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14/04/2009 - 11:41

Contraditória tática defensiva

O encontro dos presidentes Barack Obama e Luiz Inácio Lula da Silva, em Washington, nos Estados Unidos, em 14 de março, foi bastante otimista sob o ponto de vista da diplomacia, em especial no tocante à possibilidade de retomar o diálogo no âmbito da Rodada Doha. Também pareceu relevante a disposição dos dois chefes de Estado quanto à elaboração de propostas conjuntas do Brasil e dos Estados Unidos por ocasião da cúpula do G-20, agendada para o início de abril.

Do discurso oficial característico desses encontros de autoridades e do diálogo refinado dos diplomatas à realidade do comércio internacional há, porém, imensa distância. A verdade é que entre as economias das duas nações, embora seja excelente a relação política historicamente mantida por ambas, existem profundas divergências: os subsídios agrícolas concedidos aos produtores de “Tio Sam”, as taxações ao etanol brasileiro e uma série de medidas comerciais que Washington classifica de protecionistas, em especial no tocante a bens manufaturados. E, por mais cordialidade e boa vontade observadas nesse primeiro encontro pessoal de Lula e Obama, não se pode esquecer que o Partido Democrata é mais protecionista do que o Republicano.

De todo modo, é importante a aproximação dos dois chefes de Estado, que representam os maiores países e economia das Américas. A questão é que, em paralelo à diplomacia e às negociações relativas às divergências no comércio, o Brasil precisa fazer suas próprias lições de casa, como as políticas públicas mais proativas de outros países emergentes. De nada adianta apenas criticar o protecionismo norte-americano e europeu, se não adotarmos, no plano interno, soluções adequadas para ampliar a competitividade internacional de nossa economia e nossas empresas. Essa omissão ante ações que só dependem de nós é uma imensa contradição.

Exemplo desses desencontros é o juro no Brasil, que, apesar da redução de 1,5 ponto percentual em março, continua sendo o mais alto do mundo e ainda agravado pelo exagerado spread bancário. Também pagamos impostos mais elevados do que se observa na grande maioria dos países, temos encargos trabalhistas que não se vê em lugar algum e custos altíssimos atrelados à burocracia exacerbada para abrir e manter uma empresa. Como se não bastasse, enfrentamos problemas e fragilidades na política comercial brasileira. Se quisermos nos consolidar como grande economia exportadora e ser ouvidos como interlocutores de peso na Rodada Doha, não podemos pensar e agir de maneira pequena. No entanto, o governo jamais pensou em adotar medidas efetivas de real estímulo às vendas externas, como fazem Coréia do Sul e China, dentre outras nações.

Imaginem se houvesse mais estímulo e melhores condições internas quanto à redução do chamado custo Brasil. Alimentos, etanol, minerais, produtos semimanufaturados, commodities e bens de alta tecnologia são alguns dos itens de nossa pauta de exportações com imenso potencial, grandes mercados e resultados já bastante positivos em termos de exportações. Seria essencial estimular o seu comércio externo, por exemplo, com sua desoneração tributária, em especial neste período de adversidade econômica. Tal medida iria somar-se à desvalorização de nossa moeda provocada pela crise como fator importante para tornar mais atrativo o valor FOB dos produtos brasileiros. Para empresas como a Dimep — produtora de software e equipamentos de alta tecnologia para controle de ponto e acesso — que vendem no mercado interno e também exportam, seria importante a redução de impostos, dos juros e dos encargos trabalhistas em percentuais compatíveis com a competitividade amplificada de um mundo em crise, no qual o fator preço tem peso multiplicado.

Outro dia, o presidente Lula disse ser inadmissível que a Seleção Brasileira, contando com os melhores jogadores do futebol mundial, jogue na retranca. Pois bem, a manutenção dos juros mais altos do Planeta, a falta de ousadia no diferimento tributário e a timidez na adoção de medidas mais criativas e efetivas contra a crise constituem postura análoga à tática defensiva. Mereciam soluções mais inteligentes empresários que, a despeito dos problemas internos, vêm conseguindo produzir superávits recordes na balança comercial.

. Por: Dimas de Melo Pimenta II, economista, é presidente da Dimep e diretor do Departamento Sindical (Desin) da Fiesp.

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