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18/03/2009 - 10:49

Tradutor ou traidor

A péssima interpretação do encontro Lula – Obama.

Os dois presidentes, no que diz respeito ao seu entendimento imediato e rápido diálogo "traduzido", não se deram conta imediatamente da verdadeira "burrada" a que tinham sido submetidos. Acredito inclusive, que nem o público americano percebeu a grande falha, como também comeu mosca o tele-espectador brasileiro. Para o leitor interessado, vou contar dentro de instantes o que sucedeu, antes mesmo que o fato acabe por tornar-se público, quando os dois lados se derem conta da horrível falha. Mas antes, tenho que explicar um aspecto técnico, cuja falha, felizmente, passou despercebida dos dois lados naquele instante, mas, acredito, só naquele instante..

O que é ser bom intérprete - A função normal de um intérprete, consiste em ouvir um pequeno trecho do que diz um lado, depois interrompe-o e a seguir oferece a tradução para a outra parte em seu respectivo idioma. Esse é o método costumeiro e é geralmente o que a grande maioria dos intérpretes profissionais executa. Existe, entretanto, uma outra casta de profissionais que realizam um trabalho muito mais aprimorado, muito mais eficiente, sobretudo para aqueles oradores e público que não querem sofrer tempo perdido, esperando que uma tradução seja feita, muitas vezes imperfeita e lenta. Geralmente, também, tais traduções, que são chamadas de simultâneas, são feitas em locais em que o intérprete se acha isolado numa cabine, onde ouve com um fone de ouvido o orador e retransmite instantaneamente por outro microfone, que público escuta sentado em suas cadeiras. A propósito, essa foi minha função como intérprete de conferências do Departamento de Estado norte-americano, que realizei não só nos Estados Unidos, como servindo o governo americano em numerosos paises nos idiomas inglês, espanhol, português, francês e italiano nos últimos 40 anos.

Uma característica primordial exibida por esse tipo de intérprete simultâneo, é que ele trabalha para grandes grupos e para organizações importantes, em que conferências na Casa Branca ou no Departamento de Estado servem como modelo. Tais profissionais passam por rigorosos testes de qualificação, pois a despeito de serem conhecidos como "um mal necessário", são figuras de importantíssimo valor, como o leitor bem compreenderá.

A repetida espantos falha na Casa Branca - Pois bem, o que sucedeu na Casa Branca com a recente visita do presidente Luis Inácio da Silva ao Presidente Obama foi uma das maiores falhas que tenho visto em todos os meus 40- anos de experiência. Tudo causado por 3 causas principais, a saber :

1 - A péssima qualidade dos intérpretes. Para dizer a verdade, me obriga a ficar aqui imaginando onde foram encontradas pessoas tão desqualificadas para a função. Sentado em minha cadeira em casa e ouvindo o que ocorreu, estou absolutamente convencido de que o Departamento de Estado não foi contatado para fornecer seus hábeis profissionais. Não consigo imaginar, por outro lado, como poderiam esses intérpretes ter sido admitidos na Casa Branca.

2 - Não foram providenciados microfones para os presentes, como tampouco havia uma espécie de confusão entre os três intérpretes.

3 - Totalmente desqualificados, os intérpretes ( que preferivelmente deveriam ter sido trazidos do Brasil) além de traduzirem na base consecutiva - um estorvo para tais casos - não tinham conhecimento, aparentemente, do idioma inglês. pois ficaram embanandos em vários momentos com palavras "lulistas"' que não sabiam como traduzir para o inglês. E como não podia deixar de acontecer, o pior logo chegou, quando ó presidente do Brasil, usando uma expressão popular como é seu estilo, disse para o empertigado presidente Obama : "O PRESIDENTE OBAMA TEM UM PEPINO NÃO MÃO," etc,etc,etc...

O intérprete do momento, que não sabia a palavra exata para traduzir a expressão de um presidente bem humorado, teria dito qualquer coisa como " o presidente Obama tem certas dificuldades", ao que, sem perceber a coisa, o ´presidente Obama respondeu inocentemente com um sorriso maroto : " Minha esposa bem sabe disso ". Ora, muita gente dentro da Casa Branca teria deixado passar a coisa, não fosse a rara coincidência que ao responder ao presidente brasileiro e citando sua própria esposa, logo veio a mente de todos que "pepino", no caso, tinha um caráter erótico, sexual, havendo então uma risada geral de todos os presentes . Pessoalmente não tenho dúvidas que o Sr. Obama, que realiza um governo sob forte pressão social e racial porque é negro, poderá, muito bem, dar-se conta de que, por um erro de tradução, ele se viu em situação embaraçosa. E certamente não ficará com boas lembranças dessa reunião com o presidente do Brasil.

Nota: para quem tivesse interesse em conhecer a melhor forma de tradução, a correta interpretação deveria ter sido: THE PRESIDENTE HAS A LEMON IN HIS HAND ( O presidente tem "um limão" nas mãos, que quer dizer o mesmo que um "abacaxi" ou um "pepino" embora, cá entre nós, não seja uma expressão que um presidente do Brasil deveria usar numa reunião dessa importância, sem também esquecer-se do perigo que corria com uma interpretação equivocada. Contudo, simpático como só ele sabe ser, vamos esperar que o Presidente Lula se saia bem dessa. Só que deve levar seu próprio intérprete.

. Por: Mario Giudicelli - BRASIL e USA - Nascido no Brasil, o Jornalista Mário Giudicelli é Mestre em Sociobiologia (a ciência que estuda as formas de comportamento de todos os seres vivos, inclusive das plantas) - Universidade de Connecticut, 1973. Trabalhou por mais de 20 anos na Drug Enforcement Administration, a Agência Federal dos Estados Unidos de Controle e Policiamento de Drogas. Funcionário da Casa Branca,durante 12 anos, foi tradutor simultâneo dos Presidentes George Bush (pai) e Ronald Reagan. Entrevistou inúmeras celebridades como os artistas Kirk Douglas, Clint Eastwood, John Wayne, o diretor Alfred Hitchcock, a atriz Jane Fonda, Janeth Leigh do filme "Psicose",Edson Arantes do Nascimento, o Pele ,Garrincha, Henry Mancini e vários outros; o Presidente Arthur da Costa e Silva, o Presidente Juscelino Kubistchek"Atual Presidente de Cuba, Raul Castro", inúmeros deputados, senadores, jornalistas, cientistas de vários países da América Latina; o General Perón (em 1947), Che Guevara, Fidel Castro, Jânio Quadros, Ludwig Erhart da Alemanha Ocidental, Gamal Abdel Nasser, Presidente do Egito, de quem foi tradutor simultâneo durante cinco anos. Foi locutor da Rádio do Cairo ( entre 1957 e 1962 ) e da Voz da América ( entre 1973 e 1974). Tornou-se amigo do cientista alemão Werner Von Braun com quem gravou uma das mais interessantes entrevistas sobre o destino da humanidade (a entrevista com o Dr, Von Braun está disponível para quem desejar uma cópia ). Giudicelli foi correspondente de guerra no Terceiro Exército do General George Patton, entre dezembro de 1945 e maio de 1946; foi correspondente no Tribunal de Guerra em Nuremberg, durante um ano e meio, sendo o único jornalista, ainda vivo, que esteve presente em todo o julgamento dos criminosos nazistas.

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