Use a força de sua vontade

Não confunda vontade com força de vontade. São próximas, mas não são iguais. Vontade é um anseio, uma aspiração, que pode ser impulsionada tanto por uma carência quanto por um desejo. Saiba que sua força de vontade é determinada pela razão ou motivação que estão por trás dessa vontade. Mas, qualquer que seja o impulso inicial (carência ou desejo), nada acontece se você ficar somente na vontade. A escolha depende da vontade, mas a decisão depende da força de vontade.

Força de vontade é o poder de tomar a decisão e colocá-la em prática. É um processo que se desenvolve em algumas etapas. Veja se as reconhece.

Vamos a uma hipótese, para dar um exemplo claro do que se trata. Você acaba de perceber que a desatenção é um dos comportamentos sabotadores do seu desempenho. Primeiramente, você toma a decisão de ser uma pessoa mais atenciosa. Ou seja, fará tudo o que for possível para desenvolver a virtude da atenção.

A segunda etapa é aprender o que fazer e o que não fazer para praticar essa virtude. Isso depende de uma alteração em sua forma de pensar, de sentir e de agir. E acontece quando você se livra da pecha de criatura e assume o seu lado criador. Você desconsidera todos aqueles argumentos que sabotam a sua atenção, mesmo que pareçam razoavelmente convincentes. Você recusa o batido “é assim que as coisas funcionam” e acredita – de verdade! – que pode lidar de outra maneira com situações que levam à desatenção. Essa etapa implica uma tomada de posição: você anula os mecanismos de defesa que justificam seu comportamento habitual. Essa etapa lhe permitirá ter uma nova perspectiva das situações, porque vai olhar para cada uma delas de outra maneira.

Na terceira etapa, você começa a agir, com base na sua vontade. Está poderá estar baseada no preenchimento de uma carência (a riqueza que falta – foco na escassez) ou na satisfação de um desejo (a riqueza que farta – foco na abundância). Perceba que, dependendo da vontade, a intenção se altera. E a intenção aumenta a sua força da sua vontade.

Na quarta etapa, você continua firme no seu propósito e na sua decisão de mudar. A sua vontade transformou-se em desejo. O seu desejo é a sua preferência e é também a sua exigência. Não se trata da preferência ou da exigência de outra pessoa, mas da sua, legítima e única. Mas viver essa experiência requer disciplina. É um pré-requisito imprescindível.

Na quinta etapa, poderá haver uma recaída. Afinal, você está lutando contra a sua criatura, que insiste em sobreviver e manter o controle; trata de livrar-se de um comportamento arraigado, que tem a força do hábito como sólida aliada, em troca de desenvolver uma virtude. Você reaviva o seu desejo, revê a forma como aplicou a disciplina e se obriga a pôr em prática a sua decisão com determinação, por mais difícil que seja e por mais recaídas que tenha.

A sexta etapa poderá ser uma nova recaída. Mas você levanta e anda, novamente. E quantas vezes forem necessárias. Se lhe parece um cenário de luta sucessiva, a imagem é bastante correta. É uma batalha. Mas das boas!

Como pode ver, a força de vontade vai além da vontade. Não é simplesmente uma escolha. É um processo que se inicia na decisão e avança até a realização. Essa decisão será mais potente, se inspirada mais em um desejo do que em uma carência. A realização será mais ampla, se respaldada em conhecimento e método. Disciplina é a palavra-chave para ambos os aspectos.

Sempre que esmorecer, lembre-se dos ganhos, que são muitos: a sensação de força, a autonomia diante do seu trabalho e da sua vida e a alegria diante das suas conquistas. Mudar não é fácil, mas é tudo, quando o que você deixa para trás conceitos e práticas tão ultrapassadas que não fazem o menor sentido diante dos desafios que tem de enfrentar. Claro, se o que pretende é seguir adiante. Com vigor!

. Por Roberto Adami Tranjan, autor do livro “Rico de Verdade” pela Editora Gente.