Página Inicial
PORTAL MÍDIA KIT BOLETIM TV FATOR BRASIL PageRank
Busca: OK
CANAIS

07/03/2009 - 11:22

Sobre chororôs e desafios... mas bem sobre ossos

Onde será que moram aqueles ossos que crescem sem percebermos? Aqueles ossinhos que crescem e mudam o nosso olhar, mudam a forma como encaramos o mundo. Ossos que estruturam outras partes do corpo... um osso-coração, um osso-sentimento, um osso-saudade, um osso-vontade de abraço.

Quando as crianças voltam de férias, os professores sempre dizem: "Nossa, como você cresceu!". De fato, parece que as crianças escolhem as férias para crescerem seus ossos... os da perna, do braço... Mas é na escola que os ossos, aqueles que comentei no início deste texto, resolvem dar uma espichada!

Crescer não é fácil... às vezes, bem, quase sempre, dói.

Dói quando voltam das férias, feriados, ou de um final de semana gostoso junto à família, por exemplo. Dói tanto que choram! Um choro tão doído que dói no corpo dos pais e mães que têm de deixar seus filhos e filhas na escola. Então, depois que vão embora, essa dor continua... e as famílias começam a pensar em mil hipóteses para esse choro. Pensam se fizeram a escolha certa, se estão ausentes, se falta algo, se o professor cuida, se o filho ou a filha ainda gosta deles.

Percebo na cara dos familiares, dos mais velhos na escola até os mais novos, a insegurança quando a criança chora para entrar na escola. Já ela, que ficou na escola, encontra no colo de outro, no olhar de outro, no gesto de outro, algo que acalma esse crescer, esse caminho.

Para lidar com o choro, temos de nos desprender da idéia de sofrimento. Nem sempre sofremos quando choramos... Para as crianças, o choro pode significar muitas outras coisas.

Vejo alguns familiares se desesperarem quando a criança chora para entrar na escola. Qualquer educador espera que a criança, mais cedo ou mais tarde, mesmo a mais descolada da escola, vá chorar! Elas precisam elaborar frequentemente o que significa ir à escola, pois simboliza crescimento, portanto, desafio. Nem sempre as crianças estão a fim de encará-lo... Sabe o que fazem? Como expressam essa vontade? Chorando!

O choro não representa necessariamente algo que tenha acontecido, ou que não gosta daquela escola... O choro é a expressão possível de um montão de sentimentos que ainda não têm nome. Por isso, não adianta se desesperar! A criança quer escutar daqueles que ama que ela vai conseguir, que será difícil, mas vai superar seus desafios... E o melhor: que pode contar com outras pessoas para isso! Existe coisa mais tranqüilizadora para uma criança quando a mãe ou o pai a autoriza a se afetar por outro adulto? Quando os familiares dizem: "Você pode procurar o colo da professora, do professor..."?

Já presenciei muitas cenas de famílias que acabam induzindo a criança a contar uma história que explique o choro sem ao menos terem vivido aquilo. "Você está triste porque a mamãe está trabalhando demais? Porque a mamãe não te deu aquele brinquedo?"... A criança, sem saber que choro precisa ter explicação, diz que sim... para encerrar o assunto e ganhar logo de uma vez a atenção corporal do adulto.

O adulto precisa encorajar a criança. Precisa se mostrar seguro, precisa autorizar a criança a sentir o que sente, mas sem abrir mão do que está posto. Ir à escola, por exemplo, não dá para ser negociado. Insistir e jogar limpo: "Está difícil, mas você vai conseguir!".

Brinco sempre com as famílias que se crescer fosse um jogo de percurso, as regras desse jogo seriam: a cada um passo para frente, três para trás. Isso significa que, para crescer, a criança precisa checar o caminho percorrido para se sentir à vontade e segura para ir adiante. Andar para frente, seguir o caminho, significa olhar para trás e entender o que significou cada passo dado. Chorar não é regredir... é crescer! E crescer é ter espaço. Só cresce quem conquista espaços. E aqueles ossinhos que crescem sem percebermos bem são os que nos ajudam a conquistar esses espaços! São eles que nos sustentam, nos erguem, nos acomodam, e nos levam pelos caminhos que escolhemos percorrer.

. Por: Marcelo Cunha Bueno, educador e diretor da Escola Estilo de Aprender.

Enviar Imprimir


© Copyright 2006 - 2024 Fator Brasil. Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Tribeira