceitaram sem pestanejar. Então, por que não os alimentos? Por que não salvar a humanidade, que não consegue sobreviver sem se alimentar?

Brasil, até quando dormirás? Acorde! Participe do mundo e continue sua evolução. Se deixarmos apenas os outros evoluírem, como fizemos até agora, ficaremos cada vez mais distantes. Nem parecemos o País que criou o avião e o álcool combustível, e que tem um dos povos mais criativos do mundo.

Brasil, até quando?

. Por: Samir Keedi é economista, professor da Aduaneiras e autor, entre outras obras, do livro ABC do Comércio Exterior.