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27/03/2009 - 09:51

Marguerite Duras: Escrever imagens

A CAIXA Cultural Rio apresenta, de 14 a 26 de abril, a mostra Marguerite Duras: Escrever Imagens, a mais completa filmografia da escritora e diretora francesa Marguerite Duras (1914 a 1996). O evento, com curadoria e organização editorial de Maurício Ayer, propõe ao público uma experiência intensa e singular do olhar e do ouvir.

A mostra vai exibir 15 filmes escritos e dirigidos por Duras, a maioria inédita no Brasil, realizar debates e uma sessão do clássico Hiroxima meu amor, roteirizado por Duras e dirigido por Alain Resnais - que este ano completa 50 anos de seu lançamento. Após a exibição, haverá um debate com Ismail Xavier, especialmente sobre o filme.

"O público que acompanhar a mostra poderá se dar conta de como a cada filme Duras realizava uma proeza de invenção. Com recursos técnicos mínimos, ela foi capaz de ir sempre mais longe no trabalho com a dramaturgia na ideia de seus filmes e pisou onde ninguém tinha estado antes”. “Quem imaginaria um filme como O caminhão, em que vemos a diretora e o ator lendo um roteiro, transformando a leitura no seu evento central, e que consegue – além de romper toda fronteira entre ficção e documentário – criar toda uma atmosfera ritualística que faz da obra uma experiência absolutamente singular?", cita o curador Mauricio Ayer.

A mostra Marguerite Duras: Escrever imagens foi aprovada pelo edital 2008 da CAIXA Cultural e é parte do quadro de atividades do “Ano da França no Brasil” que começa em abril. Após a temporada no Rio de Janeiro, o Consulado Geral da França no Brasil promoverá a itinerância de sete dos filmes desta mostra pelas capitais de Salvador, Porto Alegre, Belo Horizonte e São Paulo.

A obra - Muita gente não sabe que a francesa Marguerite Duras - autora de O amante, O deslumbramento, Uma barragem contra o Pacífico e Moderato Cantábile, falecida em 1996 - também “escrevia” suas histórias com câmera e microfones. A autora realizou filmes durante as décadas de 60, 70 e 80 que representam, ainda hoje, passados mais de 30 ou 40 anos, realizações de grande ousadia e inventividade de linguagem.

Em 1980, em número duplo totalmente dedicado a Duras dos Cahiers du Cinéma, ela define o cinema que faz: é um "outro cinema", não aquele que "conta seus espectadores aos quilos", em que as pessoas vão para perder-se, para esquecer do mundo lá fora e ser engolidas pelo filme; seu cinema é feito com a participação do espectador, que precisa então estar totalmente presente – em corpo e espírito – para criar o filme junto com a autora.

É um cinema que inventa uma relação totalmente nova entre o "áudio" e o "visual". Sons e imagens não apenas se confirmam numa narrativa, mas criam situações de disjunção, com relações inusitadas cujo sentido cabe ao espectador solucionar. Por exemplo, em India Song – com Delphine Seyrig (O ano passado em Marienbad) e Michael Lonsdale –, há personagens que são apenas vozes, que assistem ao filme como nós, apaixonam-se pelas histórias das personagens em cena, mas que não são jamais vistas; também não são vozes narrativas, que contam ou ajudam a contar a história, elas nublam a história como um canto misterioso e sensual. Quem são essas vozes? Onde elas estão? Não sabemos. Somos apenas maravilhados por elas, enquanto as imagens e os diálogos nos colocam diante de uma história de um amor louco, em meio ao horror de uma Índia assolada pela lepra, pela miséria e pela fome, em algum momento entre as duas guerras mundiais.

Outras obras primas incluídas na programação são: Nathalie Granger, filme de estreia de Gérard Depardieu em longas metragens, com Jeanne Moreau e Lucia Bosè, que investiga a violência silenciosa e o tempo feminino no interior de uma casa; O Caminhão, em que Marguerite Duras documenta o momento único em que Depardieu lê e discute pela primeira vez com a autora o roteiro de um filme que jamais será filmado – além da montagem musical em forma de "tema e variações", o filme provoca uma reflexão aguda sobre o fazer cinematográfico, suas narrativas e imagens possíveis, e põe em curto circuito a dicotomia ficção-documentário; As mãos negativas, um curta metragem extremamente potente por sua fotografia (uma Paris filmada quase sem luz, no alvorecer, em que um azul negro toma conta das ruas apenas perfurado pelo vermelho dos semáforos), poesia (uma linda leitura poética de Duras sobre o amor e a abertura entre os seres humanos a partir de pinturas rupestres de mãos gravadas sobre as paredes de cavernas no sul da França) e música (a crueza de um violino solo em notas longas, que costura a imagem à voz).

As imagens de Duras são de intensa beleza fotográfica, e investigam os espaços como num documentário. No áudio, a presença marcante de vozes, da voz de Marguerite com sua entonação precisa e pausada. Isso fica bem evidente em filmes como Aurélia Steiner Melbourne – em que a fala de uma menina judia que sobreviveu aos campos de concentração se sobrepõe a imagens do movimento lento das águas e das pontes, dos barcos e do entorno do rio Sena, em Paris; ou como Césarée, em que as imagens são como ensaios fotográficos de estátuas no jardim das Tuilerias, diante do palácio do Louvre, em Paris, enquanto ouvimos a história de um imperador romano que sacrifica, por razões de Estado, seu amor por uma rainha judia.

Como diz a pesquisadora de cinema Stella Senra no catálogo da mostra: "desde Hiroshima meu amor (1959), a autora investiga no cinema aquilo que é impossível ver. Na cena inicial, a atriz francesa, que está em Hiroshima gravando "um filme sobre a paz" e vive uma noite de amor com um arquiteto japonês, afirma que "viu tudo" sobre Hiroshima; e o seu amante responde que ela "nada viu": todas as fotos, reconstituições, desenhos, objetos conservados após a destruição pela bomba, nada disso permite ver o verdadeiro horror da bomba. As imagens reduzem: só a palavra restitui a cada um a possibilidade de imaginar e viver aquilo que, na realidade, é impossível ver. E é, paradoxalmente, com o que não se pode ver que Duras faz o seu cinema”.

Marguerite Duras - Escritora e cineasta francesa. Nasceu em 04 de Abril de 1914, na Indochina, actual Vietname, com o nome de Marguerite Donnadieu. Faleceu em 03 de Novembro de 1996, em Paris. Passou a infância na Indochina e aos 17 anos mudou-se para França, onde estudou Direito e Ciências Políticas na Universidade da Sorbonne, em Paris. Licenciou-se em 1935. Entretanto, adotou o nome Duras, inspirada no nome de uma vila do departamento francês de Lot-et-Garonne onde se situava a casa de seu pai. Em 1942, lançou o seu primeiro romance, Les Impudents. Após o final da guerra trabalhou como jornalista na revista Observateur e continuou a escrever, tendo alcançado o reconhecimento da sua obra com três romances lançados entre 1950 e 1955: Une Barrage Contre le Pacifique (Uma Barragem Contra O Pacífico), Le Marin de Gibraltar (O Marinheiro de Gibraltar) e Le Square (O Jardim).

Em 1958, lançou Moderato Cantabile, no qual abandonou os temas mais tradicionais por assuntos como o desejo sexual, o amor, a morte e a memória. Em 1959, escreveu o argumento do filme Hiroshima Mon Amour (Hiroxima Meu Amor), realizado por Alain Resnais, e viria a ser nomeada para um Oscar da Academia de Hollywood. Na década de 70, escreveu e realizou diversos filmes, como Camion, com Gerard Depardieu. Entre algumas de suas obras estão O Amante, A Dor, O Amante da China do Norte e O Deslumbramento. Em 1984, regressou às grandes obras literárias com L'Amant (O Amante), romance semi-autobiográfico sobre a sua juventude na Indochina. Em 1985, lançou uma colectânea de contos, La Douleur (A Dor), inspirada na situação que viveu no pós-guerra. Morreu os 81 anos de idade de câncer e foi sepultada no cemitério de Montparnasse.

Maurício Ayer - O curador da retrospectiva, Maurício Ayer, é doutor em Literatura Francesa pela Universidade de São Paulo e Universidade de Paris 8, com tese sobre as conexões entre literatura, teatro, cinema e música na obra de Marguerite Duras. É professor no curso de Música da Faculdade Santa Marcelina e também atua como roteirista, tradutor e compositor.

Mostra Cinematográfica: Marguerite Duras: Escrever imagens, de 14 a 26 de abril de 2009, na Caixa Cultural RJ – Cinemas 1 e 2, Av. Almirante Barroso, 25, Centro - Rio de Janeiro. Temporada: Ingressos para os filmes: R$ 4,00 (inteira), R$ 2,00 (meia) e R$ 6,00 (passaporte para 08 sessões). Toda renda arrecadada será destinada para o programa Fome Zero.Sessões: Confira a programação abaixo.Classificação indicativa: 16 anos. Acesso para portadores de necessidades especiais. Programação da Caixa Cultural: www.caixa.gov.br/caixacultural. | Patrocínio: Caixa Econômica Federal | Curadoria: Maurício Ayer. Realização: Klaxon Cultura Audiovisual (Rafael Sampaio, telefone (21) 2544-4080/7666.

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