Caça às bruxas

Acho a Polícia Federal uma das organizações mais respeitadas e que está cumprindo com o seu dever de investigar todo indício de corrupção que possa estar envolvendo qualquer pessoa, seja ela ligada ao governo, ou não. Desse modo, gostaria também de ler periodicamente o resultado do grande trabalho deste órgão, investigado, provado, julgado e com os envolvidos recebendo todas as punições que a lei determinar.

Mas, de um tempo para cá, vejo que o conceito e a imagem da Polícia Federal começam a ficar desgastados em razão dos inúmeros escândalos que o próprio órgão vem levantando. A grande maioria deles não dá em nada, os envolvidos acabam se safando por falta de provas, ou seja, é um abafa daqui, abafa dali, e a opinião pública fica sem uma satisfação sobre o que de fato aconteceu, seja por artimanhas jurídicas ou mesmo por interesse de alguns poderosos, principalmente partidos políticos, que se utilizam sempre destes fatos como estratégias mercadológicas com fins eleitoreiros.

Sempre surge algo que possa vir a denegrir alguém, sobretudo se este for rico e poderoso e que, de certa forma, seja ligado a alguma facção política da oposição. Às vezes também aparece um acontecimento que venha a denegrir alguém das bases do governo, mas estes são esquecidos e apagados rapidamente, pois afinal o povo tem memória curta e um novo escândalo que irá surgir tomará o lugar do anterior. Já tivemos várias personalidades envolvidas nesses episódios, alguns perderam seus cargos, mas continuam sempre muito próximos do poder. Outros perderam dinheiro, mas seguem muito bem, obrigado! Só para citar e ativar a memória, tivemos nos últimos dias os escândalos da casa do Lago, do Castelo em Minas, da Daslu e, o mais atual, envolvendo a Construtora Camargo Corrêa, como se esta fosse a única empreiteira a se utilizar de mecanismos, sejam eles doações, empregos e favores prestados a quem decide no poder.

Penso que, se a Polícia Federal estiver cumprindo com a sua missão — e espero que esteja — seria muito melhor para a mesma que todo o seu trabalho fosse divulgado só após estar concluído. Isso evitaria o desgaste do seu conceito e imagem, não exporia prováveis inocentes e sua missão não estaria a serviço de poderosos que fazem da mesma plataforma de seus interesses, sempre escusos, para atingirem e permanecerem no poder.

. Por: Sylvia Romano, advogada trabalhista, responsável pelo Sylvia Romano Consultores Associados, em São Paulo. E-mail: [email protected] .