Difundir a prevenção do HPV

Especialistas dizem que um esforço concentrado das partes interessadas pode erradicar o câncer cervical

Graças a uma nova vacina - a vacina contra o papilomavírus humano, HPV - o câncer do colo do útero é hoje uma doença plenamente evitável e curável, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde. Ainda assim, anualmente mais de 86.000 mulheres na América Latina e no Caribe contraem câncer cervical e metade delas morre em conseqüência da doença.

Especialistas internacionais reuniram-se na sede da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) em Washington, D.C., no Dia Internacional da Mulher, em 8 de março, para debater estratégias para melhorar a prevenção do câncer do colo uterino na região.

O câncer cervical é o segundo tipo de câncer mais comum entre as mulheres na região em geral. Em alguns países, entre eles Haiti, Nicarágua, Peru e Bolívia, é o tipo de câncer mais prevalente que afeta as mulheres.

As diferenças dentro de cada país na incidência e nos índices de sobrevivência do câncer do colo uterino em muitos deles, como Equador, Bolívia, México, Peru e Costa Rica, entre outros, estão ligadas à pobreza e aos baixos níveis de educação.

Durante a conferência da OPAS, os especialistas concordaram em que o câncer cervical afeta os pobres em proporções muito maiores, particularmente os que vivem em áreas rurais. "A incidência e mortalidade do câncer cervical estão associadas a pobreza, baixo acesso [a rastreamento, detecção precoce e programas de tratamento], vida rural e baixos níveis educacionais", disse o Dr. Merle Lewis, da Unidade de Imunização da OPAS.

Os recursos limitados para a saúde pública e as diferentes prioridades e necessidades que competem por esses recursos complicam o quadro. As crenças, considerações culturais e limitações - como a escassez de mulheres profissionais em atendimento de saúde, o custo das visitas médicas e o receio do diagnóstico devido à crença, generalizada em certos grupos, de que o câncer do colo do útero automaticamente significa a morte - também representam um obstáculo, acrescentou o Dr. Lewis.

Há dois caminhos que podem ajudar as mulheres a evitar o câncer cervical: a nova vacina contra o HPV, que previne o câncer em meninas e jovens que a recebem antes de 26 anos de idade, e o rastreamento, de preferência anual, para todas as mulheres.

"O câncer cervical é plenamente evitável e curável, a um custo e risco baixos, quando se faz o rastreamento de mulheres assintomáticas, juntamente com diagnóstico apropriado, tratamento e acompanhamento", assegurou o Dr. Lewis. "Ainda assim, os programas de prevenção, rastreamento e detecção precoce na América Latina e no Caribe tiveram pouco ou nenhum êxito."

O México, por exemplo, tem um programa de rastreamento médico em vigor há 20 anos, observou o Dr. Lewis, mas menos de 13% dos casos potencialmente evitáveis foram prevenidos. Outros países, como Jamaica, Nicarágua e Equador, relatam que menos de 30% das mulheres que deveriam estar sendo rastreadas estão de fato sendo examinadas, segundo análises estatísticas de 2004 da OPAS sobre câncer cervical na América Latina e no Caribe.

Os especialistas sugerem uma estratégia múltipla para aumentar a prevenção na região e expressaram otimismo em relação à possibilidade da erradicação completa desse tipo de câncer se as partes interessadas - organizações internacionais, governos nacionais, trabalhadores da área de saúde e as mulheres e suas famílias - fizerem um esforço conjunto nesse sentido.

"Precisamos trabalhar juntos para garantir um compromisso político e econômico para lutar contra essa doença evitável", disse Marco Ferroni, subgerente do Departamento de Desenvolvimento Sustentável do BID. "Entre as tarefas-chave nas quais temos que nos concentrar agora estão a introdução da questão das vacinas contra o HPV em nossos diálogos com os funcionários dos países na região e o trabalho conjunto para desenvolver estratégias de vacinação e atenção médica que funcionem."

A estratégia de desenvolvimento social do BID deixa claro a intenção do Banco em concentrar-se nas doenças infecto-contagiosas, entre outros aspectos da saúde, disse Ferroni, acrescentando que o Banco tem uma disposição aberta nessa área em resposta às necessidades dos países. Além do registro da vacina e do apoio a sua distribuição, ele enfatizou a necessidade de fortalecer os sistemas de informação de saúde e tornar disponível aconselhamento e educação sobre reprodução, já que o HPV, o vírus que causa mais de 70% dos cânceres cervicais, é transmitido mediante o contato sexual.

A Dra. Anne Schuchat, do Centro para Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC), concordou que as parcerias são vitais para erradicar o câncer do colo uterino na região, citando o êxito de esforços conjuntos na erradicação de várias doenças no passado. "Precisamos fortalecer as parcerias entre os organismos, os setores privado e público e entre as gerações. Podemos obter o mesmo êxito que obtivemos no passado com a erradicação de doenças como a pólio, a rubéola e o sarampo se nos comprometermos firmemente com o futuro ao vacinar as meninas hoje", disse ela.

Jennifer Winkler, do programa de tecnologia apropriada para a saúde (PATH, na sigla em inglês), enfatizou a importância de mobilizar os grupos comunitários em torno da prevenção do câncer cervical. "Nós (PATH) fizemos um estudo no Peru que mostrou que as comunidades com equipes ativas de promoção comunitária apresentavam taxas mais altas de uso do rastreamento", disse ela, "e que conhecer outras mulheres que tinham sido examinadas e ter o apoio do marido também aumentavam as chances de que uma mulher fosse examinada."

A Dra. Olivia McDonald, diretora executiva da Junta Nacional de Planejamento Familiar da Jamaica, sugeriu que os organismos internacionais comprassem a vacina (que hoje custa $300 para as três doses recomendadas) em grandes quantidades para os países em desenvolvimento e oferecessem apoio de marketing social para difundir a informação em massa.