Página Inicial
PORTAL MÍDIA KIT BOLETIM TV FATOR BRASIL PageRank
Busca: OK
CANAIS

20/02/2009 - 10:36

Bom senso, o antídoto contra o desemprego!

A implosão de quase 700 mil postos de trabalho, ocorrida no último trimestre de 2008, é a consequência mais visível e perversa da crise mundial no Brasil. Assim, não é sem razão que o tema venha ocupando espaços crescentes nas agendas do governo, entidades de classe representativas dos distintos setores de atividades e sindicatos dos trabalhadores. Dado o significado da questão — pois o emprego constitui-se no principal motor do consumo e da economia —, é preocupante constatar a dificuldade de acordo verificada nas negociações entre os representantes do capital, trabalho e poder público.

A necessária sinergia, fundamental para o enfrentamento das adversidades, está sendo substituída pela discordância quanto à redução da jornada de trabalho e salários (defendida pelos interlocutores patronais) e a estabilidade temporária no emprego, em especial nas empresas contempladas com ajuda estatal (conforme defendem trabalhadores e governo). Em meio a essas discussões, é preciso lembrar algo inexorável: é impossível mudar o passado — pelo menos sem perdas e sérias rupturas. Assim, acordos coletivos e dissídios estabelecidos na época das “vagas gordas” dificilmente podem ser revertidos.

Por outro lado, é possível — e desejável! — aprender com o passado, que guarda emblemática lição: não é recomendável reajustar salários acima da inflação. O ideal, na verdade, é que os ganhos dos trabalhadores variem na mesma proporção dos índices inflacionários. Acima disso, única e tão somente se houver efetivo ganho de produtividade. Apenas assim é possível conferir equilíbrio ao crescimento das empresas e do PIB. Infelizmente, contudo, verificaram-se no Brasil, em 2008 e em alguns anos anteriores, acordos coletivos absolutamente insensatos, mesmo se considerado o bom momento econômico em que foram celebrados. É inconcebível reajuste salarial de 9%, como ocorreu em várias categorias no ano passado, no contexto de uma inflação anual inferior a 5% e, em vários casos, sem o devido aumento de produtividade.

O mais grave dessa equivocada equação é que se cria uma situação muito difícil quando a conjuntura econômica entra em parafuso, como ocorre neste momento, ou mesmo ante uma redução pouco aguda do nível de atividade. Assim, talvez seja mais prudente a análise de uma terceira opção na sequência do diálogo entre trabalhadores, empresas e governos: um acordo para o futuro próximo (este sim temos o poder e o dever de mudar!), no sentido de que os dissídios coletivos de 2009 levem em conta e descontem os ganhos excedentes de 2008 (cerca de quatro pontos percentuais), a inflação do presente exercício e a variação da produtividade. Mesmo que isso resulte em reajuste zero em 2009, os trabalhadores teriam mais segurança quanto à permanência no emprego, as empresas poderiam planejar melhor a gestão de suas folhas de pagamento no transcurso da crise e estaria estabelecida uma nova e mais equilibrada referência para os acordos salariais.

Trata-se de alternativa razoável, na esteira da amarga lição relativa ao estabelecimento de acordos nem sempre sensatos celebrados ultimamente entre sindicatos patronais e de trabalhadores. É fundamental o esforço presente para manter os empregos, mas sem que se perca a perspectiva de futuro quanto à realidade dos dissídios coletivos. A certeza de que doravante prevalecerá o equilíbrio e a sensatez talvez seja mais importante para as empresas do que cortes de postos de trabalho no presente. Até porque cada demissão representa elevado custo financeiro e, mais do que isso, o desperdício do investimento feito no treinamento e formação dos trabalhadores. Além disso, cada posto de trabalho sacrificado significa um consumidor a menos e uma família com recursos financeiros limitados, estabelecendo-se um círculo vicioso nocivo à economia.

O crescimento do nível de empregos vinha representando sensível mudança no perfil da sociedade brasileira. Conforme demonstra o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 26 milhões de habitantes ascenderam nos últimos anos das classes D e E para a C, com a elevação de sua renda familiar entre R$ 1,5 mil e R$ 4,5 mil, graças à conquista de melhores postos de trabalho e aumento do registro em carteira e dos respectivos direitos. Devemos fazer imenso esforço para preservar esses ganhos e evitar o retrocesso à informalidade, a começar pela prevalência do bom senso.

. Por: Dieter Brandt, presidente da Heidelberg para a América do Sul e presidente da Afeigraf (Associação dos Agentes de Fornecedores de Equipamentos e Insumos para a Indústria Gráfica).

Enviar Imprimir


© Copyright 2006 - 2024 Fator Brasil. Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Tribeira