Página Inicial
PORTAL MÍDIA KIT BOLETIM TV FATOR BRASIL PageRank
Busca: OK
CANAIS

26/03/2009 - 11:48

Estresse, violência e depressão

O economista Jaques Attale fez uma previsão ainda em 1996: “No século XXI predominarão dois tipos especiais de violência: a econômica e a política. A violência econômica será responsável pelo estresse no trabalho. A violência política será responsável pela destruição dos laços humanos mais elementares como a família. Ruína econômica e desnível social serão responsáveis pela violência urbana e terrorismo”. Alguém dúvida de que ele acertou na mosca? A questão é que muita gente ainda não percebeu como a violência no trabalho, a crise, a falta de dinheiro e o medo de perder o emprego estão diretamente relacionados a problemas no nosso organismo.

Quando você é exposto a uma situação de perigo, seu organismo apresenta uma série de reações para se defender. Entre estas alterações existem as hormonais – aumento da adrenalina, cortisol, entre outros – que visam dar condições de luta ao indivíduo. Porém, isto deveria ser passageiro. Mas quando a sensação de perigo é crônica, quando o medo não cessa, essas alterações perpetuam e criam alterações físicas como hipertensão, nervosismo, irritabilidade e falta de atenção, entre outras. Estas alterações na química do corpo alteram circuitos celebrais que deflagram a depressão e casos de estresse pós-trauma. Diante de um perigo, o corpo fica preparado para se defender. Após a passagem do perigo deve voltar à normalidade. Quando isso não acontece as sensações geram alterações crônicas que podem levar a outras doenças.

A depressão é uma doença séria que tira o prazer de viver, gera mal estar físico, psíquico e dificulta relações sociais e familiares. Interfere ainda no desempenho profissional, no aprendizado, na vida sexual e interfere em todas as áreas da vida do indivíduo. Ela é uma das grandes causas de incapacidade profissional, o que causa afastamento do trabalho e aposentadoria precoce.

O estresse pós-trauma é outra doença que deve ser vista com atenção. Desorganiza todo o sistema psíquico. Então é preciso saber que, se os problemas estão aí, se a violência urbana e a crise econômica fazem parte do nosso dia-a-dia, temos que reagir. É necessário que se crie maneiras de proteção. Algumas medidas simples podem auxiliar no não aparecimento das doenças. Manter o ambiente de trabalho saudável é o primeiro passo. Avaliar até que ponto há respeito e cooperação, evitar críticas em excesso e competição abusiva, além do assédio moral. Manter contato estreito com amigos e vida social. Realizar atividades esportivas -- caminhar é fácil, basta um tênis. Manter vida familiar harmoniosa. E, por fim, ter uma alimentação saudável rica em peixes, que têm Ômega 3 e protege seu cérebro, semente de abóbora e vegetais verdes escuros. De forma resumida: seja carinhoso com o seu corpo.

Há também a possibilidade de você aprender a se proteger. Vale a pena participar de grupos psicoeducacionais, nos quais aprenderá o que são e como lidar com essas doenças e fatores estressores. Discuta com seus pares no trabalho se o ambiente é de fato nutritivo ou tóxico. Há técnicas para mexer com isso. Procure um psiquiatra se os sintomas estiverem interferindo e prejudicando o seu dia-a-dia.

Não deixe de assumir sua parcela de responsabilidade no momento que vivemos e, principalmente, não aceite ser tachado de doente metal e ficar afastado do convívio social e do grupo de trabalho. A doença mental é doença como qualquer outra. E como tal deve ser tratada. Não aceite estigmas. Vá à luta.

. Por Beatriz Araújo de Castro Rangel, médica psiquiatra e psicoterapeuta com residência médica no Departamento de Neuropsiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Cursou psicologia aplicada na Universidade de Montreal, Canadá, e tem formação em Análise Transacional.

Enviar Imprimir


© Copyright 2006 - 2024 Fator Brasil. Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Tribeira