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23/04/2009 - 11:20

As grandes máscaras do desemprego em tempos de um presidente sindicalista

Em dezembro, foi noticiado que uma grande empresa demitiu 1.300 funcionários. Rendeu até telefonema de nosso presidente. Depois, em janeiro, foram 744 funcionários demitidos por uma multinacional instalada no Brasil. Recentemente, mais 4.000 desempregados e novos telefonemas de nosso presidente, tentando que as ações fossem revistas, depois do fato estar consumado. Mas o que acontece, na verdade, é que esses números são muito maiores, porém a hipocrisia reina no mundo empresarial, poupando as ações das grandes companhias que estão nas bolsas de valores do mundo, em prol do sistema financeiro.

No mundo dos negócios, a terceirização cresceu vertiginosamente em todos os setores desde 1997, quando esta prática começou fortemente a se propagar. Contratos entre empresas terceiras são firmados constantemente, sendo que, hoje, principalmente nas grandes empresas, muitas vezes há maior número de funcionários terceirizados do que funcionários próprios. O que estamos assistindo nos bastidores, é que as grandes empresas têm rescindido contratos com seus “parceiros”, sem o menor constrangimento e escrúpulo, poupando sair na mídia como empresa que demite. Os números são assustadores, chegando às dezenas de milhares. Numa época em que deveria ocorrer o contrário: as empresas buscarem se ajudar, sentando a uma mesa como faziam no tempo de vacas gordas, trazendo soluções. O pânico fez com que o profissionalismo desaparecesse, bastando a uma das partes comunicar, via fax, a rescisão contratual, como se o terceirizado não fizesse parte da empresa, de sua cultura e soluções, com longos anos de dedicação. “Salve-se quem puder”, foi o bordão. E assim temos os milhares de desempregados que foram anunciados e os que não o foram.

Esta prática tem ocorrido diariamente no mercado. É mais barato rescindir contratos de prestação de serviços terceirizados, e a empresa é poupada nos noticiários. O ônus é do terceiro que tem suas previsões e cláusulas de rescisão em contrato. Porém, as empresas terceirizadas, por serem menores, não apresentam o mesmo apoio e pacote de benefícios que uma empresa grande pode dar ao demitido. Esse é o pessoal que mais sofre, pois não tem como buscar outros empregos nesta época, já que trabalha geralmente em setores específicos ou de baixo salário. Com a pequena verba de rescisão, mal conseguirá sobreviver nos próximos três meses, mesmo com a ajuda do auxílio desemprego, diferentemente dos demitidos das grandes companhias, que saem em situação melhor, geralmente com bônus mais robusto.

Esta prática, que parece beneficiar a grande empresa num primeiro momento, é contestada. A corporação troca os prestadores de serviço especializados, por funcionários de sua própria empresa que, geralmente, não sabem realizar os serviços por hora contratados, por não terem sido capacitados ao longo dos anos. Os prejuízos produtivos são imensuráveis. Quando o mercado aquecer, as empresas sentirão este problema, pois o prestador antigo pode ter quebrado na crise ou mudado de ramo de negócio, pois na grande maioria são empreendedores que não ficam parados. Ou há aquele prestador que decidiu não trabalhar mais com o segmento ou não ser mais “parceiro” da empresa que o deixou na mão. Numa situação dessas, os custos tendem a subir muito na recontratação, pois os prestadores vão buscar as perdas obtidas ao longo de largos contratos. A opção é buscar novas formas de contratação de serviços e produtos, mudando procedimentos e inovando para manter ou até mesmo baixar o custo de produção. Isto é possível.

O pior de todo este cenário é ver que nosso Presidente deveria conhecer esta situação, pois já esteve em defesa dos funcionários no chão de fábrica. Só parece não conhecer a prática de terceirização porque não estava lá quando ocorreu a implantação desse procedimento de contratação no mercado. Parece não saber defender esse batalhão de desempregados, que têm sindicatos fracos e não são reconhecidos numa época tão forte de desemprego. Empresas quebram, impostos deixam de ser pagos, demitidos não têm opções, negócios deixam de ser gerados, o governo não toma ações rápidas e não enxerga a gravíssima situação, procrastinando uma reforma tributária e trabalhista fundamental neste momento. Assim, só vale o que está acima do tapete, o que se pode enxergar, enquanto pilhas de cadáveres vão crescendo até formarem montanhas. Aí, sim, serão vistas e ações importantes começarão a ser tardiamente tomadas.

. Por Miguel Pardo Jr. Diretor de Desenvolvimento e Aquisições da Hilub, empresa especializada em gestão de abastecimento e lubrificação industrial

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