Especialista explica o modelo de gestão de uma empresa familiar perante a crise

São Paulo - A crise mundial é uma realidade e seus reflexos no Brasil são indiscutíveis. Não se discute mais a existência da crise. A questão que surge no momento é como gerenciar uma empresa familiar durante esse delicado momento. Os noticiários trazem exemplos de retorno de familiares à frente dos negócios das sociedades familiares. Contudo, as empresas familiares se perguntam se esta é a melhor saída para superar os efeitos da crise mundial. “As opiniões se dividem, existindo os que defendem a saída de diretores externos, assim como os que condenam o ingresso de familiares na gestão”, explica o consultor e especialista em empresas familiares Pedro Podboi Adachi.

Para Adachi, não existe fórmula mágica que possa ser aplicada indistintamente a todas as organizações, já que a solução mais apropriada para uma empresa pode representar a desgraça para outra. “É importante ressaltar que a simples presença ou ausência de familiares na gestão de uma empresa familiar não pode servir como único argumento para definir se a gestão é profissional ou não. Uma gestão profissional ocorre quando pessoas capacitadas e competentes estão à frente do negócio, independente de serem membros da família proprietária ou de possuírem alguma participação societária”, explica o especialista.

O que pode ser percebido em países ou regiões que enfrentaram crises no passado, é que as empresas gerenciadas por membros da família-proprietária se recuperaram mais rapidamente dos efeitos perversos da crise e obtiveram melhores resultados do que outras organizações. “São diversos os fatores que acarretam esta reação mais ágil da empresa familiar gerida por um familiar, como a rapidez na tomada de decisões, a visão de longo prazo mais acentuada, a maior disposição de sacrifício pessoal, o profundo conhecimento do negócio, o compartilhamento da mesma cultura e valores e o elevado grau de comprometimento”, conta Adachi.

Adachi alerta também para o fato que um familiar na gestão de uma empresa familiar não é garantia de sucesso. Se o familiar não for competente e estiver verdadeiramente preparado para assumir o cargo, a tendência é que a empresa familiar deixe de existir. Pesquisas internacionais demonstram que apenas um terço das empresas familiares sobrevive até a segunda geração e destas somente 15% chegam à terceira.

Independente da presença de familiares da diretoria, existem diversos os aspectos que merecem atenção na gestão de uma empresa familiar para enfrentar a crise. Adachi explica que em momentos de crise é fundamental que a empresa seja conduzida por um líder experiente. “O piloto que realizou um pouso heróico no Rio Hudson é um exemplo da importância da experiência. Segundo especialistas, foi um pouso extremamente arriscado que somente teve sucesso graças às habilidades e à experiência do piloto, que se tornou um herói”, exemplifica o executivo.

Esse exemplo demonstra a importância da experiência do líder na gestão em uma empresa familiar no momento de crise. Fazendo uma analogia à gestão de uma empresa familiar, o gestor experiente, assim como o piloto-herói, tem maior condição de tomar a decisão correta, no momento adequado. “Desta forma, o caminho ideal para uma empresa familiar superar a crise é ter uma gestão adequada, o que inclui a adoção das boas práticas da governança corporativa, a elaboração de um planejamento estratégico, a preocupação com a sucessão e a preparação dos sócios e herdeiros. Uma gestão compartilhada, formada por familiares e profissionais externos pode representar a saída mais apropriada”, finaliza.

O executivo - Pedro Podboi Adachi é sócio-diretor da Societàs Consultoria, organização especializada em assessorar empresas familiares em assuntos como planejamento sucessório, governança corporativa e governança familiar. É professor universitário em diversas instituições, palestrante e pesquisador, além de ser autor do livro Família S.A. – Gestão de Empresas Familiares e Soluções de Conflitos.