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04/03/2009 - 09:48

Mulher, conquistas e renúncias no século XXI

Entrevista com Magui Lins de Castro.

Para a executiva Magui Lins de Castro, especialista no recrutamento de profissionais de alto escalão, o segredo do sucesso reside na conquista do equilíbrio.

Com a aproximação do Dia Internacional da Mulher (8 de março), proliferam matérias, análises e artigos sobre a redefinição do papel feminino na sociedade moderna ocidental.

Algumas questões são recorrentes: ainda existe machismo no mercado de trabalho? Terá a emancipação feminina acarretado, para o homem, uma sensação de inadequação, um deslocamento social, uma profunda dificuldade para encontrar o seu próprio lugar? E será verdade que, para as brasileiras, a conquista de um marido ainda constitui um elemento central da existência, enquanto as européias são muito mais autossuficientes?

Também se fala, insistentemente, da angústia em tentar corresponder aos diversos papéis sociais – de esposa, mãe, profissional de sucesso, familiar amorosa, cidadã consciente –, que sobrecarregam a mulher e, não raro, a impedem de simplesmente viver.

É um pouco dessa problemática, capaz de inspirar desde filmes a teses de mestrado, que a executiva Magui Lins de Castro, sócia da empresa de headhunters CTPartners Brasil e ex-CEO de grandes multinacionais, aborda nesta entrevista.

. Equipe Ricardo Viveiros: De que maneira a executiva moderna sobressai no atual mercado de trabalho? Ela tem algum diferencial competitivo em relação aos colegas homens?

. Magui Lins de Castro: Em primeiro lugar, independente do sexo, executivo é executivo. É pago para trazer volume de negócios lucrativos para a empresa, preservando os valores da mesma. A mulher tem alguns aspectos que são inerentes à sua natureza: é mais intuitiva, escuta mais, pondera mais e sabe tocar vários projetos ao mesmo tempo, sem se perder em nenhum. Mas, ao mesmo tempo, quando ela chega a ser executiva, ter um alto posto, com certeza já ultrapassou diversas barreiras competitivas em relação aos homens. Mulher executiva não precisa ser masculina para se provar. Tem que ser competente. Dar resultado. Saber como manter o time junto, coeso. Ter habilidade para se comunicar com coerência e transparência. Mas, não se deve esquecer que essas qualidades são necessárias tanto nas mulheres quanto nos homens.

.Equipe RV: Você concorda com a frase: "O que conta é a competência, e a questão de gênero não é importante”?

.Magui: Sim, eu concordo 100%. Ao longo da minha carreira, contratei muita gente para desempenhar funções executivas e sempre olhei para a competência e não para o gênero. Porém, sou muito favorável a ter uma mescla 50% homens e 50% mulheres em qualquer organização. Energias masculinas e femininas se somam e se completam em uma empresa. Quando um departamento tende a ter mais mulheres ou homens, considero relevante, sim, fazer uma mão dura para trazer o sexo oposto. Mas isso só é feito quando há dois candidatos exatamente iguais em competência, e o critério de desempate pode estar relacionado à harmonia do conjunto.

.. Equipe RV: Quais são os principais desafios enfrentados hoje pelas mulheres que chegam aos degraus mais altos de suas profissões?

. Magui: Seu principal desafio reside nela mesma: a culpa. A culpa de não dar muita atenção aos filhos, ao marido, de não ser a esposa perfeita, de não corresponder plenamente a um certo padrão que sua mãe lhe ensinou. Chegar a um degrau alto na profissão exige muita dedicação, como tudo na vida. Se você quer ser um bom desportista, tem que treinar. Se quer ser uma boa bailarina, tem que treinar. Se quer ser um bom músico, tem que treinar. As coisas não são diferentes para quem almeja ser um bom executivo. O sucesso profissional exige estudos, para que haja entendimento do negócio, entendimento da empresa em que o executivo está inserido, entendimento acerca de seus concorrentes principais. Enfim, um executivo de sucesso tem que colocar as suas metas em primeiro plano. Dedicação é chave para se ter sucesso em qualquer profissão.

.. Equipe RV: Ainda acontece de muitas mulheres abrirem mão de uma carreira de sucesso para poderem se dedicar à vida pessoal?

Magui: Sim, isso é muito comum. Grande número de mulheres opta por se dedicar às suas vidas pessoais. Elas renunciam à ascensão profissional porque essa busca poderia requerer um tempo e uma energia que, a seu ver, são excessivos. Mas não vejo esse tipo de renúncia como algo negativo, pois trata-se de uma opção de vida, e, como tal, é perfeitamente válida. Acho importante ressaltar, no entanto, que muitas vezes as mulheres não vão mais longe em suas carreiras porque, definitivamente, não o querem, não veem isso como prioridade.

.Equipe RV: Escolhas pessoais, como a decisão de ter filhos, afetam a carreira? Em caso positivo, qual costuma ser a intensidade dessa infuência -- muita, pouca, razoável...?

. Magui: Na grande maioria das vezes, é inevitável que as decisões pessoais afetem o andamento da vida profissional. Mas o impacto dessa influência dependerá, principalmente, da forma com que a mulher lida com a nova realidade. Há aquelas que abrem mão de tudo quando decidem ter um filho, que passam a desempenhar o papel de mãe em tempo integral. Outras, no entanto, buscam caminhos para conciliar seus diferentes anseios, suas diversas expectativas. Conheço muitas que criaram um esquema doméstico eficiente, baseado no apoio da babá e das empregadas, todas de confiança. Desse modo, conseguiram manter o ritmo profissional sem que isso as impedisse de serem ótimas mães. Mais uma vez, estamos falando de opções de vida. Para as que chegaram aos altos postos, o esquema babá-empregada sempre funcionou bem e não chegou a prejudicar a carreira. Mas, como sabemos, em comparação com os homens, ainda são poucas as mulheres que atingem altos postos.

.. Equipe RV: Que atitudes as mulheres devem cultivar e quais elas devem evitar para, efetivamente, alcançarem o sucesso?

. Magui: Qualquer profissional, independentemente de ser homem ou mulher, deve cultivar o aprimoramento constante e buscar um ponto de equilíbrio que lhe permita equacionar corretamente a vida pessoal e o crescimento profissional. Não é produtivo focar demais em um só ponto, em uma só dimensão. Já o equilíbrio é a receita para o sucesso de qualquer ser humano.

.. Equipe RV: Você pode dar alguns exemplos?

. Magui: Homens que trabalham demais acabam, cedo ou tarde, se arrependendo de suas atitudes obsessivas em relação à carreira. É comum que eles deixem de ver os filhos crescerem, e que acabem repetindo o mesmo erro com os netos. Quando envelhecem, percebem que deixaram de ter um tempo de qualidade com as pessoas queridas, e sentem remorso por isso. O mesmo se aplica às mulheres que, por causa do trabalho, perdem a chance de vivenciar plenamente algumas experiências enriquecedoras. Quando a ficha cai, elas se arrependem, mas nem sempre dá tempo de consertar a situação. Por isso, qualquer executivo, por mais que esteja sobrecarregado no escritório, tem que aprender a deixar os problemas profissionais do lado de fora da porta assim que chega em casa. É melhor que ele não fale de trabalho, que aproveite a companhia das pessoas queridas. Em contrapartida, quando a pessoa está trabalhando, é bom que ela fique ligada ao que está fazendo naquele momento. Não tem cabimento ficar telefonando pra casa de 20 em 20 minutos, por exemplo. No final das contas, o que vemos mesmo é que as pessoas precisam ter bom senso. Isso é tudo!

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