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01/04/2009 - 10:42

Cao Guimarães, Paulo Whitaker e o Grivo na galeria Nara Roesler

A exposição de Cao Guimarães (Belo Horizonte, 1965) ocupa o piso térreo da galeria com duas séries de fotos e um vídeo. O vídeo Memória (2008) e as dez fotografais de Campo Cego (2008) revelam mais uma vez o olhar viajante do artista. Essa série fotográfica, produzida em colaboração com Carolina Cordeiro, reúne placas de estrada cobertas espontaneamente por barro e poeira que impossibilitam a sua leitura. Nestes recortes de paisagens que compõem as imagens de Campo Cego, o artista evoca os códigos do homem sob a interferência da ação da natureza e do tempo, tecendo a poética da ausência. “Um conflito é retratado, no qual o deslocamento moderno, com seu discurso auto-afirmativo de progresso, é massacrado, exposto em sua efemeralidade e fragilidade, pelo poder avassalador da natureza”, escreve Michael Asbury em seu texto sobre a exposição.

O vídeo Memória, também exposto na mostra, une o presente, passado e futuro na imagem em movimento capturada através do pára-brisa de um carro que percorre uma estrada na Grécia. A paisagem aparece em ambas as direções, visto que o enquadramento engloba tanto a visão do que está à frente do carro quanto a imagem refletida no espelho retrovisor. O filme foi gravado em plano-sequência, sem cortes, de forma que exibe um retrato do tempo que passa nessa locomoção no espaço.

O vídeo assemelha-se a um registro turístico pessoal, no entanto, como observa Asbury, está em exibição pública, em uma galeria, e se intitula Memória.“Talvez possamos especular que este trabalho é o resultado da reflexão do artista sobre a colisão das duas memórias, a coletiva e a pessoal: um ensaio visual, como é frequentemente o caso de Cao Guimarães, sobre o estranhamento que se encontra no ordinário, literalmente uma reflexão do passado sobre o presente, uma pura imagem abstrata do passado, livre de idealismo e nostalgia”, analisa.

A outra sala da galeria acolhe a série de fotografias, Espantalho (2009), com uma trilha sonora sourround especialmente composta pelo grupo O Grivo para as imagens. A memória também aparece como tema implícito nesse trabalho composto de 13 fotografias, a memória daqueles que fizeram os espantalhos, objetos cômicos ou grotescos que carregam uma aparente personalidade, reflexos de quem os fez. As ausências de seus feitores ficam presentes em suas imagens e, segundo Asbury, são de fato incorporadas pelos próprios espantalhos que, vestindo suas roupas tornam-se espectros daqueles que os produziram.

Paralelamente à exposição, o MIS – Museu da Imagem e do Som vai apresentar uma série de curtas-metragens de Cao Guimarães, do dia 4 a 16 de abril, às quintas, a partir das 20h, e aos sábados, das 15h às 17h (Avenida Europa, 158, Jardim Europa, São Paulo - SP, Brasil. CEP 01449-000 /Telefone: 55 11 2117 4777 www.mis-sp.org.br). No dia 18 de abril, acontecerá, na Galeria Nara Roesler, o lançamento do livro Gambiarras, do artista, quando será projetado o vídeo Mestres e Gambiarras.

Já Paulo Whitaker (São Paulo 1958), presente no segundo piso da galeria, retorna a composições mais simples, que revelam nas sete pinturas expostas o processo de construção da tela, depois de ter trabalhado com sobreposições complexas e cores claras. “A arte é uma troca de signos na qual aquilo que já me é conhecido me ajuda a ler a pintura, enquanto a própria pintura transforma-se em signo que reconhecerei no mundo”, diz Whitaker. Essa relação da arte com o universo dos signos aparece no método que o artista emprega em suas pinturas: moldes recortados em tela são aplicados a um fundo vazio. Cada molde é uma dessas formas que reaparece nas pinturas de Whitaker, formas sempre difíceis de nomear que, depois de um tempo, misteriosamente, começam a aparecer no mundo real, no caule de uma planta, num padrão de serralheria artística, em possíveis insetos nunca antes vistos. Esse processo, usando os mesmos moldes, acontece em várias telas, pintadas ao mesmo tempo. Em cada aplicação do molde o resultado é diferente, dependendo do estágio de secagem da camada inferior e das sobreposições de moldes. Na produção mais recente, o pintor limita o número de moldes a 3 ou 4 por tela, incentivando o espectador a mergulhar em seu mundo de formas misteriosas.

Nessa exposição, Paulo Whitaker também experimenta a composição em compartimentos, em telas grandes, como se guardasse em diferentes retângulos as formas que repetirá, aglomeradas, nas telas de menor dimensão. As cores não são fáceis, não querem ser sedutoras, e o preto domina. Qualquer outro tom aparece como entorno das formas escuras. “A tela compartimentalizada funciona, assim, como arquitetura, casa e abrigo de elementos de um vocabulário misterioso”, conclui Paula Braga.

No pátio da galeria o duo O Grivo, formado por Nelson Soares e Marcos Moreira, apresenta cerca de 25 esculturas sonoras presas às paredes. Um piano de brinquedo posicionado no meio do espaço estará conectado a essas esculturas. Os visitantes da exposição, ao tocarem uma tecla do piano, acionarão uma escultura. Várias teclas do piano tocadas ao mesmo tempo ativarão várias esculturas, criando uma polifonia.

O Grivo, criado em 1990, recentemente apresentou suas incríveis máquinas sonoras na 28a Bienal Internacional de São Paulo (2008). A dupla também participou, com Valeska Soares, da Bienal de Sharjah (Emirados Árabes Unidos, março de 2009) e há alguns anos tem trabalhado com Cao Guimarães, sonorizando seus filmes e instalações de fotografias.

Exposições: Cao Guimarães, Paulo Whitaker e O Grivo, de 3 até 16 de maio de 2009 - de segunda a sexta, das 10h às 19h; sábado, das 11h às 15h. 4 a 16 de abril – Curtas de Cao Guimarães no MIS – Museu da Imagem e do Som, às quintas, 20h, e aos sábados, das 15h às 17h | 18 de abril, sábado, às 11h: lançamento livro Gambiarra de Cao Guimarães, na Galeria Nara Roesler, Av. Europa, 655 – São Paulo. Tel: (11) 3063-2344 Fax: (11) 3088-0593. Site: www.nararoesler.com.br / E-mail: [email protected]

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