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27/02/2009 - 08:45

Políticas expansionistas para enfrentar a crise funcionam, mas não para todos os países


Estudo do BID examina lições de crises passadas em países da América Latina e do Caribe e o papel das agências multilaterais.

A crise financeira trouxe o keynesianismo de volta para o palco central do debate de políticas no mundo inteiro. Várias nações latino-americanas e caribenhas estão anunciando seus próprios pacotes de estímulo fiscal para tentar amenizar a mais recente contração de crédito global.

Um novo estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento mostra que as recessões são bem menos graves em países com espaço para adotar políticas monetárias e fiscais mais flexíveis. Isso, no entanto, não é algo que funcione em todos os países, uma vez que o sucesso depende das condições econômicas iniciais no momento da crise.

O estudo alerta que países em que o governo acumulou pouca poupança durante os anos de boom das commodities terão um espaço de ação limitado para aumentar os gastos a fim de aliviar a recessão que se avizinha como resultado da crise atual. Qualquer tentativa de ampliar acentuadamente os gastos pode corroer a confiança em sua capacidade de pagar as dívidas no futuro.

O estudo do BID, “Lidando com uma contração internacional do crédit respostas de política econômica a paradas bruscas no fluxo de capital externo para a América Latina”, examina respostas de política que foram bem-sucedidas em crises financeiras globais passadas e tira algumas lições importantes que podem esclarecer um pouco as opções de políticas que se apresentam para os países da região hoje.

“Sem boas condições econômicas iniciais, os países têm um raio de ação limitado”, disse Eduardo Cavallo, um dos economistas do BID que participaram do estudo. “Ainda assim, as condições iniciais não selam o destino. Decisões de política adequadas e apoio de organizações multilaterais podem ajudar a aliviar parte dessas limitações.”

Resposta de política econômica e comportamento do produto - O estudo encontrou que os países que foram capazes de adotar políticas fiscais e monetárias razoavelmente mais flexíveis após uma crise financeira tiveram uma redução do produto abaixo de 5%, enquanto nações com muito menos flexibilidade apresentaram contrações do produto acima de 10%.

O estudo analisou respostas de política econômica de 19 países em desenvolvimento durante as crises Tequila, asiática e russa na década de 1990, períodos em que o aumento dos spreads nas taxas de juros nacionais e as reduções nos fluxos de capital afetaram um grande grupo de países emergentes ao mesmo tempo.

“Os países que adotaram políticas anticíclicas definitivamente se saíram melhor, mas isso não significa que os países que não adotaram políticas contracíclicas teriam se saído melhor se o tivessem feito”, disse Cavallo. “Em alguns casos, suas condições econômicas iniciais eram tão frágeis que qualquer tentativa de ser mais agressivo poderia ter piorado a situação, por deteriorar a confiança em sua capacidade de crédito”.

Condições econômicas certas - Políticas anticíclicas bem-sucedidas durante crises financeiras funcionam quando o governo pode ampliar os gastos de maneira sustentável e conduzir políticas monetárias mais frouxas que não alimentem a inflação ou levem a problemas no balanço patrimonial nos setores público e privado quando ambos têm dívidas denominadas em dólares.

Para aumentar de forma sustentável a demanda agregada, os governos precisam assegurar que suas ações não venham a afetar a credibilidade e a solvência do país. Portanto, os países devem ter bancos centrais confiáveis que possam manter as expectativas de inflação sob controle usando recursos legítimos para enfrentar a crise.

Os países precisarão ter um nível razoável de reservas para cobrir os pagamentos de obrigações internacionais e proporcionar financiamento para o comércio. Níveis baixos de dívida em dólares darão aos bancos centrais mais flexibilidade para desvalorizar a moeda nacional a fim de tornar seus produtos mais competitivos no mercado internacional, disse o estudo.

A América Latina e o Caribe melhoraram suas condições econômicas desde a crise russa, o que lhes deu algum espaço de manobra, em particular na política monetária, para implementar medidas voltadas a enfrentar a crise, disse Alejandro Izquierdo, outro economista do BID que participou do estudo. Os países acumularam US$ 400 bilhões em reservas internacionais e reduziram substancialmente o nível de dívida denominada em dólares, principalmente dentro do sistema bancário, afirmou ele.

De acordo com o estudo, níveis mais baixos de dolarização da dívida permitiram que o Brasil, por exemplo, afrouxasse sua política monetária em meio à restrição de crédito de um modo que outros países não tiveram condições de fazer durante o período que se seguiu à crise russa.

Uma política monetária mais frouxa costuma levar a desvalorização da moeda e a um aumento nas exportações, o que ajuda a aliviar a desaceleração econômica. No entanto, a desvalorização da moeda, que estimulou as exportações como uma maneira de enfrentar a crise em vários mercados emergentes no passado, pode não funcionar tão bem desta vez devido à recessão global atual, particularmente nas nações ricas, segundo Izquierdo.

Resposta de política econômica adequada - A resposta de política econômica adequada dependerá da natureza e da extensão da crise. Crises financeiras globais sistêmicas provocam uma redução intensa nos fluxos de capital para as nações de mercados emergentes que pode durar apenas alguns meses – como foi o caso na crise Tequila em 1994 – ou vários anos, como na crise russa, em que os fluxos de capital levaram cinco anos para voltar aos níveis normais.

Quanto mais tempo os fluxos de capital demorarem para retornar a seus níveis históricos para a região, maior é a chance de que uma crise de liquidez transforme-se em um problema de solvência para o país, alerta o estudo.

“Há uma boa chance de que o acesso a financiamento permaneça caro para mercados emergentes, particularmente em termos dos preços das exportações, e pode até mesmo permanecer fechado para alguns países por um tempo significativo”, disse Izquierdo. “Como resultado, os governos terão que equilibrar com muito cuidado suas políticas fiscais potencialmente expansionistas com suas necessidades de financiamento atuais e futuras.”

. *Estimativas do BID com base em dados oficiais sobre fluxos de entrada de capital, balança comercial e reservas internacionais para Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México, Peru e Venezuela. Estes países representam 93% do PIB da América Latina.

Poupança - Quanto maior a poupança acumulada por um país, mais agressivo ele pode ser em sua política fiscal, segundo o estudo. Os países que têm a flexibilidade necessária para implementar tais políticas são os que resistiram à tentação de se acomodar aos ventos favoráveis e elaboraram políticas que levaram em conta os ciclos da economia internacional, os preços das commodities e os mercados financeiros mundiais.

Algumas nações da América Latina serão forçadas a cortar gastos diante da crise atual por causa de poupança insuficiente, disse Izquierdo. Para outros, a política mais viável será manter o nível atual de gastos governamentais, mas apenas alguns poucos, como o Chile, estão em posição de aumentar os gastos, afirmou ele.

A maior parte das nações da região acumulou muito pouca poupança durante os cinco anos de alta dos preços das commodities, que se encerraram no ano passado, de acordo com um estudo de 2008 do BID com o título de “Nem tudo que brilha é necessariamente our avaliação do desempenho macroeconômico recente da América Latina.”

Uma média simples das sete maiores economias da região – Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México, Peru e Venezuela – mostra que elas gastaram 77% da receita extra proveniente da bonança das commodities desde 2002. O Chile, em comparação, que depositou em um fundo especial uma parte considerável da receita tributária aumentada, gastou apenas 34% dela, de acordo com o estudo de 2008.

O papel das multilaterais - O maior perigo da crise atual é que a América Latina e o Caribe ainda podem sofrer muito com uma crise financeira sistêmica mesmo tendo melhorado sua capacidade de reação, disse Izquierdo.

Os países precisam usar os anos de expansão para estabelecer a base para melhorar suas condições econômicas, o que lhes permitirá implementar políticas anticíclicas durante tempos ruins, concluiu o estudo.

Nações com poupanças insuficientes terão que utilizar uma combinação de políticas durante a crise: controlar os gastos e encontrar outras fontes de financiamento, como aumentar os empréstimos de agências multilaterais para suavizar o impacto da crise, na medida em que permaneçam sustentáveis, disse Izquierdo.

Para as multilaterais, a crise atual oferece a oportunidade para uma abordagem diferente em comparação com as opções de políticas adotadas durante a crise russa.

A visão dominante em 1998 era de que as nações emergentes precisavam tranquilizar os credores quanto à solvência de sua economia. Como resultado, os países emergentes no mundo inteiro viram-se diante da exigência de cortar gastos e elevar as taxas de juros, o que aprofundou a recessão.

O estudo do BID sugere que as multilaterais devem levar em conta as condições iniciais de cada país antes de apoiar um determinado tipo de política. Países com boas condições iniciais não precisam adotar políticas de ajuste drásticas para sinalizar credibilidade. O sistema multilateral pode ajudar os governos aumentando suas reservas de moeda estrangeira e proporcionando financiamento a governos com uma posição fiscal sustentável, de acordo com o estudo.

Exemplos de respostas bem-sucedidas - Ainda assim, mesmo condições iniciais desfavoráveis não selam o destino, disse Izquierdo: O Peru, por exemplo, tinha uma economia fortemente dolarizada antes de ser atingido pela crise financeira de 1998, o que o tornava um país muito vulnerável a choques externos que levassem a desvalorizações da moeda. No entanto, as autoridades conseguiram criar um grande colchão de reservas estrangeiras para fornecer financiamento em dólares aos bancos durante a crise e evitar grandes desvalorizações da moeda. Isso foi fundamental para a sobrevivência da economia e fez do Peru um caso bem-sucedido de gestão da crise.

O Brasil é outro exemplo. Em 2002, o país enfrentou uma redução drástica das linhas de crédito para o comércio devido à incerteza dos investidores quanto ao resultado das eleições presidenciais no país naquele ano. O Banco Central usou suas reservas internacionais e realizou leilões de dólares direcionados nos mercados à vista para proporcionar financiamento em moeda forte aos exportadores, aliviando a contração de crédito para um setor que é vital para a economia. O auxílio ao setor de exportações ajudou a trazer dólares para o país, amenizando a escassez de moeda decorrente de uma redução dos fluxos de capital estrangeiro.

“Não existe uma fórmula única para lidar com a crise atual”, disse Cavallo. “Embora as condições iniciais muitas vezes não sejam ideais nos países da região, eles podem ampliar seu espaço de manobra por meio de políticas adequadas e do apoio do sistema multilateral.”

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