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11/03/2009 - 10:33

Aterrissando a economia no lago de Paranoá, ao estilo “rio Hudson”

O mercado brasileiro aprendeu que demanda internacional forte pressiona os preços no mercado doméstico. Aprendeu também que esses preços internacionais importam inflação externa, atingem o bolso de seu consumidor e corroem seu poder de compra. A solução mais rápida foi a de defasar o dólar, apreciando a moeda nacional. Assim, os preços ao consumidor, em reais, não cresceram. O consumo foi garantido.

De início, não houve do que reclamar. Empresas ineficientes foram excluídas da vida econômica, novos ganhos de produtividade foram estimulados e o sistema de preços se aperfeiçoou. Também é verdade que o câmbio baixo induziu à modernização do parque fabril nacional, mesmo que sem nenhuma obediência a qualquer política industrial. Houvesse uma política industrial para setores não produtores de commodities e teríamos , para essas importações, prazos de financiamentos mais longos, juros diferenciados e outros estímulos articulados a alguma política tecnológica.

A permanência dessas taxas cambiais por prazo maior, entretanto, desorganizou a produção industrial, destruiu sua estrutura, substituindo-a por encadeamentos produtivos de formação casual. Por outro lado, ao inibir a competitividade dos produtos industriais, as taxas de câmbio elevadas aumentaram a dependência das exportações brasileiras a um número cada vez menor de produtos e, sempre, de acanhado valor agregado.

A situação industrial agravou-se com a política de juros altos. No início, porque o custo do capital tornou-se proibitivo. Depois, porque passaram a atrair capitais especulativos que ampliaram a oferta de moeda estrangeira. À luz da política de câmbio flutuante, a apreciação da moeda nacional esteve justificada. E o excesso de liquidez, decorrente do influxo de capitais externos, justificou os juros altos como instrumento de combate à inflação que ameaçava recrudescer.

Essa dupla diabólica “juros altos e câmbio baixo” foi responsável pela estabilização da moeda, desde o primeiro dia de julho de 1994. Com a inflação contida, a reforma fiscal deixou de ser prioridade política, e a inflação passou a ser combatida apenas no plano monetário e cambial. Sem avanços na política fiscal, a indissociabilidade desse matrimônio respondeu, em boa parte, pela evolução medíocre do quadro industrial brasileiro, quando comparado a de outros países emergentes.

Éramos um país com oferta abundante de emprego, com crescimento da renda e do consumo. Esse último aditivado pela expansão agressiva do crédito. A população desempregada estava socorrida por programas assistenciais. No mercado de incluídos, a demanda é reprimida e, nela, a renda é igual ao consumo. A economia da inclusão dá sustentação ao discurso distributivista e reforça a tese do crescimento sustentável, via mercado interno. Crescimento que nos faz esquecer as galinhas, incapazes que são de alçar vôos mais longos.

De fato, as exportações perdiam competitividade no exterior, enquanto os produtos estrangeiros chegavam mais facilmente aos nossos mercados. Foi dessa dupla infernal, “câmbio baixo e juros altos”, que a popularidade do governo se alimentou. Está óbvio que os princípios da aerodinâmica não dariam sustentação a esse vôo. O que estarrece é que isso foi considerado como um “novo ciclo de crescimento sustentável” e admitido como uma política realmente distributivista, independentemente das enormes disfunções na estrutura tributária, da exacerbação da arrecadação e dos garrotes asfixiantes de suas alíquotas. Tudo para dar suporte ao custeio de um Estado aparelhado e aos seus desmandos fiscais.

Sobreveio a crise internacional. Desapareceu a liquidez mundial, os investimentos globais minguaram, o desemprego mundial se avultou, caíram a renda e a demanda em todo planeta. Preços em queda! A crise aportou no Brasil. Déficit na balança comercial, queda na produção industrial, desemprego generalizando-se. Uma aterrissagem forçada da economia e nada suave. Como aquela realizada no rio Hudson, só que, na versão nacional, em pleno Lago do Paranoá.

O Brasil acaba de achar uma combinação “juros com câmbio” mais razoável para dar conta das suas necessidades: “juros baixos e câmbio alto”. Essa nova solução precisará ser acompanhada de uma reforma fiscal profunda e de vários aperfeiçoamentos institucionais. Aí sim, será possível acreditar na existência de uma política distributivista e, em vôos longos, e em aterrissagens mais seguras. Enquanto isso, por favor, deixem nossas galinhas em paz.

. Por: Celso Cláudio de Hildebrand e Grisi, empresário, sócio do Instituto de Pesquisa Fractal Professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo.

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