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28/02/2009 - 08:59

Agora é a safrinha

Situação Mundial - Apesar da crise que não sai dos noticiários, principalmente por causa do seu efeito sobre o emprego e sobre as atividades bancárias, aparentemente existe uma convergência com relação aos preços de algumas commodities. Os do petróleo têm se situado ao redor dos US$ 45 a US$ 50 por barril e os do milho entre US$ 3,50 e US$ 4 por bushel. Uma discrepância está representada pelo preço da soja, que tem apresentado alto grau de flutuação. No caso do milho, o padrão de preços tem seguido o verificado entre meados de novembro de 2006 e início de dezembro de 2007, quando os preços do cereal iniciaram sua escalada. Como o crescimento violento dos preços do milho no primeiro semestre de 2008 no mercado internacional foi, em parte, provocado pelo aumento do preço do petróleo, a sua relativa estabilização pode indicar tempos mais calmos no mercado de milho.

Com a redução recente do preço do petróleo, que reduziu a viabilidade dos empreendimentos voltados para a produção de álcool a partir do milho (atingindo, inclusive, o setor de produção de álcool de cana-de-açúcar no Brasil) e com os efeitos da crise sobre a renda dos americanos (que conduziu à uma redução no consumo de combustíveis automotores), a pressão exercida pela atividade de produção de etanol nos EUA tem se acomodado e as perspectivas de crescimento se mostram mais moderadas, embora a quantidade a ser utilizada neste ano ainda seja cerca de 19% superior à utilizada no ano passado.

Com relação à situação nos Estados Unidos, as informações realmente relevantes dizem respeito à próxima safra e qual será a reação dos agricultores com respeito a estes tempos difíceis. As primeiras projeções do Departamento de Agricultura serão distribuídas no final de fevereiro, durante o Agricultural Outlook Forum 2009. Embora ainda muito preliminares, serão o ponto de partida para análises de mercado da próxima safra americana.

Na Argentina, onde verificou-se uma forte redução na área plantada, os dados mais recentes sobre o efeito de uma das piores secas já ocorridas indicam uma colheita entre 12,5 e 13,8 milhões de toneladas, em comparação com um total de 22,3 milhões na safra passada (segundo estimativas da Bolsa de Cereais de Rosário, Argentina - www.bcr.com.ar). Com esta retração na produção, a Argentina, que exportou nos últimos dois anos uma quantidade ao redor de 15 milhões de toneladas, apresenta uma perspectiva de exportar apenas entre 5,2 (Bolsa de Cereais de Rosário) e 7 milhões de toneladas (Departamento de Agricultura dos EUA). Esta redução em um país que ocupa uma posição estratégica no mercado internacional de milho pode abrir uma possibilidade de escoamento do milho brasileiro.

Situação Interna - No Brasil, as exportações necessárias para escoar o excesso de produção continuaram apresentando bons resultados no mês de janeiro e repetiram valores registrados em meados de 2007, ano que foi possível a exportação de cerca de 10 milhões de toneladas. Preços baixos do milho no mercado interno e a manutenção do dólar em valores mais elevados do que os verificados no ano passado contribuíram para que estas exportações fossem possíveis. Estas exportações têm servido para reduzir o estoque de milho no mercado interno e vêm alterando as perspectivas para a comercialização ao longo do ano. A Conab revisou mais uma vez as expectativas de exportações para este ano para um total de 9 milhões de toneladas (frente a cerca de 6 milhões no ano passado).

As perdas na produção de milho na região Sul estão confirmadas e representam uma quebra de cerca de 26% em relação à quantidade colhida na safra de verão de 2007/08. Os prejuízos foram maiores no Paraná, com uma redução de aproximadamente 30% na produtividade média das lavouras do Estado. Como já havia ocorrido uma sensível redução na área plantada, a produção estadual foi reduzida em quase 40%. Esta queda grave, tendo em vista que o Paraná é também um dos maiores consumidores de milho no Brasil. As frustrações verificadas no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, embora significativas, não foram de tamanha magnitude (dados da Conab).

O problema de uma quebra na produção dos estados da região Sul está na sua posição de principal produtora na época da safra e também maior consumidora de milho no Brasil. No caso do Rio Grande do Sul, esta situação se complica em decorrência da distância dos polos de produção do Centro-Oeste. Em decorrência da situação climática na Argentina, as condições de abastecimento naquele Estado podem apresentar dificuldades. Nos outros estados, a maior redução de produção se verifica em Goiás (cerca de 20%), porém mais decorrente da menor área plantada do que de quebra nos rendimentos das lavouras.

Estas condições da safra ainda não impactaram de forma positiva os preços. Apenas no Rio Grande do Sul e Santa Catarina os preços apresentam alguma reação. No Paraná, apesar da perspectiva da quebra na produção, os preços ainda estão relativamente estáveis e, nos outros estados, menos afetados pela seca, os preços estão em queda, frente às previsões de uma safra local razoável (um acompanhamento semanal do preço do milho pode ser encontrado no site do CIMilho [www.cnpms.embrapa.br/cimilho].

Do lado da demanda por milho, a produção de carne de aves começa a dar sinais de ajuste nos últimos meses, segundo dados divulgados pelo portal Avisite. O alojamento de pintos de corte tem diminuído nos últimos meses, com perspectivas negativas para o consumo de milho ao longo do ano. Tudo passa a depender da normalização do mercado externo de carnes que irá ocorrer de forma gradual.

A próxima definição com relação ao milho está no desempenho das lavouras da safrinha. As possibilidades abertas com o aumento das exportações poderiam ter influenciado a decisão dos agricultores em aumentar a área plantada. Porém, embora os preços dos insumos tenham cedido no último mês, esta redução veio tarde demais, pois as lavouras da safrinha são implantadas com menores níveis de fertilizantes, à medida que o período mais adequado para o plantio se esgota. Informações preliminares indicam uma redução na área plantada, mas isto é uma definição que se delineará com maior firmeza no próximo mês.

. Por: João Carlos Garcia e Jason de Oliveira Duarte, pesquisadores da área de economia agrícola da Embrapa Milho e Sorgo/Por: Cmilho.

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