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03/04/2009 - 10:26

À espera da safrinha

Situação Mundial

Os preços das commodities no mercado internacional continuam seu trajeto na direção de sua principal função, qual seja: refletir as condições do mercado, ao invés de se constituir em objeto de especulação e de jogos financeiros. Os preços do petróleo têm se situado nos últimos quatro meses ao redor dos US$ 40-50 por barril (eventualmente e por breves períodos ultrapassando estes limites) e os do milho entre US$ 3,50 e US$ 4,00 por bushel no mesmo período. Alguns produtos ainda não mostram este padrão, como é o caso do preço da soja, que ainda têm apresentado alto grau de flutuação. No mercado do milho, dois aspectos são marcantes: o seu descolamento do preço do petróleo, a partir do último trimestre de 2008; e o também descolamento do preço do etanol com relação ao preço do petróleo a partir desta mesma época, o que indica que as políticas internas nos Estados Unidos de mistura compulsória do álcool na gasolina (meta de 10% nos próximos anos) e de substituição de aditivos como o MTBE por etanol têm sido capazes de sustentar o seu preço. Como o etanol é hoje um importante fator na formação dos preços do milho nos EUA, a sustentação de seus preços significa também um piso para os preços de milho nos EUA, com reflexos no mercado internacional.

A este respeito, durante a recente visita do presidente Lula aos Estados Unidos, não se verificaram sinais de redução da taxa imposta ao álcool importado do Brasil, o que deixa claro o componente de segurança nacional no caso do etanol nos Estados Unidos. Não faz sentido substituir um produto importado (o petróleo) por outro também importado (o álcool) neste ponto de vista. Mesmo com todos os problemas financeiros recentes da indústria de produção de etanol nos EUA, no último relatório do Departamento de Agricultura a quantidade de milho direcionada para produção de álcool teve um leve incremento em relação às estimativas de meses anteriores.

A primeira estimativa de intenção de plantio para a próxima safra nos EUA foi liberada na dia 31 de março e indica uma pequena redução de 1% na área a ser plantada com milho (entretanto, ainda a terceira maior área com este cereal na história) e incremento na área com soja.

Na Argentina, vem se confirmando as consequências de uma das piores secas que ocorreram no país. Uma colheita entre 12,5 e 13,5 milhões de toneladas de milho é cada vez mais provável, em comparação com um total de 22,3 milhões na safra passada (segundo estimativas da Bolsa de Cereais de Rosário, Argentina - www.bcr.com.ar). Com esta retração na produção, a Argentina, que exportou nos últimos dois anos uma quantidade ao redor de 15 milhões de toneladas, apresenta uma perspectiva de exportar apenas cerca de 5,2 milhões (Bolsa de Cereais de Rosário). Deste total, somente estão autorizadas pelo governo (vigora na Argentina um sistema de autorização de exportações pelo governo federal) 4,57 milhões de toneladas. Como é esperada uma redução nas exportações dos Estados Unidos, esta redução em um país que é chave no mercado internacional de milho pode abrir uma possibilidade de escoamento do milho brasileiro.

Situação Interna - No Brasil, as exportações necessárias para escoar o excesso de milho estocado continuaram apresentando bons resultados nos meses de janeiro e fevereiro. Os preços baixos do milho no mercado interno e a manutenção do dólar em valores mais elevados do que os verificados no ano passado contribuíram para que estas exportações fossem possíveis. Estas exportações têm servido para reduzir o estoque de milho no mercado interno e vem alterando as perspectivas para a comercialização ao longo do ano. A Conab, entretanto, revisou para baixo em relação a um mês anterior as expectativas de exportações para este ano, passando para um total de 8 milhões de toneladas (frente a cerca de 6 milhões no ano passado).

As perdas na produção de milho na safra de verão estão confirmadas e representam uma quebra de cerca de 17% em relação à quantidade colhida na safra de verão de 2007/08. Os prejuízos foram maiores no Paraná, com uma redução de cerca de 3,7 milhões de toneladas na produção, seguidos pelas reduções no Rio Grande do Sul (cerca de 900 mil toneladas) e em Goiás (cerca de 800 mil toneladas). Estas reduções tiveram causas distintas, envolvendo retrações maiores na área plantada do que na produtividade em Goiás, tanto em área como no rendimento no Paraná e principalmente no rendimento no Rio Grande do Sul.

Estas quebras ainda não afetaram os preços recebidos pelos agricultores, que têm se mostrado em queda apesar da quebra na colheita. Isto se deve ao fato da colheita estar em andamento, o que aumenta a disponibilidade de produto no mercado (um acompanhamento semanal do preço do milho pode ser encontrado no site do CIMilho:www.cnpms.embrapa.br/cimilho.

Do lado da demanda por milho, a produção de carne de aves começa a dar sinais de ajuste nos últimos meses. O alojamento de pintos de corte tem diminuído nos últimos meses, com perspectivas negativas para o consumo de milho ao longo do ano. Tudo passa a depender da normalização do mercado externo de carnes, que irá ocorrer de forma gradual.

A próxima definição com relação ao milho está nos resultados da safrinha. Dados preliminares da Conab indicam uma pequena redução na área plantada e o clima tem sido favorável. Embora os preços dos insumos tenham cedido nos últimos meses, esta redução veio tarde demais, pois as lavouras da safrinha foram implantadas com menores níveis de fertilizantes à medida em que o período mais adequado para o plantio se esgotou.

. Por: João Carlos Garcia e Jason de Oliveira Duarte, Pesquisadores da área de economia agrícola da Embrapa Milho e Sorgo./CMilho

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