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12/02/2009 - 11:37

Entrevista Exclusiva com Arlindo Lopes, o Ator e Produtor de Ensina-me a Viver


Tudo começou com uma pequena coincidência e terminou com um grande espetáculo. Arlindo Lopes conta como foi sua trajetória para a produção da peça Ensina-me a Viver, na qual ele divide o palco com Glória Menezes. A peça, que tem a direção de João Falcão, está em cartaz no Teatro Leblon, Sala Marília Pêra, de quinta a sábado às 21h e domingo às 20h.

. Jornalista: Por que transformar em peça teatral, um filme dos anos 70?

- Arlindo Lopes: A primeira vez que o vi, foi no Corujão, eu tinha nove anos, e fiquei muito impressionado com a história, por que envolvia suicídio, amor, comédia, e um final surpreendente e não-convencional. Sempre que passava eu o assistia e, isso se deu nos meus dez, onze, até treze anos. Cresci vendo Ensina-me a Viver.

Daí, eu me matriculei na Casa de Artes Laranjeiras, a CAL, e para me formar em ator eu precisava escolher um texto e realizar o projeto final, mas eu não sabia qual. Pensei em Nelson Rodrigues, Shakespeare, mas nada me completou. Então eu fui procurar nas sinopses, fui pela ordem alfabética e por incrível que pareça caiu na letra “E” e, ai eu vi Ensina-me a Viver. A princípio, fiquei em dúvidas se era o mesmo da minha infância, e para a minha surpresa, o era.

Lembro que fiquei muito emocionado, por que eu cresci com esse filme e agora ele havia me aparecido como peça justo no momento em que eu estava precisando. Então, desde aquele ano, era 1996 e eu tinha 16, eu decidi que eu iria produzir aquele espetáculo.

. J: Quanto aos direitos autorais, como você os conseguiu?

- AL: Então, eu direcionei meu foco na produção dessa peça. Comecei a namorar essa possibilidade de comprar os seus direitos autorais. A oportunidade surgiu em 2003 quando atuei em Cazuza – O Tempo não Pára, com o personagem Dé Palmeira, do Barão Vermelho, e, paralelo a isso, a novela Sabor da Paixão, da Rede Globo.

Eu usaria o dinheiro do filme para comprar os direitos, mas ao saber que havia mais pessoas disputando comigo, como a Bibi ferreira, Tônia Carreiro e a Glória Menezes, achei que seria difícil. Então, eu busquei saber quais eram as possibilidades de comprá-los e a resposta que tive foi que a peça seria de quem chegasse primeiro na Sociedade Brasileira de Autores Teatrais – SBAT.

Não pensei duas vezes e fiz tudo para chegar na frente: madruguei na porta do prédio da SBAT, e esperei até que a representante dos direitos autorais internacionais chegasse. O engraçado foi que meia hora depois de ela chegar, chegou um menino também querendo comprar a peça, ou seja, se eu tivesse me atrasado meia hora, eu a perderia.

. J: E depois que você comprou, a produção foi rápida?

- AL: Não, mesmo. Eu e a minha produtora e sócia, Maria Simas, levemos 4 anos tentando arrumar patrocínio até que chegou um momento que ninguém mais acreditava, e, chegaram a achar que eu era um maluco por ter jogado muito dinheiro em um calhamaço de 62 páginas. Desanimei muitas vezes, ficava mal, por que eu ligava para as empresas e sempre ganhava um não. Isso desanimava, mas eu nunca desistia e insistia. Além do que, as coincidências que haviam acontecido me fizeram acreditar que eu deveria produzir a peça.

A luz no fim do túnel se deu depois que eu ganhei em primeiro lugar o prêmio da Funarte, no qual havia escrito o projeto quatro vezes, até que ganhamos o prêmio máximo.

Foi quando eu convidei o João Falcão pra dirigir o espetáculo, avisei que eu só tinha o valor do prêmio recebido, por que até então, nenhuma empresa quis patrocinar, mas ai, ele disse que dava para levar a peça à diante. Nesse momento eu explodi de felicidade, as coisas finalmente fluíam.

. J: Como começou a sua aproximação com o João Falcão?

- AL: Eu já tinha vontade de trabalhar com ele, então, em 2007,que foi a comemoração dos 80 anos de Ariano Suassuna, uma amiga minha tinha um projeto de fazer uma leitura do Auto da Comparecida, e daí ela me indicou para a produtora que logo me indicou para o João, que aceitou a minha participação. No inicio eu fiquei um pouco receoso quanto participar da leitura, mas eu fui. Quando eu cheguei lá eu pensei que ele fosse me dar um papel pequeno, por que, assim, eu lia e depois ficava sentado. Ele me deu Chicó, o mais influente da história.

No decorrer, estava nervoso, mas depois comecei a seguir tudo o que ele falava e quando dei por mim, a harmonia entre os que estavam atuando, inclusive eu, foi notória. Atuei super bem, incorporei tranquilamente o personagem, o sotaque já foi vindo, foi maravilhoso.

. J: E por que chamar o João para dirigir a peça?

- AL: Por que ele é um diretor que é moderno e ao mesmo tempo lúdico, poético, engraçado. Era a figura própria para Ensina-me a Viver.

. J: E a Glória Menezes, como ela entrou na peça?

- AL: Eu soube, através da Débora Falabella, que a Glória queria fazer a peça, e na época ela estava na novela Senhora do Destino, da Rede Globo, e eu na Da Cor do Pecado.

A própria Débora que me apresentou a Glória Menezes, e pediu para que eu falasse com ela sobre o meu projeto, mas achei que não era o momento, pois não tinha patrocínio, teatro, e preferi esperar. Daí, quando eu recebi o prêmio da Funarte eu fiquei mais seguro e resolvi ligar. Na verdade, foi a minha produtora que ligou, por que as pessoas sempre perguntavam minha idade, talvez por que minha voz não passasse maturidade, embora minhas idéias fossem boas e seguras.

No início, a Glória recusou o convite, falando que para ela, Ensina-me a Viver era um projeto que pertencia ao passado, porém, eu achei que aquilo não estava certo. Pensei de estar chateada por eu ter comprado os direitos, então, eu resolvi ligar pra ela e conversar sobre o que estava acontecendo e tentar convencê-la. Mas, o convite foi recusado.

Só que depois disso aconteceu a história da leitura do Alto da Comparecida e do convite ao João, que também sugeriu a Glória como a Maude. Então, eu pedi para a minha produtora, Maria Simas, ligar e convidá-la, por que se eu ligasse, ela iria pensar que eu era louco, pois já havia ficado uma hora ao telefone insistindo.

Enfim, ela resolveu entrar, no começo, como atriz convidada, mas depois numa das reuniões ela disse que quando entra em um projeto, ela faz o seu melhor, entra de cabeça, e por causa disso, virou sócia da peça. E foi assim mesmo, ela passou a investir e correr atrás, o que foi maravilhoso.

. J: Você ganhou o prêmio Qualidade Brasil 2008 como melhor ator?

- AL: Pois é, eu nunca havia ganhado um prêmio. Foi divertido, eu estava competindo com grandes atores, como Leonardo Medeiros, Jonas Block, a Glória também estava concorrendo. Foi bem legal, eu ganhei, a Glória ganhou, o João.

. J: Há alguma identificação entre você e Harold?

- AL: Ah! Sim. Acho que todos os adolescentes se identificam um pouco com Harold. É aquela fase que achamos que a vida é sem graça e as decepções são muito maiores.

Eu, assim como muitos jovens, já tive momentos assim, de estar pra baixo. É difícil nós entendermos que, quando se está crescendo, temos que começar a tomar decisões sérias na vida, como escolher uma profissão, uma faculdade, se colocar no mundo e as pessoas te cobram uma postura, assumir uma responsabilidade. É uma fase difícil.

. J: E os que assistem o espetáculo, o que eles dizem?

- AL: Muitos jovens que assistem se emocionam muito com a história. Alguns falaram comigo, disseram que já viveram histórias parecidas.

. J: Dá um exemplo.

- AL: Teve uma senhora pianista e um rapaz que era violinista, que assistiram e disseram que era a historia deles acontecendo no palco. Também uma mulher de 60 anos que tinha um namorado de 19, daí ela terminou com ele, porque achou que ele ia sofrer muito se ela morresse antes. Assim como eles, várias outras pessoas e, daí eu penso que quem sabe essa peça não serviu pra muitos refletirem sobre a situação e recomeçar uma história de amor que foi interrompida. Na verdade esse é o papel da arte, fazer com que as pessoas reflitam sobre algo.

. J: O que você acha do relacionamento de Harold e a Maude?

- AL: Eu acho que tudo é possível. O amor entre o Harold e a Maude é muito puro, transcende o carnal, é claro que existe esse desejo, mas o sentimento que há é diferente, quase espiritual, em que não importa a aparência, a idade. A Maude diz que " a gente não precisa de muros, e sim de pontes", então, para que colocar um muro em algo que se gosta, que se ama?

. J: Você já fez trabalhos na TV, assim como no teatro, qual desses você se identifica mais?

- AL: Teatro, sem dúvidas. Por que foi onde eu comecei tudo, onde eu me encontrei, descobri que era isso que eu queria fazer, é onde eu sou mais valorizado, há mais sentimento na realização dos projetos etc.

. J: Mas a sua experiência na televisão foi ruim?

- AL: Não, de maneira alguma. Foi interessante, acrescentou algo em mim. Gostar mais de teatro não significa que se me chamarem pra fazer algo na TV eu não vá aceitar. Se o projeto for interessante e somar algo em mim, eu vou fazer, até por que todos os trabalhos que realizei na TV foram importantes, aprendi muito. A TV é uma referência, mas é no teatro onde eu tenho minhas grandes amizades.

. J: Além do teatro, há outra coisa com a qual você se identifica?

- AL: Sim, o cinema. Tenho muita vontade de fazer mais longa metragem, também gosto dos teatros na TV, como Capitu, Hoje é Dia de Maria. Isso é a minha cara. Lembro que quando estreou Capitu, eu pensei, "Luis Fernando de Carvalho ainda não me descobriu" (risos).

. J: Mas você acha que esses trabalhos na TV são valorizados?

- AL: Sim. Eles não são populares, mas são valorizados.

. J: E, depois de Ensina-me a Viver, tem algum outro projeto?

- AL: Tem sim, mas ainda é mistério. Até tudo se acertar eu não posso revelar, mas logo, que estiver tudo em ordem, eu falarei.

. J: Muitos jovens sonham com a carreira no teatro, o que você tem a dizer sobre isso a eles?

- AL: No teatro tem que perseverar muito. É difícil. Eu sou um ator com uma cara comum, não sou nenhum galã, mas com muita perseverança eu realizo trabalhos. E, teatro é sempre o porto seguro de qualquer um que queira ingressar nessa área.

Tem que acreditar e produzir, por que é o melhor caminho. Uma frase da Maude, é que "o coração de quem nunca desistiu é sempre jovem", ou seja, não deixa de acreditar, de aprender.

A Glória é um grande exemplo disso. Ela é uma jovem, tem disposição física, fica sempre dando toques, ela corre, pula, conta piada. Mas, é aquilo, se você tem um sonho, vai em frente. Quantas pessoas me disseram que eu não ia conseguir, e hoje eu estou aqui, conseguindo.

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