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27/03/2007 - 08:38

Quem salvará nossos filhos?

O caso da estudante Ana Paula Sousa, que ganhou todos os veículos de imprensa nas últimas semanas e que deixou atônita grande parte da sociedade, traz à tona uma dúvida comum em situações como essa: por que uma menina de 21 anos, vinda de uma família de alta sociedade, e que sempre teve o carinho dos pais, envolveu-se com uma quadrilha de assaltantes em pelo menos 11 assaltos nos últimos seis meses?

As razões que levaram Ana Paula a invadir casas e estabelecimentos com arma em punho para realizar roubos ao lado do namorado e de mais dois companheiros podem ser tantas e tão diversas que não dá para apontar apenas uma. Mas não podemos desconsiderar a ausência de valores éticos, de funcionalidade familiar e a falta de limites como hipóteses para o que aconteceu com Ana Paula. Também não se pode justificar o comportamento de alguém pela influência de suas más companhias. É preciso assumir a responsabilidade por suas ações e sofrer as conseqüências de suas escolhas.

Outro fator, absolutamente agravante no caso de Ana Paula, é o uso de drogas. Junto com seu namorado e amigos, a jovem costumava usar o seu apartamento para partilhar o uso de entorpecentes, maconha e cocaína, como ela mesma confessou à polícia. Dos jovens que se envolvem com o crime, a maior parte é também usuária de drogas. O namorado de Ana Paula era dependente e trabalhava para o tráfico para sustentar seu vício. Este jovem, pelo que soubemos, já foi internado para desintoxicação e tratamento, mas não conseguiu ficar sóbrio e estava recaído, usando drogas de novo.

Penso muito nos pais desses jovens que, cheios de medo e de culpa, não param de se perguntar: - Onde errei? O que fiz para estar tudo tão atrapalhado assim? Por que com a minha filha, que sempre teve tudo? Por que com o meu filho? Essas são as perguntas freqüentes dos pais de jovens envolvidos com o álcool e outras drogas.

Os pais que chegam aos grupos de Amor-Exigente, onde procuram ajuda, sentem-se culpados, envergonhados e assustados, certos de que falharam em sua mais séria e importante missão: educar, formar, mostrar o rumo certo para seus filhos. Com certeza todos falhamos muitas vezes na educação de nossos filhos, principalmente quando somos facilitadores, dando-lhes liberdade demais e acompanhando suas vidas de menos. Mas somos apenas pessoas e não nos tornamos perfeitos ao nos tornarmos pais. Fizemos o melhor que pudemos. Não sabíamos ou não podíamos fazer diferente.

Assistimos a um sofrimento muito grande de mães e pais que perdem seus filhos para as drogas e que, sem conseguir resgatá-los, perdem, também, seu casamento, a saúde, a fé e a alegria de viver. E, além disso, a sociedade vem nos dizer que a culpa pela situação de seus filhos é nossa.(?) Será que não somos todos vitimas de uma cultura que não tem valores de integridade ética e moral, nem exerce uma cidadania consciente, responsável e muito menos cultiva o bem, a justiça e o respeito ao próximo?

Nós que trabalhamos para ajudar pessoas que passam por esses problemas há 22 anos buscamos sensibilizar nosso país, nossas cidades, nossas comunidades e mostrar que sozinhos estamos perdidos, que a verdadeira prevenção de problemas, como as drogas e outros desafios familiares, deve ter uma base comunitária. Deve ser um processo aberto com a participação de todos, com um único objetivo que é dar condições para que nossas crianças e jovens, nossas famílias e comunidades sejam saudáveis e tenham segurança.

Sabemos, por experiência e vivência nos grupos de apoio, que morrer de medo e cruzar os braços só ajuda para que as coisas permaneçam como estão. A inércia, a omissão de cada um de nós é o mais grave e irremediável de todos os erros.

Os pais não podem ser culpados pelas atitudes de seus filhos. Mas somos sim responsáveis. Nosso amor sem comodismo, sem egoísmo pode resgatá-los, trazê-los de volta para, juntos, redesenharmos o que queremos ser, restabelecermos nossos limites, reorganizarmos normas e regras estruturando, assim uma nova família, uma nova qualidade de vida. Nunca desistir de ensiná-los que a família é o núcleo principal dos valores como respeito e amor a si mesmo e ao próximo.

Essa continua sendo a melhor forma de salvar nossos filhos das drogas e do crime. E isso só depende de nós, depende de todos nós.

.Por: Mara Sílvia Carvalho de Menezes, presidente da Febrae - Federação Brasileira de Amor-Exigente, que congrega a rede de grupos de apoio a pais na prevenção e no tratamento de problemas familiares espalhados por todo o Brasil.

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