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18/03/2009 - 10:45

Ausência de gestão para o uso racional marca mais um Dia Mundial da Água

É lamentável, mas não temos muito a comemorar. Pois existe sim um caos da gestão pública e privada no Brasil quanto ao uso racional da água que toda a sociedade urge discutir e se mobilizar. Dia 22 de março é considerado o Dia Mundial da Água desde 1993 pela ONU e o que o Brasil, como nação, tem feito a respeito? Com raríssimas exceções, a regra continua sendo o desperdício em todos os níveis, seja na esfera pública, seja na iniciativa privada, seja na falta de esclarecimento e cobrança por parte de todos nós consumidores.

Precisamos fazer algo e por incrível que pareça, a solução está mais ao nosso alcance do que pensa a maioria. O padrão internacional de desperdício no fornecimento de água, segundo índices revelados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD, é de 15%. No Brasil este índice é bem superior. De uma captação diária média de 260 litros por habitante nas principais metrópoles, simplesmente quase metade perde-se no caminho por rupturas na rede de abastecimento, vazamentos e desperdícios nos lares e nos edifícios comerciais.

Segundo o mais recente estudo do PNUD, 80 países que respondem por cerca de 40% da população mundial já sofrem com os efeitos da escassez de água. Nas próximas décadas a falta deste insumo básico atingirá 1,2 bilhão de pessoas na Ásia, 250 milhões na África e 81 milhões na América Latina. No topo da lista, com as maiores reservas hídricas do mundo está o Brasil, que dispõe de 12% do volume total de água doce do planeta. Mas o que a princípio seria motivo de orgulho, é bastante preocupante.

O que pode ser feito afinal? São várias as frentes. Em primeiro lugar, acordos de cooperação técnica para troca de experiências na gestão pública, aproveitando o know-how disponível na iniciativa privada, seria mandatório para garantir a sobrevivência do sistema. A Docol, por exemplo, que venceu a mais rigorosa concorrência técnica do planeta realizada em Cingapura em 2003 para ser fornecedor de metais sanitários economizadores automáticos de água, disponibiliza a gestores públicos um passo a passo técnico, além de um modelo de minuta jurídica para implementar uma legislação municipal reguladora e mais eficiente. Esta é uma ação que beneficia toda a cadeia do setor da construção civil. Mas realmente são poucos os líderes e gestores públicos que se interessam pela causa.

Pasmem, mas até hoje - pelo menos até onde se sabe com os dados públicos disponíveis, apenas 13 cidades em todos os milhares de municípios brasileiros possuem legislação específica para o uso racional da água em obras públicas e privadas não residenciais. São elas, por ordem cronológica de criação da lei: Florianópolis - SC (1974), Joinville - SC (1997), Campo Grande - MS (1999), Aracajú - SE (2000), Distrito Federal (2000), Blumenau - SC (2002), Indaiatuba - SP (2002), Curitiba - PR (2003), Maringá - PR (2003) - São Paulo - SP (2005), Campinas - SP (2006), Taubaté - SP (2006) e Porto Alegre - RS (2008).

Achou pouco? Agora, o que é mais grave: destas cidades, apenas Campo Grande tem lei regulamentada na prática, aprovada pela Câmara de Vereadores e implementada pela Prefeitura, o que teoricamente garante a vigência, exige a capacitação técnica dos fornecedores e orienta os técnicos do setor para aprovação de novas obras e adaptação das antigas. Ou seja, não basta ter a lei; é preciso disposição e vigilância da gestão para torná-la realidade. São Paulo capital dá um bom benchmarking aos interessados, com o trabalho desenvolvido pela companhia de águas, a Sabesp, através do Programa de Uso Racional da Água - PURA.

O raciocínio adotado é pragmático: quanto menos água for consumida, menor a necessidade de investimento na ampliação do sistema, principalmente para os bairros, e mais recursos para a qualificação da manutenção. Da mesma forma, quanto maior a higiene proporcionada pela instalação de metais sanitários economizadores sem necessidade de toque das mãos, menor a propagação de doenças em prédios públicos e comerciais, hospitais e consultórios médicos, reduzindo o custo com saúde pública.

A economia que se consegue no processo de uso racional da água é sempre surpreendente: em média 50% de redução de consumo, com retorno do investimento de imediato a nove meses. Como referência, podemos citar a própria experiência da Docol em cases de combate ao desperdício de água em milhares de escolas estaduais e diversas organizações públicas, como Universidade de São Paulo (USP), Hospital Albert Einstein, Instituto de Pesquisa Tecnológica, Edifício Sede da Sabesp, Lar Batista de Crianças e Santa Casa Maceió. O valor da economia conquistada em apenas um ano, somente na USP, ultrapassa a marca de R$ 14 milhões, o que equivale a uma economia de 550 mil m³ de água. Isto seria suficiente para bancar o consumo de água de aproximadamente 15 mil pessoas carentes durante 1 ano.

Tudo isso sem falar na conscientização do consumidor final, por meio de campanhas educativas de esclarecimento à sociedade que poderiam ser feitas em conjunto, setorialmente ou em parcerias público-privadas. Enfim, temos muitas oportunidades de mobilização pela frente, o que falta historicamente à nação brasileira é vontade política e falta de vivência em articulação social. Esta, entre outras questões estruturais prioritárias do desenvolvimento nacional, não podem mais continuar sendo adiadas, sobretudo considerando que estamos vivendo o início de renovadas gestões municipais.

. Por:Ingo Doubrawa, empresário.

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